“A categoria petroleira ainda não teve a capacidade de dar uma resposta dura a Companhia em relação aos acidentes de trabalho”. Com essa frase, o coordenador da FUP, José Maria Rangel, resumiu sua visão em relação à saúde e segurança dos petroleiros. Para Rangel, a categoria conquistou muitos avanços nessa área, mas ainda é pouco em relação à situação das unidades. A mesa de Saúde e Segurança contou com as presenças do psicólogo Arthur Lobato, o Superintendente Adjunto de Segurança Operacional e Meio Ambiente da ANP, Luciano da Silva Pinto Teixeira e o coordenador da FUP, José Maria Rangel.
Rangel afirmou que as empresas brincam com a vida das pessoas e citou como exemplo o acidente com o FPSO São Matheus. “Havia 76 pessoas a bordo, mas só emitiram 35 CATS, sendo nove dos trabalhadores que morreram e 26 daqueles que tiveram algum tipo de lesão. Os outros que estavam no navio e acompanharam tudo de perto, inclusive assistindo os corpos jogados de seus companheiros não tiveram a CAT emitida. Nas para a justiça, essas pessoas não puderam depor porque estavam sob efeito emocional” – disse
A subnotificação dos acidentes fragiliza o trabalhador e contribui para encher os cofres das empresas, o que Rangel considera mais um absurdo.
Sobre as fiscalizações, Rangel disse que “antes o problema era colocar o Ministério do Trabalho e Emprego para fiscalizar, porque havia uma estrutura corrompida, coordenada por Roberto Jefferson. Depois o movimento sindical conseguiu mudar a estrutura, mas infelizmente o MTE não tem efetivo para fiscalizar”.
Quando as fiscalizações acontecerem, é importante que a categoria questione se o sindicato está presente. Isso está garantido em Acordo Coletivo da categoria. Para Rangel, os petroleiros têm um elo com a direção sindical e isso ajuda na hora de denunciar um problema no momento da fiscalização. Muitas plataformas já foram interditadas a partir dessas fiscalizações, fruto de denúncias do sindicato.
Outra ferramenta na área de SMS é a organização através da Cipa e do seu fortalecimento.”Nós investimos na Cipa e no seu fortalecimento através da capacitação dos cipistas para atuar e fazer o contraponto com a empresa” – lembrou o sindicalista, que considera ser necessária vontade política para mudar o setor de segurança das empresas de petróleo.
O coordenador da FUP, disse ter recebido a notícia do presidente da Petrobras, que o representante dos trabalhadores no CA da Petrobras, Deyvid Bacelar, será o coordenador do Conselho de SMS do Conselho. Essa será uma mudança significativa, porque antes quem assumia essa cadeira era o presidente da Companhia.
Assedio Moral
O psicólogo Arthur Lobato considera o mundo do trabalho como violento e que a globalização veio impactar ainda mais a saúde do trabalhador. Atualmente o trabalho está invadindo a vida privada, através da internet e causando um sentimento de exaustão no final do dia. Essa relação tem criado novas patologias relacionadas ao desgaste mental e emocional, que não deixam marcas visíveis nas pessoas.
O assédio moral também foi citado pelo psicólogo como um dos principais problemas das relações de trabalho nos dias de hoje, que está relacionada principalmente às relações de poder.
Lobato fez uma provocação à categoria que deve fazer barulho e denunciar que o assedio moral coloca em risco a vida do profissional.
Ouro Negro
Desde 2010, a Agência Nacional de Petróleo interditou 37 unidades, sendo sete delas só nos últimos cinco meses. Esses dados foram apresentados pelo Superintendente Adjunto de Segurança Operacional e Meio Ambiente da ANP, Luciano da Silva Pinto Teixeira, que também participou da mesa de SMS.
Segundo Teixeira, em um ano a ANP participou de 50 auditorias, entretanto o desafio é fiscalizar 50% das unidades em todo país e num prazo de dois anos, conseguirem voltar à unidade já fiscalizada.
Durante as fiscalizações da operação Ouro Negro, realizada em parceria com o Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho e Emprego, Marinha, IBAMA, Anvisa e Sindicato, Teixeira disse ter percebido o medo da categoria e da Cipa em relação aos órgãos presentes.
“Existe um ranking das unidades em relação aos riscos e da probabilidade de ocorrer acidentes e fazemos as fiscalizações com base nisso. Se os trabalhadores encaminharem essas denúncias podemos pular esse ranking e fiscalizar as unidades com problemas” – sugeriu o superintendente.
Fonte: Sindipetro-NF