Shell se apropria da Cosan

O negócio inclui a aquisição pela multinacional de todas as 23 usinas de açúcar e etanol da empresa brasileira…





Hora do Povo

A multinacional anglo-holandesa Shell adquiriu a Cosan, maior produtora de açúcar e álcool do mundo. O anúncio de formação de uma joint venture de US$ 12 bilhões para produção de etanol, açúcar e energia e suprimento, além da distribuição de comercialização de combustíveis, foi feito nesta quarta-feira (25).

O negócio inclui a aquisição pela multinacional de todas as 23 usinas de açúcar e etanol da empresa brasileira. São aproximadamente 60 milhões de toneladas de capacidade de moagem de cana-de-açúcar por ano, com capacidade de produção de mais de 2 bilhões de litros de etanol. Além disso, a Cosan vai transferir para a Shell quatro refinarias de açúcar, todos os ativos de cogeração de energia a partir do bagaço de cana-de-açúcar, participação em empresa de logística de etanol, 1.730 postos de serviços e dois terminais portuários de distribuição de combustíveis.

Para disfarçar a transação, as duas empresas divulgaram que daqui a dez anos a Shell terá a opção de comprar a totalidade ou metade da participação da Cosan, incluindo todas as usinas. Caso isso não aconteça, passado mais cinco anos, a multinacional anglo-holandesa novamente poderá comprar todas as ações da Cosan. Caso contrário, a Cosan terá direito de comprar a participação da Shell. Basta comparar o faturamento das “associadas” para saber quem está comprando quem: enquanto a Cosan fatura anualmente cerca de US$ 8,5 bilhões, a Shell fatura US$ 458 bilhões.

A Cosan, além de produtora de açúcar, já atuava no setor de distribuição após a compra dos postos da Esso. A Shell também atuava no setor de distribuição de combustíveis, mas não na produção de etanol.

Essa suposta “joint venture” é apenas mais um degrau da acelerada desnacionalização no campo, em especial no setor de etanol, que conta com a multinacional francesa Louis Dreyfus, como a segunda maior empresa em operação no Brasil. A terceira era a Moema, mas esta foi adquirida pela norte-americana Bunge. Sem falar na inglesa BP, que também atua no setor.

O pior é que o aprofundamento dessa desnacionalização – uma ambevização da economia brasileira – se dá sob os auspícios do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No setor, só a Cosan foi contemplada com R$ 986,5 milhões: R$ 614 milhões no último dia 5 e R$ 372,5 milhões em dezembro do ano passado.