Sindipetro-NF cobra do presidente da Petrobrás ações contra o caos e a insegurança na Bacia de Campos

No documento, o diretor de SMS da FUP, José Maria Rangel, reitera que a estatal fracassou mais uma vez no desafio de executar suas atividades e crescer no mercado, respeitando a vida humana…





Com informações do Sindipetro-NF

O Sindipetro-NF protocolou nesta terça-feira, 30, carta ao presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, cobrando ações concretas para acabar com a insegurança crônica nas unidades da empresa. No documento, intitulado "A Petrobrás fracassa outra vez no seu maior desafio", o coordenador do Sindipetro-NF e diretor de SMS da FUP, José Maria Rangel, reitera que a estatal fracassou mais uma vez no desafio de executar suas atividades e crescer no mercado, respeitando a vida humana.

"Saiba, Sr. Presidente, que os petroleiros e as petroleiras, empregados próprios e de empresas prestadoras de serviço encontram-se indignados diante da constatação de que não estão seguros ao embarcar/desembarcar nas plataformas marítimas da Bacia de Campos. Também não estão seguros para trabalhar a bordo delas. E mais, não estão seguros para trabalhar nas bases de terra, nos piers, nos terminais e nas demais instalações da empresa", declara o diretor da FUP, na carta enviada a José Sérgio Gabrielli.
 
"Todos perguntam: Qual é o “planejamento estratégico” da Petrobras para resolver isso? Essa pergunta permanecerá até que a empresa publicamente reconheça seu fracasso. Para isso é necessário: declarar como e quando vai iniciar a solução definitiva para o caos que se instalou na Bacia de Campos; apontar quem é o responsável por tudo isso, e, por fim, começar tudo de novo, da maneira certa, com o tal “planejamento estratégico” de que tanto se orgulham", ressalta o documento.

 
Veja abaixo, a íntegra da carta:
 
CARTA AO PRESIDENTE DA PETROBRÁS José Sergio Gabrielli de Azevedo 
 
A Petrobras fracassa outra vez no seu maior desafio.
Ofício 280/2011
 
 
Senhor Presidente!
 
O maior desafio da Petrobrás não é descobrir ou explorar o petróleo das profundezas. Também não é alargar as barreiras tecnológicas da pátria brasileira ou respeitar o meio-ambiente em suas operações. Tão pouco é produzir o combustível necessário ao desenvolvimento do país.
 
O maior desafio da Petrobras é fazer tudo isso respeitando a vida humana.
 
Na sexta-feira, 19 de agosto de 2011, a Petrobras fracassou mais uma vez nesse desafio. Uma aeronave, que partiu da P-65, caiu no mar provocando a morte de quatro pessoas que trabalhavam para que todos os outros desafios fossem alcançados.
 
Saiba, Sr. Presidente, que os petroleiros e as petroleiras, empregados próprios e de empresas prestadoras de serviço encontram-se indignados diante da constatação de que não estão seguros ao embarcar/desembarcar nas plataformas marítimas da Bacia de Campos. Também não estão seguros para trabalhar a bordo delas. E mais, não estão seguros para trabalhar nas bases de terra, nos piers, nos terminais e nas demais instalações da empresa.
 
Nos aeroportos, diversas denuncias da manutenção deficiente nas aeronaves, da falta de pilotos, da falta de infraestrutura, da falta de um aeroporto de grande porte e que esteja à altura das operações de uma empresa do porte da Petrobras.
São milhares de trabalhadores embarcados ou nos aeroportos com vôos atrasados, transferidos ou cancelados por vários dias. Uma espera prolongada em terminais superlotados. Uma situação que expõe trabalhadores, quando finalmente conseguem embarcar, ao trabalho em péssimas condições físicas. Além daqueles que permanecem embarcados vários dias além de sua jornada, aumentando a insegurança.
Os gestores usam como desculpa que o problema é meteorológico, quando sabemos que isso explica somente uma pequena parte dele. Não precisa ser um grande especialista para concluir que só há uma solução: investimento em um sistema planejado para o atendimento com capacidade acima da demanda, facilmente prevista, que não foi priorizada ao longo dos anos. 
 
A bordo das plataformas a situação também é extremamente grave. As interdições em plataformas pelos órgãos fiscalizadores revelam aquilo que os gerentes teimam esconder: o estado de total abandono para itens elementares de segurança que impuseram a essas unidades. A primeira interdição por insegurança, fato histórico no mundo, aconteceu em agosto de 2010 na P-33 e a última poucos dias atrás na P-10. No total foram oito plataformas da Petrobras interditadas por problemas de segurança. Diante disso, recentemente, em uma tentativa desesperada, quatro Unidades de Manutenção e Segurança (UMS´s) foram trazidas para a região e estão subutilizadas por falta de  planejamento.
No terminal de Cabiúnas da Transpetro, subsidiária da Petrobras na região, mais de 30 autuações do Ministério do Trabalho e Emprego, em novembro de 2010, mostram como é tratada a segurança e a saúde dos trabalhadores naquela base.
 
Não foi por falta de aviso! Desde os acidentes aéreos com vítimas fatais de 2003 e 2004 que o sindicato vem alertando com documentos e lutando contra a falta de infraestrutura aérea e investimentos para embarques e desembarques na região.
Sobre a insegurança a bordo, em 2009, protocolamos denuncias de mais de trinta plataformas e do TECAB, com pendências graves de segurança. Em 14 de julho de 2010, protocolamos "Carta Aberta sobre as condições de segurança e saúde na Bacia de Campos" para os presidentes da Petrobras e da Transpetro. Desde o acidente de P-36, em 2001, que o sindicato critica a política irresponsável, que se agravou nos últimos anos, e que não se antecipa de forma planejada e estruturada aos desafios na nossa região.
São erros graves de gestão que estão mais do que identificados pela empresa, porém sem nenhuma perspectiva de solução. O resultado são mortes, famílias desesperadas, milhares de outras famílias preocupadas e a sociedade brasileira assistindo ao fracasso da Petrobras no seu maior desafio.
 
Todos perguntam: Qual é o “planejamento estratégico” da Petrobras para resolver isso?
Essa pergunta permanecerá até que a empresa publicamente reconheça seu fracasso. Para isso é necessário: declarar como e quando vai iniciar a solução definitiva para o caos que se instalou na Bacia de Campos; apontar quem é o responsável por tudo isso, e, por fim, começar tudo de novo, da maneira certa, com o tal “planejamento estratégico” de que tanto se orgulham.
 
Senhor Presidente! O Sindipetro-NF encaminha estes questionamentos para ficar registrado, perante a sociedade brasileira, que tudo o que está acontecendo não é obra do acaso e não faltaram avisos, geralmente recusados, ou minimizados pelos gerentes da empresa.
 
Sabemos que os trabalhadores têm um papel fundamental. Uma greve por segurança parece ser o passo definitivo para que a Petrobras priorize o seu maior desafio, que é preservar vidas. O primeiro chamado já foi feito, na segunda-feira, 22 de agosto de 2011, doze plataformas responderam positivamente e iniciaram a primeira greve por insegurança da Bacia de Campos, e mesmo com três horas de movimento fizeram história enfrentando e truculência e o assédio dos gerentes. Continuaremos insistindo na construção de um movimento maior que chame atenção de todos para o problema. Essa parece ser a única linguagem que a alta direção da Petrobras entende. Ainda assim, petroleiros, petroleiras, familiares e sociedade esperam que a Petrobrás corrija o seu rumo e cumpra seu maior desafio.
 

Atenciosamente

José Maria Ferreira Rangel

Coordenador Geral do Sindipetro-NF