Convidados cobram reestatização do que foi privatizado nos governos Temer e Bolsonaro e mudanças no planejamento estratégico da Petrobrás
[Por Alessandra Murteira, da imprensa da FUP | Fotos: Paulo Neves e Marcelo Aguillar/FUP]
O auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que foi palco em junho de 1948 do lançamento da campanha “O petróleo é nosso”, sediou na última sexta-feira, 29, o ato que abriu a agenda de luta pelos 70 anos da Petrobrás. Estavam lá as duas federações de sindicatos petroleiros – FUP e FNP – e diversos movimentos sociais, centrais sindicais e partidos políticos, representados por parlamentares e militantes populares, que reforçaram a necessidade de um novo movimento em defesa da soberania nacional.
O ato foi aberto com a apresentação de um vídeo durante a execução do Hino Nacional, que exibiu imagens diversas de lutas travadas pelos trabalhadores em defesa da Petrobrás, emocionando a todos os presentes.
O jornalista Octávio Costa, presidente da ABI, lembrou que as lutas pelo monopólio estatal do petróleo e pela criação da Petrobrás tiveram apoio fundamental dos militares nacionalistas. “Infelizmente, temos muito poucos militares nacionalistas hoje no país. Por isso, estamos enfrentando todos esses poblemas e ainda estamos lutando pela defesa da soberania nacional, pelas riquezas do país e pela soberania popular, que é a mais importantes de todas”, afirmou.
O coordenador geral da FUP, Deyvid Bacelar, destacou que a luta conjunta dos petroleiros organizados e dos movimentos sociais salvou a Petrobrás da privatização completa. “A categoria sempre esteve em processo de luta e resistência e por conta disso a Petrobrás não foi privatizada e hoje podemos estar aqui para fortalecer o movimento de reconstrução da empresa”, afirmou, convocando os presentes a pressionar por mudanças no planejamento estratégico da companhia.
“Foram sete anos de resistência e muita luta da categoria petroleira. Nesse período, apesar de toda a resistência, perdemos muitos ativos importantes da Petrobras, tivemos 17 companheiros demitidos por exercerem o direito constitucional de greve, diversos trabalhadores ainda estão sofrendo as consequências desse desmonte”, lembrou o líder petroleiro.
Investigar e responsabilizar os entreguistas
A diretora da FNP, Natália Russo, afirmou que o golpe de 2016 interrompeu os sonhos do povo brasileiro de ver o pré-sal e a Petrobrás transformarem o Brasil em uma grande potência, com empregos e redução das desigualdades. “Não dá pra gente não acertar as contas com o passado. A gente já viu isso acontecer e o passado volta para nos assombrar. Essas pessoas têm que ser punidas por todos os crimes que cometeram contra o nosso país. Esses gestores que venderam de forma lesiva o patrimônio público precisam ser investigados e punidos por improbidade administrativa”, afirmou.
Ela ressaltou ainda que é fundamental uma mobilização muito forte pela reestatização da Eletrobras e dos ativos do Sistema Petrobrás que foram privatizados, com unidade das categorias e dos movimentos sociais. “É só com a luta de toda a classe trabalhadora que vamos conseguir avançar para reconstruir a nossa empresa e coloca-la a serviço do povo brasileiro”.
Estrella: “Petrobrás tem que ter o Brasil como objetivo”
O geólogo Guilherme Estrella – ex-diretor de Exploração da Petrobrás e um dos responsáveis pela retomada do protagonismo da empresa no E&P, que levou à descoberta do pré-sal – afirmou que, apesar das comemorações dos 70 anos, a empresa hoje não é mais a mesma. “A Petrobrás e o Brasil foram saqueados, temos que ter novamente uma campanha ‘O petróleo é nosso’ para reconstruir a empresa”, disse.
“A missão da Petrobrás é servir ao Brasil e ao povo brasileiro e não servir aos acionistas privados, a maioria deles de fundos de investimentos internacionais. Não é possível que continuemos contratando plataformas com apenas 10% de conteúdo nacional. O novo plano estratégico da empresa precisa apontar que a Petrobrás tem que ter o Brasil como objetivo”, afirmou.
O ex-deputado federal constituinte, Vivaldo Barbosa, uma das lideranças políticas do movimento pela manutenção do monopólio da Petrobrás, enfatizou que a empresa nasceu das lutas do povo brasileiro, “uma luta que foi acolhida pelo governo de Getúlio e pelo Congresso Nacional, que aprovaram a criação da Petrobrás”. Ele relembrou a trajetória da estatal e sua importância na construção da identidade nacional do povo brasileiro. “Nós temos o compromisso moral, político e nacional de recompor a Petrobrás como empresa essencial em um projeto de nação. Se não, a história não nos perdoará”.
O ato na ABI contou ainda com a participação da diretora da AEPET, Patrícia Lair; da representante dos trabalhadores não Conselho de Administração da Petrobrás, Rosângela Buzanelli; do presidente da CUT Rio, Sandro César; da diretora da CTB, Raimunda Leone; do diretor da CSP-Conlutas, Júlio César Soares; do deputado federal, Reimont (PT/RJ); da deputada federal, Jandira Feghalli (PCdoB/RJ); das deputadas estaduais do PT/RJ, Marina do MST, Verônica Lima e Elika Takimoto; de representantes dos diretórios do PT, PCB, PT, PCdoB, PSOL, PSB e UP; de representantes da OAB, MST, MAB, MPA, movimentos de moradia popular, levante da juventude, movimentos estudantis e várias outras organizações sociais.
Presidente da Transpetro anuncia abertura de concurso público
Também presente à solenidade, o presidente da Transpetro, Sérgio Bassi, ressaltou que “a força de trabalho foi a resistência essencial para conter a privatização. Se hoje a Petrobrás está de pé foi porque as organizações sindicais resistiram”, afirmou. Ele anunciou durante o ato na ABI que a Transpetro tinha acabado de publicar edital de seleção pública para recompor os quadros de terra e mar de trabalhadores da empresa.
São 1.079 vagas ofertadas nos concursos públicos, incluindo o cadastro de reserva. Dessas, 207 vagas serão para convocação imediata, das quais, 154 para os níveis médio e superior do quadro de terra e 53 para o quadro de mar.
Bassi informou ainda que a subsidiária realizou uma reestruturação administrativa, aumentando em 48% o número de mulheres em cargos de liderança, o que fez saltar de 65 para 96 as representações femininas nas gerências, incluindo três gerências executivas que nunca foram ocupadas por mulheres. O presidente da Transpetro também comemorou o fato de ter ampliado em 17% a participação nas funções gerenciais de pessoas que se autodeclaram negras, pardas, indígenas e amarelas, contribuindo para uma maior diversidade nos cargos de comando.