Trabalhadores acampam contra as 500 demissões na Mercedes

Num ambiente familiar, com crianças e mulheres, cerca de 300 trabalhadores e trabalhadoras desde segunda-feira se revezam em três turnos no acampamento em protesto contra 500 demissões na Mercedes Benz, em São Bernardo do Campo. Nessa quinta-feira (11), na praça em frente a planta na região do ABC, várias entidades, colegas de outras empresas e famílias dos demitidos se solidarizaram com a causa. O objetivo do acampamento é chamar a atenção pública, pressionar a fábrica e o governo para que revejam as demissões e voltem a estimular a economia e a produção.

O secretário-geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Sérgio Nobre, esteve nesta manhã no acampamento e prestou a sua solidariedade com os demitidos e alertou que a luta é de todos, pois se não tiver mudanças da economia brasileira pode gerar mais desempregos. “A luta não pode ser somente de vocês, é uma luta de todos os trabalhadores brasileiros.  A CUT luta todos os dias para que mudem os rumos da economia, pois nós temos que retomar o processo de crescimento que vivemos nos últimos anos”, finaliza Sérgio.

Nos últimos meses foram anunciadas pelo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, medidas de ajuste fiscal que penaliza a vida do trabalhador, que segundo o ministro são ações para que a economia volte a crescer, já que temos notícias de que este ano o Produto Interno Bruto (PIB) fechará negativo.

O diretor de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), Valter Sanches, está preocupado, pois mais de 170 mil metalúrgicos já perderam seus empregos, no ABC. Só neste ano, foram 4mil. “O governo fez um choque fiscal que despencou a economia, a produção industrial está um desastre, tirou todos os subsídios, desonerações, aumentou impostos, aumentou energia elétrica e derrubou a economia. Se era necessário, não vamos nem entrar neste mérito. Agora quem não pode pagar a conta são os trabalhadores”, afirmou Sanches.

Já não é de hoje a luta por emprego dos trabalhadores na Mercedes Bens na região metropolitana de São Paulo, a maior planta da Daimler fora da Alemanha. Desde de Julho de 2014 o SMABC vem negociando a vida destes trabalhadores, que já passaram por layoff, suspensão do contrato de trabalho, pelo Programa de Demissões Voluntárias (PDV) e até algumas demissões que foram revertidas depois de uma greve de 5 dias. Desde o mês passado várias ações estão sendo feitas para mostrar pra sociedade o que está acontecendo com os trabalhadores.

Segundo o presidente do SMABC, Rafael Marques, a estratégia é mostrar para a empresa que o caminho é outro. “A Mercedes tem negócios indo muito bem lá fora. Em 2011 e 2012, a Alemanha estava em dificuldades e a produção aqui estava bombando”, explicou. “As remessas de lucro daqui foram para a matriz. O tratamento não pode ser diferente quando é o Brasil que está em dificuldade”, prosseguiu. “Agora é a resistência dos trabalhadores para fazer a empresa enxergar que existem alternativas. A posição do Sindicato é frontalmente contrária às demissões”, defendeu. 

A montadora na Mercedes, uma das demitidas, Gildete da Silva Torres, diz que vai resistir até ter seu emprego de volta. “Sem emprego a gente não é nada. Sou deficiente, trabalho na Mercedes já faz 15 anos e eu não acho justo jogar eu fora deste jeito. Sempre trabalhei direito, sempre cumpri com meu horário. Eu tenho esperança de recuperar meu emprego, assim como todos nós que estamos aqui. A esperança é a última que morre. A gente tem que confiar em Deus e lutar, pois sem luta não temos nada”, finaliza ela.

Segundo o coordenador da Comissão Sindical de Empresas (CSE), Max Pinho, a luta só para quando os objetivos forem cumpridos. “Só iremos cessar quando a empresa abrir as negociações e reverterem as demissões. Só sairemos daqui quando todos os trabalhadores tiverem seus empregos de volta”, finaliza ele.

O SMABC já apresentou duas propostas para evitar as demissões em momentos de crise, o Programa de Proteção ao Emprego (PPE) e o Plano Nacional de Renovação de Frota.

A renovação de frota ainda está sendo debatida entre vários setores, mas o PPE já está nas mãos do Joaquim Levy e só falta anunciar. A medida não é o suficiente para assegurar os empregos, mas é mais uma ferramenta para que a economia e o desemprego não despenquem. 

Fonte: FUP