Essa questão nos surgiu em um primeiro momento como afirmação, decidimos então transformá-la momentaneamente em pergunta para poder refletir sobre o tema
Por Rodrigo Rossignol Felipe* para o Sindipetro SP
Essa questão nos surgiu em um primeiro momento como afirmação, decidimos então transformá-la momentaneamente em pergunta para poder refletir sobre o tema levantado durante um DSMS da Transpetro sobre Assédio Sexual. Em tal ocasião, nossa frase título fora apresentada como afirmação inquestionável por uma mulher, porém um homem incomodado pediu a palavra e suas falas controversas deram força a uma calorosa discussão via chat repleta de elementos preconceituosos e machistas.
Todo homem é de fato um estuprador em potencial? Para responder essa questão vamos propor uma analogia que cabe a todos, independentemente de gênero, pois para sua compreensão é preciso o exercício da empatia, colocar-se na posição de vulnerabilidade. Imagine uma pessoa armada perto de você, seja ela um segurança, um policial, um civil, um atirador esportivo. Podemos afirmar sem questionamentos que toda pessoa portadora de uma arma é um assassino em potencial, afinal aquela arma pode ser disparada contra nós e tirar nossas vidas, tendo seu portador a intenção de fazê-lo ou não. O fato é que nós não sabemos sua intenção, logo ficamos em situação de alerta até que a arma se afaste a uma distância segura. Durante todo aquele momento de exposição à arma ficamos em situação de desconforto e é aqui o ponto chave de toda a questão, é preciso enfatizar: desconforto! Essa sensação pode ser ampliada por diversas outras, como: apreensão, medo, angústia, dúvida, tensão, ou seja, nos sentimos vulneráveis diante daquela pessoa que, de porte da arma, impõe a desigualdade de forças entre nós. Não há o que discutir, nesta situação o desarmado está vulnerável e em qualquer ocorrência é ele quem perde.
Nós homens precisamos entender que para a vasta maioria das mulheres estar diante de um homem é uma condição semelhante, pois além da força física maior que possibilita agressão, nós naturalmente nascemos armados quando a questão é violência sexual. Ainda que esta afirmação seja questionável sobre alguns aspectos, até em meio acadêmico, precisamos ser empáticos e solidários com as mulheres e jamais partir para a defesa tola de qualquer valor da masculinidade. Não nos cabe questionar aquela mulher, nosso esforço deve ser de minimizar o desconforto. Rebater sua fala ou diminuir o que ela sente em nada contribui, ao contrário, só amplifica o problema. Se a presença masculina é desconfortável e de certa forma ameaçadora para uma mulher, então nessa situação é sim possível enfatizar: Todo homem é um estuprador em potencial.
Há outros diversos fatos que endossam tal afirmação, poderíamos discorrer com infinitos exemplos num texto que ficaria demasiadamente longo, peguemos então dados básicos: De acordo com o Anuário Brasileiro da Segurança Pública de 2022, 8 em cada 10 casos de estupro registrados no ano foram de autoria de um conhecido. Pai, patrão, chefe, tio, médico obstetra com a paciente anestesiada para o parto, líder religioso, professor, melhor amigo, colega de trabalho. Vejam, todo homem também pode ser potencialmente várias coisas boas, inclusive herói e sacerdote, mas mesmo heróis e sacerdotes podem se tornar estupradores.
É preciso desconstruir a ideia de que estupros acontecem nos becos por um ser malvestido, essa ideia é antiquada, reforça preconceitos e mitos. Para a mulher com medo do estupro pouco importa o que aquele homem potencialmente perigoso e “armado” do lado dela é, afinal, diante da incerteza e insegurança geradores de medo e desconforto, qualquer homem é um estuprador em potencial.
Sejamos empáticos, convivamos e aprendamos com isso. O machismo estrutural ao qual crescemos e fomos educados precisa ser combatido e erradicado. Não basta só deixar de ser machista, é preciso também participar ativamente do processo de reeducação social, ajudar os menos preparados na busca do conhecimento e promover o amadurecimento de toda a sociedade. Quem sabe assim deixaremos de ser potencialmente causadores de tantos desconfortos e dissabores para as mulheres.
A Transpetro deve ter papel fundamental nesse processo criando grupos de trabalho com o objetivo de fomentar a educação e o diálogo com seus trabalhadores, além de tratar ocorrências e denúncias de maneira padronizada acolhendo as vítimas de abusos com respeito e suporte devidos. Essa é uma pauta cara ao nosso sindicato e o apoio de todos é fundamental para novas conquistas junto à companhia. Podemos contar com você também?
Rodrigo Rossignol Felipe é trabalhador da Transpetro e diretor do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP).