O Sindipetro ES fará distribuição de meia tonelada de feijão, no ato em Vitória do dia 07 de Setembro, que marca o Grito dos Excluídos. Além de alimentar a quem precisa, a ação solidária será um protesto contra o presidente Bolsonaro
[Do site do Século Diário]
A fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que chamou de “idiota” quem questiona o preço do feijão e afirmou que as pessoas têm que comprar fuzil, e não esse tipo de alimento, motivou o Sindicato dos Petroleiros do Espírito Santo (Sindipetro/ES) a distribuir feijão no Grito dos Excluídos, que será realizado em sete de setembro. A iniciativa será no final do ato, em frente à Câmara de Vitória.
“Entre o fuzil e o feijão, o Sindipetro escolheu o feijão, pois é o que alimenta o povo. Fuzil na mesa não alimenta ninguém”, afirma o diretor do sindicato, Valnísio Hoffmann.
O feijão a ser distribuído foi adquirido com o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), segundo Hoffmann, como forma de valorizar o trabalho dos agricultores familiares e proporcionar uma alimentação saudável, sem agrotóxicos.
Até o momento, estão garantidos 300 quilos de feijão. Entretanto, petroleiros e pessoas de outras categorias profissionais têm contribuído com doações em dinheiro. Assim, a expectativa é de que a quantidade a ser distribuída chegue a 500 quilos. Na concentração do Grito, às 8h30, na Praça Getúlio Vargas, no Centro de Vitória, o Sindipetro também estará com um caminhão onde receberá doações do alimento.
A prioridade no momento da distribuição será para os moradores do bairro Jesus de Nazareth, próximo à Câmara, que estão sendo articulados pela Central Única das Favelas (Cufa), o que não impede outras pessoas de receber o alimento. Serão dados para cada pessoa dois quilos de feijão.
O tema do Grito deste ano é “Vida em Primeiro Lugar”, e o lema, “Na luta por participação popular, saúde, comida, moradia, trabalho e renda já!”.
A manifestação será estruturada em sete eixos: terra, território e trabalho: a esperança está na organização popular; juventude: protagonismo juvenil e participação popular; vacina já, para todos e todas; soberania e princípio democrático; militarização: racismo e preconceito; e esperançar: nós podemos reinventar o mundo.
Fora Bolsonaro!
Durante o Grito,
o movimento “Fora Bolsonaro” também engrossará o coro contra o presidente. A participação de integrantes do movimento foi confirmada pela presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Espírito Santo, Clemildes Cortes Pereira. Outra confirmação foi a do movimento Impeachment Já!, que tem como uma das integrantes Maria Clara Gama, que em junho deste ano, na visita do presidente, foi ao aeroporto de Vitória portando um cartão fazendo menção aos mortos pela Covid.
Maria Clara afirma esperar que a manifestação contra Bolsonaro consiga mobilizar a população para enfrentar o que ela considera um governo fascista, reconhecendo, no entanto, que desta feita, o protesto será menor. “A esquerda encolheu, mas eu espero que o bolsonarismo também tenha encolhido, e essa é a minha esperança”,
apontou nessa terça-feira (31) ao Século Diário.
Grito dos Excluídos
A edição do Grito dos Excluídos do próximo dia sete de setembro é a 27ª e marca o retorno dos manifestantes às ruas de Vitória. A concentração será na Praça Getúlio Vargas, às 8h30, de onde os participantes seguirão rumo à Câmara de Vitória. Ao chegar na Casa de Leis, os participantes irão se manifestar contra as
ofensas proferidas pelo vereador Gilvan da Federal (Patri) contra a memória do ativista Lula Rocha na sessão de 19 de junho, na qual foi debatida e rejeitada a Comenda Lula Rocha, proposta pela vereadora Camila Valadão (Psol).
Segundo o coordenador do Grito, Giovanni Lívio, a manifestação também será contra a omissão da Câmara diante do ocorrido. Ele recorda que Lula Rocha foi coordenador do Grito dos Excluídos.
Ele acredita que o lema deste ano dialoga com a realidade do Espírito Santo, marcada pelo aumento da fome, crise de moradia, aumento da população de rua, extermínio da juventude negra, desemprego e outras mazelas. “A gente vê a fome todo dia na porta dos supermercados e padarias”, reforça.
Giovanni acredita que faltam políticas públicas para sanar esses problemas. Para ele, a famosa frase de Dom João Batista da Motta e Albuquerque, “só o povo salva o povo”, proferida diante das ações solidárias da sociedade civil em auxílio às vítimas das enchentes de 1979, no norte do Espírito Santo, continua muito atual. Ele cita como exemplo a campanha Paz e Pão, realizada pela Arquidiocese de Vitória, de doação de alimentos e dinheiro para compra de cestas básicas para famílias em vulnerabilidade social.
O coordenador do Grito relata que é perceptível que, nas paróquias localizadas em comunidades populares, o fluxo de doações é mais contínuo. “A solidariedade cotidiana é a do pobre, é pobre ajudando pobre. Quem vive a fome se dispõe mais a ajudar do que quem imagina como ela possa ser”, diz. Outro aspecto da realidade capixaba e que dialoga com o lema do Grito dos Excluídos 2021 é a precarização da saúde. “Há fila de espera para cirurgias eletivas e dificuldade de agendamento de consultas com determinadas especialidades médicas”, alerta.