Terceirização na segurança nem começou e já dá sinais de fracasso

Bombeiros civis contratados, sem treinamento adequado, serão responsáveis por comandar equipes de combate às emergências em refinarias de petróleo precarizadas

[Da imprensa do Sindipetro-PR/SC]

O desprezo à vida virou regra para os gestores da Petrobrás. Vale tudo, absolutamente tudo, para deixar as refinarias sucateadas e, portanto, mais suscetíveis à privatização.

O que está para acontecer nos setores de Segurança, Meio Ambiente e Saúde (SMS) das unidades colocadas à venda revelam a profunda irresponsabilidade daqueles que estão no comando da maior empresa da América Latina.

Refinarias de petróleo são locais de altíssimo risco para se trabalhar, pois processam milhões de litros de produtos inflamáveis por dia. Por óbvio, as equipes de empregados responsáveis por atuar em situações de emergência devem ter amplo conhecimento da área e treinamento adequado. Entretanto, a atual gestão da Petrobrás não pensa dessa forma.

Ao longo dos seus 43 anos de atividade, a Repar passou por várias ocorrências emergenciais que só não tomaram proporções maiores devido à atuação em conjunto da uma equipe experiente de segurança com os integrantes da EOR (Estrutura Organizacional de Resposta). O setor de segurança e a equipe de combate às emergências sempre foram formados por trabalhadores do efetivo próprio, e necessitam de melhores condições de treinamento e efetivo para que possam ser consideradas adequadas, mas ocorre justamente o inverso com o desmonte da SMS.

Agora, com o processo de sucateamento pelo qual a unidade passa (o mesmo ocorre com a Usina do Xisto – SIX), a fim de facilitar sua venda, tudo mudou. Segurança industrial virou coisa supérflua na cabeça dos gestores, uma vez que resolveram terceirizar o setor para reduzir a folha de pagamento. Substituem, sem nenhum pudor, empregados com muitos anos de experiência por pessoas que passam apenas por um treinamento relâmpago.

A Repar tem capacidade instalada para processar 33 mil m³ de petróleo por dia, em uma área física total de 10 milhões de m². Para isso, conta com cinco técnicos de segurança (TS) próprios por turno. Parece pouco, não é? Não para os gestores. O plano de terceirização do setor de segurança reduz para dois o número de TS’s próprios por período (1 supervisor e 1 subordinado) e indica a contratação de três bombeiros civis.

O Sindipetro PR e SC questionou a gestão da Repar sobre os riscos de terceirizar um setor tão importante para a segurança dos trabalhadores, da comunidade do entorno e dos equipamentos, mas só obteve respostas evasivas. Um processo atabalhoado, feito às pressas e sem respostas adequadas sobre temas cruciais, como plano de treinamento, futuro dos técnicos do setor e a segurança da refinaria.

Cabe ainda ressaltar que o Sindicato há tempos demonstra publicamente a preocupação com a redução do efetivo de trabalhadores da Repar. Desde 2017, quando foi implantada unilateralmente a metodologia de O&M (Organização e Método) na refinaria, o número de empregados próprios foi diminuído em 40%. Naquela época, um levantamento feito pelo Sindipetro junto aos empregados da Repar já apontava efetivo insuficiente.

Um dossiê que trata do efetivo da Repar foi apresentado na forma de denúncia junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT) e ainda está em trâmite.

A terceirização da segurança somada à drástica redução do efetivo não aponta para outra direção senão a de um acidente de grandes proporções sem a resposta emergencial adequada.

Em 2000, um acidente ampliado na Repar causou o vazamento de 4 milhões de litros de petróleo nos rios Barigui e Iguaçu. Naquela época a segurança também era negligenciada e aconteceu a tragédia. Custou muito caro para os cofres e também para a imagem da empresa o atendimento e reparo daquele acidente. As ações judiciais ainda estão em andamento somam mais de R$ 1 Bilhão em multas e ressarcimentos. Parece que os gestores não aprenderam nada com aquele triste episódio e também não sabem fazer as contas de quanto custará um acidente de grande proporção. O risco das pessoas é imenso. O Sindicato continuará com as denúncias sobre todo esse descaso e torce muito para que nada grave aconteça.

Equipe de Combate às Emergências

Outro ponto de conflito entre a gestão da Repar e o Sindipetro PR e SC é a composição da equipe de combate às emergências. Por muito tempo a empresa bateu na tecla de que a participação dos empregados no grupo de brigadistas é obrigatória. O Sindicato, por sua vez, aponta que tal determinação não está prevista em contrato de trabalho, portanto a posição da companhia não se sustenta.

Para além desse debate, é plausível lembrar que em situação de emergência a equipe será liderada pelo motorista da viatura. Na nova realidade, a valer a partir de novembro ou dezembro, o chefe da equipe será o bombeiro civil terceirizado, sem treinamento adequado e sem amplo conhecimento da área. A pergunta que fica é “ficarão tranquilos os componentes da equipe sob tal subordinação?”

Com todo respeito aos bombeiros civis, o treinamento insuficiente para atuar em área industrial tão perigosa é alarmante. Durante exercício realizado na Repar nesta semana, um caminhão ficou pelo caminho. Vidas estarão em risco se isso acontecer em situação de atendimento à emergência.