Da mesma forma que o golpe não usa mais canhões e fardas, a privatização também ganha outros ares e, sem alarde, é encaminhada pelo governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB) de maneira fatiada para amenizar a repercussão.
Nesta semana, o Banco do Brasil (BB) anunciou o fechamento de agências e o presidente da Caixa Econômica Federal, Gilberto Occhi, apesar de afirmar que o banco não seguirá o mesmo caminho, indicou fechar os pontos deficitários.
Coordenador da Comissão Executiva dos Empregados da Caixa, Dionísio Siqueira, aponta que o objetivo primordial dos golpistas é reduzir o papel da Caixa, único banco ainda 100% público no país.
“Você começa a ver corte no Minha Casa Minha Vida, na oferta de crédito, o não aporte do governo para empréstimos. Aliado a isso, vemos notícia de que os juros do BB e da Caixa já são maiores do que o do mercado. Isso tudo é uma forma de restringir o acesso do público ao crédito e, além de dificultar a saída da crise, ainda descapitaliza o banco”, explicou.
O remédio final para isso, aponta Siqueira, é bem conhecido pelos brasileiros. “No final, como houve na Europa, é o sistema financeiro quem irá dar a solução, vai vir com um pacote de privatização dos bancos públicos, aumento de impostos e retirada de direitos, como já vemos.”
Em pedaços
De acordo com o dirigente, o plano de privatização de Temer tira das mãos do país até mesmo setores lucrativos, como a loteria.
“O plano de privatização posto pelo governo é feito em pedaços. A Caixa Seguridade já está na mira, já criaram uma empresa chamada Lotex para vender a parte da loteria, algo que lembra, inclusive, o projeto de mudança de nome da Petrobrás para Petrobrax, do Fernando Henrique Cardoso. E vendem a parte lucrativa, a loteria, que é instantânea e tem muito recurso”, falou.
Outro risco, alerta Dionísio Siqueira, é o banco abrir mão do Fundo de Garantia, vendendo a ideia de que aumentaria a rentabilidade se todos os bancos pudessem operar.
“Isso reduziria o controle e a segurança do fundo para os trabalhadores, além de enfraquecer o poderio da Caixa para fazer política de habitação e programas sociais. O banco tem crescido muito e só não avança mais por conta das políticas que o governo está implementando”, criticou.
Negociação – A Contraf (Confederação dos Trabalhadores no Ramo Financeiro) discutirá essa questões em negociação marcada com a empresa para esta quinta (24) e sexta-feira (25). Também na pauta, as novas normas que cortaram funções, principalmente as operacionais, como de caixa, que afetam diretamente a população.
As reuniões acontecem paralelamente a mobilizações de organizações sindicais que também lançaram nessa quarta (23) a campanha “Se é público, é para todos” em defesa das estatais e dos investimentos em serviços públicos.
Custo da transferência
Para refrescar a memória de quem não viveu a privatização dos bancos públicos, o secretário de Organização do Ramo Financeiro da Contraf, Carlindo Dias de Oliveira,o Abelha, alerta para os impactos que a venda do patrimônio traz para o país.
“Ao trabalhador, fica a insegurança de permanecer ou não, há a perda de benefícios e, em pouco tempo, a junção das duas marcas resulta em enxugamento de pessoal. Se pegarmos a união do HSBC e do Bradesco, por exemplo, vamos ver que o primeiro tinha 19 mil trabalhadores e o segundo, 89 mil. Só que o Bradesco já caminha para ter o mesmo quadro de antes da fusão, porque o ramo aposta na rotatividade”, pontuou.
Uma rotatividade que ocorre com a demissão do trabalhador no topo da pirâmide para contratação com menor salário e menos benefícios. Esse cenário impacta diretamente na qualidade do serviço prestado ao público.
“Além disso, ao perder o caráter público, o banco deixa de ter como meta principal financiar o desenvolvimento, oferecer juros mais baixos, incentivar a produção agrícola, a habitação de menor custo, o desenvolvimento das empresas. E isso vem acompanhado de terceirização, os bancos privatizados passam a jogar o cliente que quer ir à boca do caixa, por exemplo, para bancos postais ou auto atendimento”, definiu.
VIA CUT