José Maria Rangel foi eleito pelos trabalhadores para o Conselho de Administração da Petrobrás. É também diretor da FUP e coordenador do Sindipetro Norte Fluminense
Relatório da Comissão da Verdade, que investigou crimes da Ditadura Civil-Militar Brasileira entre 1964 e 1985, divulgado nesta semana, mostrou que não apenas instalações militares foram utilizadas para interrogar, sob tortura, presos políticos considerados “subversivos”. Campus de Universidades Federais, como um da Rural do Rio de Janeiro, em Seropédica, e a Cidade Universitária do Recife, e bases da Petrobras, como a Reduc (Refinaria Duque de Caxias) e a Refinaria de Mataripe (BA), também foram usados para esta finalidade.
Se não chega a surpreender, em razão dos conhecidos e ilimitados métodos e tentáculos da ditadura, a revelação não deixa de reforçar a compreensão do que ocorreu naquele momento histórico e, principalmente, chamar a atenção para o quanto ainda são latentes as tentações autoritárias no País.
Como registrou matéria de O Globo de ontem, três generais acompanharam, na sala de entrevista, a divulgação do relatório da Comissão da Verdade. Um deles chegou a se manifestar, para afirmar que a Comissão deveria investigar os casos de tortura que ainda existem, sugerindo haver uma retaliação específica contra os militares daquele período.
É importante que a Petrobrás e as Unversidades citadas se posicionem sobre o caso. O que se espera destas instituições, naturalmente, é que demarquem uma total distinção de momento histórico, e que se coloquem à disposição para franquear as suas instalações, arquivos e documentos no sentido de contribuir no aprofundamento das investigações.
No Norte Fluminense, muito particularmente, a sociedade também espera a elucidação de grave denúncia de que os fornos de uma usina de açúcar em Campos dos Goytacazes, a Usina Cambaíba, onde atualmente há um acampamento do MST, também teriam sido utilizados pelos órgãos de repressão da ditadura – no caso específico, os fornos industriais teriam sido utilizados para queimar corpos de pelo menos 12 militantes políticos, entre eles Luiz Maranhão, que dá nome ao acampamento.
Uma investigação sobre o Caso Cambaíba está em curso no Ministério Público Federal, iniciadas após a publicação do livro “Memórias de uma Guerra Suja”, com depoimento do ex-delegado do Dops, Claudio Guerra. O Ministério Público Estadual, estranhamente, não encontrou razões para abrir sequer investigação sobre o assunto.
É preciso não perder de perspectiva a noção de que esta geração tem o dever de seguir adiante na revelação destas verdades históricas. É chegado o momento de honrar devidamente os que morreram para defender a democracia, além de trabalhar para deixar como legado um País onde tais atrocidades sejam absolutamente inadmissíveis.