Sem Terra é assinado por policiais militares no Rio Grande do Sul

O trabalhador rural Elton Brum da Silva foi assassinado por policiais militares na manhã…

CUT

O trabalhador rural Elton Brum da Silva foi assassinado por policiais militares na manhã desta última sexta-feira com tiro de 12 – calibre usado para matar animais de porte como capivaras e jacarés – em despejo movido contra 1.200 pessoas que ocupavam o latifúndio improdutivo da fazenda Southall, em São Gabriel, cidade da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul. Conforme relato do ex-ouvidor agrário do governo estadual , Adão Paiani, Elton foi morto à queima-roupa por um oficial, após uma discussão.

A truculência da ação policial, que no estado se chama Brigada Militar – e cumpre ordens da governadora tucana Yeda Crusius, infelizmente ainda à solta -, deixou dezenas de feridos, alguns internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) atropelados por cavalos, mordidos por cachorro ou atacados pelo sadismo e a violência de animais racionais.

A desonra e a infâmia cometida por homens que deveriam honrar sua farda foi indescritível, com o sangue vertendo generoso sobre o pampa – o mesmo que as mãos calejadas desejavam transformar em alimento . Na ação, foram aprendidos celulares e câmeras fotográficas. A imprensa foi barrada pelas inúmeras blitze montadas para assegurar o sucesso da covarde operação.

"Tenho uma certa experiência de vida e nunca tinha visto uma truculência deste porte, com projéteis e armas de grosso calibre usados de forma indiscriminada. Mataram o companheiro Elton com tiro de 12, passaram por cima das pessoas com cavalos, machucando mães e filhos. Há também muitos mordidos por cachorro. São dezenas de feridos, alguns em estado grave", relatou Paulo Israel Mioranza, dirigente do MST gaúcho.

Mioranza conta que a ocupação da fazenda, de seis mil hectares (cada hectare equivale a dez mil metros quadrados ou 100 m por 100 m) foi carregada de simbolismo, porque a Southall é um latifúndio improdutivo. "Há uma semana o MST fez uma jornada de lutas, que se encerrou quarta-feira. No Rio Grande do Sul, ocupamos a Southall, que já teve uma parte desapropriada. 750 famílias estavam ali quando a Brigada Militar tomou a decisão de despejar, cumprindo ordens de reintegração de posse. Tínhamos 48 horas para sair, mas choveu muito. Hoje, como abriu o sol, os policiais chegaram atacando. A situação foi tão grave, a truculência foi tanta, que mesmo a TV da RBS, que ainda sustenta a Yeda, não conseguiu apoiar a ação e nos deu razão", disse o representante do MST.

Em nota oficial, a CUT-RS repudiou uma vez mais "a ação do governo Yeda/Feijó que retrocede aos tempos da ditadura e manifesta seu apoio e solidariedade aos integrantes do MST e à família do companheiro Elton e dos feridos". "Sem a atuação do MST em seus mais de 20 anos de existência, a reforma agrária no Brasil estaria ainda mais atrasada do que está hoje. As conquistas realizadas até aqui foram graças à legítima pressão da população organizada por movimentos como o MST", acrescenta.

Ainda sem informações sobre a situação dos hospitalizados, Mioranza acredita que a solidariedade dos movimentos sindical e social pode fazer a diferença neste momento e impedir que o crime fique impune.

Pensando no pampa, distante, pois estou em São Paulo, lembro da bela poesia de Silvio Genro, Campo, Pampa e Querência, imortalizada na voz de João Chagas Leite:

 "CAMPO…

Ventre que gera meu canto,

Universo de meus versos,

Sementeira onde me planto…

Solo fértil, colo quente,

És o seio onde semeio

Os anseios de meu canto.

PAMPA…

Razão, raiz de meus rumos,

Destino de tantas vidas,

Hino à esperança que canto…

Meu canto vem de tua gente,

Voz dos campos que nas mentes

Vinga as sementes que planto.

CAMPO…

Dos que colhem sem plantar,

Dos que plantam sem colher,

Ah! Pudesses tu escolher

De quem ser e a quem se dar.

PAMPA…

Faz da voz dos que te cantam,

Campo livre onde se lança

As sementes de esperança

Do suor dos que te plantam.

QUERÊNCIA…

Terra da gente,

Essência de gente e terra.

Que lições de vida encerras

Terra humilde e tão capaz!

E pensar que ainda há gente

Que em teu nome faz a guerra

Sem saber que gente e terra

São sinônimos de paz!"

Quem relata estas parcas linhas é gaúcho de Rosário do Sul, cidade vizinha a São Gabriel, terra heróica que ainda guarda o brado do índio Sepé Tiaraju: "Esta terra tem dono!". O grito, que virou eco, lema e emblema, foi dado pelo defensor do pampa, enquanto enfrentava os exércitos de Portugal e Espanha que, unidos, queriam desbaratar a experiência comunal dos Sete Povos das Missões.

 Sepé vive e a luta segue!

Veja abaixo a íntegra da Nota da CUT-RS de repúdio à Brigada Militar e solidariedade ao MST     

A direção estadual da CUT-RS manifesta a sua total indignação à ação da Brigada Militar na desocupação da Fazenda Southall, que resultou na morte do companheiro Elton Brum da Silva e dezenas de feridos na Unidade de Tratamento Intensivo.

A forma agressiva da Brigada Militar é considerada inaceitável pela Central Única dos Trabalhadores, na medida em que se reflete como uma agressão à democracia, através de uma atitude totalmente antidemocrática.

A CUT-RS repudia mais uma vez a ação do governo Yeda/Feijó que retrocede aos tempos da ditadura e manifesta seu apoio e solidariedade aos integrantes do MST e à família do companheiro Elton e dos feridos.

Sem a atuação do MST em seus mais de 20 anos de existência, a reforma agrária no Brasil estaria ainda mais atrasada do que está hoje. As conquistas realizadas até aqui foram graças à legítima pressão da população organizada por movimentos como o MST.