“Sem medidas mais efetivas e eficazes do governo, a crise vai chegar ao Brasil”, alertam CUT e centrais

CUT

No exato momento em que milhões de trabalhadores paralisavam as atividades em centenas de cidades da Espanha, Portugal e Grécia contra a política de “austericídio” fiscal – mescla de austeridade com genocídio -, as centrais sindicais brasileiras tomaram a frente do Consulado da Espanha em São Paulo, nesta quarta-feira (14), para repudiar o receituário neoliberal imposto pela troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e União Europeia). Ao mesmo tempo, chamaram a atenção do governo federal para a necessidade de ampliar os investimentos sociais e fortalecer a indústria nacional, “a fim de criar as condições para enfrentar os impactos negativos da crise”.

“Estamos dando um alerta ao governo brasileiro: se o Estado não tomar medidas mais efetivas e eficazes em defesa da indústria nacional, valorizando os salários e a distribuição de renda, a crise vai chegar ao Brasil”, alertou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas.

Se por um lado a manifestação expressou a solidariedade aos trabalhadores europeus, declarou Vagner, “por outro reafirmou a determinação da classe operária brasileira de seguir firme e unida em prol dos seus direitos”.

CRISE DO FINANCISMO, DA ESPECULAÇÃO

“A crise econômica revela a falência do sistema capitalista, excludente, incapaz e incompetente, onde meia dúzia de financistas, de especuladores, de donos de um dinheiro virtual, que não existe, tomam o que é nosso, que é público, para se darem bem às custas da desgraça de todos. Um sistema assim é um desrespeito à Humanidade”, ressaltou Vagner.

Na avaliação do presidente cutista, “não existe economia sem Estado indutor do desenvolvimento, sem a garantia de salário, emprego, direitos e sustentação ambiental”.

DEVASTAÇÃO E MISÉRIA

Os números por debaixo dos escombros deixados pela troika falam por si. Na Espanha, onde o governo se envergou à cartilha dos especuladores, os números estampam a devastação: 13 milhões de pessoas, cerca de 27% da população, vivendo abaixo da linha de pobreza, com o desemprego na juventude ultrapassando os 55%. A Grécia foi mergulhada numa recessão semelhante aos trágicos tempos da segunda guerra com 1,15 milhão de desempregados, desemprego juvenil beirando os 55% e com 30% da população abaixo da linha de pobreza. Portugal ultrapassa os 15% de desempregados, com o governo empenhado em “flexibilizar” as relações de trabalho, com o aumento da jornada, cortes nos salários, nas férias e no 13º salário. Em todos os países, junto à insegurança e aos despejos, crescem os suicídios.

Para o secretário de relações internacionais da CUT, João Antonio Felício, é “inaceitável a continuidade desta política de destruição e devastação de salários, empregos e direitos”. “O aumento descomunal do desemprego é o resultado de políticas que retiram direitos, que enfraquecem o movimento sindical e alijam os trabalhadores dos processos de negociação e decisão”, ressaltou. “Para que esta crise da Europa e dos Estados Unidos não seja importada e atinja o Brasil e a América Latina”, ponderou João Felício, “é preciso que o Estado exerça seu protagonismo investindo no desenvolvimento, na industrialização, na geração de emprego e distribuição de renda”. “O receituário de ajuste fiscal, cortes nas áreas sociais e flexibilização das leis trabalhistas não serve, não é bom nem para o continente europeu nem para nenhum país do mundo”, frisou.

 

CONTRA O RETROCESSO

Para o secretário adjunto de Relações Internacionais da CUT, Artur Henrique, o ato estampou a solidariedade brasileira à luta por direitos contra a cartilha do retrocesso. “As medidas que vêm sendo adotadas pelos governos europeus, com diminuição do papel do Estado e das políticas públicas em prol do sistema financeiro só vão agravar a crise. Nós vivemos isso no Brasil na década de 90 com as privatizações, o salário diminuiu e o desemprego disparou”, recordou.

Membro da executiva nacional da CUT, Júlio Turra rechaçou qualquer ataque à legislação trabalhista e frisou que “o negociado, só pode se sobrepor ao legislado quando vier para ampliar direitos, nunca para retroceder”. Em meio à violenta crise na qual se encontram mergulhados os países capitalistas centrais, lembrou Julinho, falar em flexibilizar direitos para incentivar a “competitividade” equivale a se alinhar com os retrocessos sociais propostos pelos donos do capital para maximizar seus lucros.

Dirigente da Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA) e vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Laerte Teixeira, frisou que “as medidas de austeridade não têm dado certo”. Aplicadas na Grécia, em Portugal e Espanha, “e a Itália é a próxima”, alertou Laerte, essas medidas não oferecem qualquer sustentação aos empregos existentes. “Não podemos deixar que os trabalhadores paguem novamente a conta da crise”.

O presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Ubiraci Dantas de Oliveira, disse que ”se os movimentos estão explodindo por toda a Europa é porque seus governos estão tentando implantar uma política de terra arrasada, substituindo o Estado pelo privado. Esta é a política do capitalismo financeiro, que enche o bolso dos banqueiros e especuladores com o dinheiro tirado dos salários e das aposentadorias, com o dinheiro sangrado dos investimentos”.

O secretário geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves (Juruna), acredita que a ação unitária das centrais brasileiras não apenas mostra a solidariedade militante com a classe trabalhadora europeia, mas um aviso aos que querem impor uma agenda de retrocesso aos direitos dos trabalhadores e ao próprio país.

Em nome da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Nilton Francisco defendeu que as centrais se mantenham mobilizadas e alertas para impedir que as forças do atraso e do retrocesso ataquem a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e suas conquistas.

Representando a CSP-Conlutas, Dirceu Travesso (Didi), sublinhou que a unidade e a mobilização das centrais é essencial para fazer frente ao “peso da crise econômica que o imperialismo quer colocar sobre as nossas costas”. “Se essas medidas passarem na Europa, nós ficaremos mais fragilizados aqui. Agora, no Brasil, há

quem fale em ‘flexibilizar’ as relações de trabalho, em ‘modernizar’, para abrir caminho ao capital, com a Justiça ao seu lado, a fim de retirar direitos”, denunciou.

Uma delegação da IndustriALL Global Unión,  entidade que representa a 50 millhões de trabalhadores dosetor mineiro, energético e industrial em 140 países, também esteve presente ao ato. Segundo o secretário adjunto da IndustriALL, Fernando Lopes, o mundo todo está de olho nesta jornada de luta europeia contra as políticas de financeirização da economia. “Não há saída para a crise no apoio a bancos, mas em investimentos na indústria e na geração de empregos de qualidade”, frisou.

Vindos da Argentina, Canadá, Colômbia e Estados Unidos, lideranças da Coordenação de Trabalhadores da Rede Gerdau se somaram ao ato. “Neste momento em que a classe trabalhadora europeia sofre com a agudização da crise, a nossa palavra comum é de estímulo à luta e resistência”, declarou Jorge Garcia, coordenador da rede.