A gente os vê em todas as partes. Mas não enxergamos. Negamos a existência de pessoas sem moradia. Consequentemente, negamos o acesso aos seus direitos. Minas Gerais é o segundo estado brasileiro com maior déficit habitacional. Só em Belo Horizonte, faltam 148 mil casas. A cidade é fria e cruel. Tomada pelas placas de “aluga-se” ou pelo completo abandono, os imóveis e terras não cumprem o seu papel social. Pelo contrário, servem apenas para elevar o preço e limitar o acesso à moradia.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as regiões metropolitanas concentram 28,5% do déficit habitacional do país. Sendo que 90,9% dos cidadãos que não tem garantido o acesso a moradia, possuem renda de até 3 salários mínimos. Mesmo diante dos fatos, em 2013, a Prefeitura de Belo Horizonte apresentou o projeto Nova BH. Um projeto que “readequa” a cidade aos tempos modernos, incentivando a ocupação do Vetor Norte de Belo Horizonte pela classe média. O projeto também tenta colocar a cidade como um centro de negócios do país, colaborando com a agressividade da especulação imobiliária na região.
Porém, nessa Nova BH, não existe espaço para as classes populares. Por isso, a organização dos sem-teto e dos movimentos sociais se faz importante. Enfrentar o projeto de cidade do prefeito Márcio Lacerda, é enfrentá-lo pelo direito à moradia. E é assim, que as ocupações urbanas vem eclodindo nas grandes metrópoles.
Em Belo Horizonte, temos ocupações como a Rosa Leão, Esperança, Vitória, Dandara, Eliana Silva, Paulo Freire e tantas outras. Cada ocupação tem sua peculiaridade, suas conquistas e suas dificuldades. Mas todas tem em comum a luta por um direito básico, o direito a ter um lugar para chamar de lar. Um lugar, em que seus filhos possam nascer e viver.
Assim se fundou e desenvolveu Rosa Leão, Esperança e Vitória, na Região do Isidoro. Porém, movido pelos anseios das classes abastadas, que veem a cidade como uma empresa, Márcio Lacerda declarou guerra à toda e qualquer ocupação. Desde o segundo semestre de 2013, as Ocupações de Izidora, como são chamadas, vivem em conflito com a Prefeitura Municipal, o Governo Estadual e o Ministério Público.
As incertezas e inseguranças, são sentimentos comuns nas Ocupações de Izidora. As constantes ameaças de despejo, o terrorismo psicológico da Polícia Militar e as promessas políticas não cumpridas, fazem do amanhã, um horizonte de pouca ou nenhuma luz. Como acreditar que essa terra é deles, se o governo beneficia quem tem dinheiro?
O prefeito Márcio Lacerda se recusa a negociar. Ele pensa nos lucros que os condomínios de classe média tem a oferecer. A Justiça, é cega, mas consegue sentir de longe o aroma do perfume francês que lhe compra. E o Governo Estadual, se esconde dizendo que respeita a hierarquia do poder.
Na semana passada, ao protestarem contra a possibilidade real de despejo, as moradoras e moradores de Izidora foram violentamente atacados pela Polícia Militar. As cenas gravadas e disponibilizadas na internet, nos fazem refletir se realmente vivemos em um democracia plena. Elas soam como um aviso para nós, de que o capital financeiro ainda utiliza o aparato militar como repressão dos gritos populares.
Enquanto a elite financeira lutar pelo cerceamento de nossos direitos, impedindo-nos de participar ativamente da política, a luta unificada dos movimentos sociais e sindicais deve ser a prioridade. Não devemos dar nenhum passo para trás. Porque queremos mais do que dois para frente.
A direita já não aceita nenhuma forma de conciliação. Então, que não sejamos nós os diplomáticos. Izidora Resiste! Porque é eterno dentro de nós a utopia da justiça social.