Sob fortes manifestações e greve, governo argentino tenta votar reformas no Congresso

A base do governo neoliberal de Mauricio Macri na Câmara dos Deputados da Argentina conseguiu quórum para retomar a votação de reformas impopulares no país. Em resposta, milhares de trabalhadores e aposentados tomaram as ruas de Buenos Aires para rechaçar a medida que pode prejudicar os reajustes nas aposentadorias e outros benefícios de mais de 17 milhões de pessoas. O cenário na Avenida de Mayo é de guerra. Os manifestantes estão em confronto com as forças militares desde o início da manhã. Estranhamente, a mídia corporativa brasileira ignora os fatos no país vizinho.

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Além da grande mobilização, com mais de 100 mil pessoas, as principais centrais sindicais argentinas, a Central Autônoma dos Trabalhadores (CTA) e a Central Geral dos Trabalhadores (CGT), iniciaram movimento grevista em todo o país desde as 12h de hoje (18). A investida, de 24 horas de paralisações, já afetam o setor aéreo do país. O metrô segue funcionando até as 18h. Trens e ônibus encerram atividades à 0h.

A sessão atingiu quórum por volta das 14h, mas o embate é acirrado. A oposição afirma que as reformas não foram apresentadas na campanha de Macri, portanto, não possuem legitimidade. Existe um movimento que pede que as medidas passem por referendos populares. “Defendemos a discussão do tema com a sociedade. Pretendem passar o projeto com o Congresso sitiado? Se é tão bom o projeto, por que tanta repressão? Defendemos a consulta popular”, disse a deputada Romina del Plá, da Frente de Izquierda y de los Trabajadores.

A oposição critica amplamente a repressão das manifestações. Na última quinta-feira (14), milhares de argentinos também tomaram as ruas para denunciar uma manobra do governo macrista. Seu partido, o Cambiemos, utilizou do aparato militar presente na cidade para uma reunião de cúpula da Organização Mundial do Comércio (OMC), para acelerar o processo de votação das reformas. O resultado foi uma grande repressão oriunda de mais de mil membros das forças armadas locais.

“Não é normal que o Congresso tenha medo do povo. Não é normal a repressão. Isso não é bom para o funcionamento desta Casa. Não é normal para o exercício da democracia. Não é normal tantos feridos vítimas de repressão. Vocês vão ter que sair como ratos do Congresso por traição ao povo argentino”, disse o deputado Dário Martínez, da Frente para la Victória (FPV).

Em uma tentativa de pressionar a aprovação das medidas, a base do governo Macri convocou às pressas governadores de diferentes províncias para o Congresso. “Chegaram ao ponto de convocar governadores para tentar aprovar uma lei antipopular que atenta contra 17 milhões de argentinos. É lamentável também a repressão novamente contra o povo argentino. Que país estamos?”, disse o deputado Juan Manuel Huss, da FPV.

Suspensão

Na sessão da última semana, o clima de tensão se refletiu na Câmara. Além da violência nas ruas, deputados se desentenderam e chegaram a trocar empurra-empurra. Tais embates levaram a sessão a ser suspensa. Hoje, a oposição tentou por diferentes momentos levantar a discussão. Motivos, em especial, a repressão policial.

A base do governo acusa a oposição de usar de violência nas manifestações. Em resposta, o deputado Horacio Pietragalla Corti, da FPV, disse que “em nenhum momento vamos aceitar que nos chamem de violentos. Violentos são os governos neoliberais que sumiram com 30 mil companheiros argentinos na última ditadura (1976-1983). Temos ainda que falar que a parte civil desse golpe militar hoje está nos governando. O pai do presidente Macri se favoreceu economicamente com a ditadura. Aqui também temos membros de familiares cúmplices da ditadura.”

O deputado Nicolás del Caño, do Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS), também pediu o levantamento da sessão. “Nos sentimos ofendidos pela violência contra manifestantes em seu legítimo direito. O que vimos na última quinta-feira foi a militarização, um sítio, que há muito tempo não se via. O Cambiemos quer aprovar essa lei de forma fraudulenta. 140 pessoas vão decidir meter a mão no bolso de 17 milhões de pessoas vulneráveis. 90% da população está contra esta medida. O governo disse na campanha que não promoveria reformas como esta. Por isso, não podemos seguir com essa sessão.”

[Com informações da Rede Brasil Atual/foto Tiempo Argentino]