Sindipetro Caxias critica relatório sobre acidente em subestação de energia da Reduc

O relatório determina uma única causa básica e visa pôr a culpa pelo enorme prejuízo nos trabalhadores …





Sindipetro Caxias

Quando se lê o relatório do Grupo de Trabalho (GT) que analisou o incêndio na subestação principal da Casa de Força (U-2200), ocorrido no dia 28 de fevereiro, salta aos olhos a intenção da Gerência da Reduc de se proteger e esconder seus próprios erros de gestão. O relatório determina uma única causa básica e visa pôr a culpa pelo enorme prejuízo nos trabalhadores da operação e da segurança industrial. Por não concordar com as conclusões expostas no documento, o representante do Sindipetro Caxias no GT não assinou o relatório final.

A falha de gestão de manutenção ficou clara quando restou comprovado, pelos depoimentos tomados e pela falta de evidências, que há mais de 10 anos não se fazia manutenção preventiva ou preditiva na subestação. Essa foi uma decisão gerencial: não parar a subestação principal da Casa de Força para manutenção preventiva. O objetivo era maximizar a produção. Deu no que deu. Os painéis de controle da Casa de Força foram totalmente destruídos pelo incêndio, paralisando a refinaria e causando um prejuízo à Petrobrás que poderá chegar à casa do bilhão. Sem falar nos prejuízos à população, que poderá sofrer desabastecimento.

O fato de cabos elétricos e de comando passarem por cima dos flaps do disjuntor, um equipamento de segurança cuja função é a liberação da energia de um curtocircuito, foi uma das duas condições para que ocorresse o incêndio. A outra foi o curtocircuito no disjuntor 57. E a chance deste evento ocorrer poderia ter sido reduzida praticamente a zero se a Gerência da Reduc tivesse decidido fazer a devida manutenção preventiva na subestação.

Vale destacar ainda a falha de gestão de SMS, pois nunca foi elaborado um cenário de incêndio nas subestações das casas de força da refinaria e jamais houve qualquer treinamento de combate a incêndio em subestações para os técnicos de segurança, brigadistas ou mesmo para os técnicos de operação da Gerência de Energia. No entanto, todas essas deficiências importantes levantadas pelo GT passam praticamente despercebidas no relatório, sendo contempladas apenas nas recomendações.

Para espanto dos membros do GT, o Coordenador de Turno (Cotur), um jovem e inexperiente engenheiro, que certamente tem seu valor, também não possuía qualquer treinamento em combate a incêndio, teórico ou prático, conforme consta do seu depoimento. Ocorre que o Cotur sempre é o coordenador da emergência, o responsável pelas tomadas de decisão durante a ocorrência. Esse é o maior exemplo de como a Gerência da Reduc trata a segurança dos trabalhadores e instalações.
 

As inconsistências do relatório

Logo de início, ao descrever o lamentável sinistro, o relatório informa que “a causa mais provável do curtocircuito foi estresse eletromecânico ou falha de materiais”. Ora, a expressão utilizada mostra que não há certeza acerca da causa do curtocircuito no disjuntor 57. No entanto, tudo indica que a causa do curtocircuito foi a umidade originada pela infiltração no telhado da Casa de Força (U-2200) associada à falta de manutenção preventiva e preditiva (termografia) na subestação. Se a umidade não provocou o curtocircuito é, ao menos, uma hipótese tão provável quanto estresse eletromecânico ou falha de material.

Ainda na descrição da ocorrência, o relatório menciona, na ação inicial, que “o operador não se sentiu seguro para entrar na SE-200 e fazer o primeiro combate”. Esqueceu de completar que o operador não se sentiu seguro “porque não teve o treinamento em combate a incêndio adequado para tal”. Não há nenhuma garantia, no entanto, de que era possível debelar o incêndio a partir do primeiro combate, pois havia muita fumaça no interior da subestação.

Em certo ponto, denominado “mudança de estratégia de combate ao fogo” o relatório destaca que a subestação foi desenergizada às 17:34h, a Corrente Contínua foi desligada somente às 18:30h e a partir daí foi iniciado o combate com água. Uma imprecisão. É preciso dizer que não há certeza a respeito do horário em que se iniciou o combate com água no interior da subestação. Essa cronologia serve para justificar o que se descreverá a seguir.

A pior parte do relatório é o ponto em que afirma que quando foi iniciado o combate com água todos os painéis da unidade U-2200 já estavam totalmente destruídos pelo fogo. Como se pode ter certeza disso? A informação na CIC foi perdida em razão da queima dos cabos elétricos e da fibra ótica. Essa afirmativa serve apenas para tentar “livrar a cara” da Gerência da Reduc. Houve uma grande preocupação em dizer que a desenergização e o combate com água foi demorado e, por essa razão, a sala de controle foi completamente destruída. Neste ponto, o relatório tenta colocar a culpa pelo prejuízo da Petrobrás no pessoal da operação e da segurança industrial, quando os verdadeiros culpados estão sentados em cadeiras do prédio da administração da Reduc.

A demora na desenergização da subestação revela, isto sim, mais algumas graves falhas de gestão, como a falta de treinamento no procedimento de desligamento da SE-200 e a falta de efetivo da operação elétrica.
O relatório aponta uma única causa básica, que seria a falha na avaliação do risco de quem instalou cabos elétricos e de comando sobre os flaps do disjuntor 57. Escondeu a falha de gestão de manutenção, configurada pela falta de manutenção preventiva na subestação nos últimos 10 anos, como causa contribuinte, quando, na verdade, essa foi uma causa básica do acidente, pois sem ela não ocorreria o curtocircuito apontado como causa imediata. É o óbvio.

Outra das causas contribuintes apontadas pelo relatório do GT foi “estratégia de combate ao incêndio ineficaz”. No entanto, essa expressão é totalmente vaga, tratando-se de mera opinião, servindo apenas para esconder a falha de gestão de SMS, desdobrada na “falta de treinamento de combate a incêndio”, na “falta de treinamento de combate a incêndio em subestações” e na “falta de cenário de incêndio nas subestações das casas de força”, tudo comprovado pelo depoimento dos técnicos de operação, do Coordenador de Turno e até dos técnicos de segurança, que reconheceram  não haver cenário ou treinamento de combate a incêndio em subestações na refinaria.
 

Por fim, o relatório sequer menciona a falta de água para o combate à emergência, em razão da falta de confiabilidade das bombas de incêndio, conforme alertado pelo Sindipetro Caxias.

Um relatório bastante conveniente para a gerência da Reduc.