Em artigo publicado no jornal baiano A Tarde, os economistas Claudiane de Jesus e Pedro Gilberto Cavalcante Filho afirmam que a venda de ativos da estatal no estado derrubou número de postos de trabalho e salário médio dos trabalhadores
Por Claudiane de Jesus e Pedro Gilberto Cavalcante Filho*
Com a saída da Petrobras do Estado da Bahia, o setor de petróleo e gás tem sofrido uma das piores crises na geração de emprego e renda de sua história. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, utilizando a média anual dos trimestres de 2021, enquanto o estoque de trabalhadores no setor petrolífero no Brasil reduziu 2,4% em comparação com a média do ano passado (de 159.086 postos de trabalho em 2020 para 155.227 em 2021), no Estado da Bahia a queda foi de nada menos que 28,9% (de 25.877 em 2020 para 18.328 em 2021).
A renda média do setor também caiu. Ainda segundo a PNAD, enquanto os trabalhadores do setor de extração e respectivas atividades de apoio sofreram uma redução média nos seus rendimentos de aproximadamente 9,5%, na Bahia, a queda nos salários do setor de óleo e gás chegou a 22,9%, saindo de um patamar de renda média próximo a R$ 7.180,00 em 2020 para algo em torno de R$ 5.140,00 em 2021.
Embora a pandemia possa ser considerada como um dos motivos para a diminuição nos postos de trabalho, o movimento decrescente no mercado de trabalho baiano é um fenômeno que vem ocorrendo simultaneamente ao início do programa de desinvestimentos da Petrobras. Ou seja, desde o final de 2015, quando a companhia passou a se desfazer de uma série de ativos na região, a exemplo dos campos terrestres na bacia do Recôncavo e da recente venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM) para o fundo árabe Mubadala, agora renomeada por Refinaria de Mataripe.
Ao comparar o estoque de empregos no setor de óleo e gás na Bahia ao programa de desinvestimentos da Petrobras, é possível observar que no 3º trimestre de 2015 o setor empregava até 37.890 pessoas no Estado. Hoje, o setor ocupa menos de 8.760 postos de trabalho na região, de acordo com os dados do terceiro trimestre da PNAD 2021.
Os dados em tela revelam, portanto, que ao contrário do que querem acreditar alguns analistas de mercado, a saída da Petrobras de alguns segmentos ainda não surtiu um efeito positivo nem na geração de novos postos de trabalho, nem no aumento da renda. Pelo contrário, a falta de investimentos públicos, plasmados pela ineficácia da iniciativa privada nesse setor, coloca em dúvida até que ponto a desintegração da Petrobras é benéfica para a economia brasileira, em geral, e para a economia da Bahia, em específico.
Por fim, fica uma pergunta: quem ganha com tudo isso, uma vez que os efeitos negativos dessa política têm atingido não só os trabalhadores desse segmento como também a maior parte dos consumidores brasileiros?
(*) Claudiane de Jesus é economista e mestranda em Ciências Econômicas pelo Instituto de Economia da Unicamp, pesquisadora do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC-UFBA) e pesquisadora do Cenntro de Economia Política do Petróleo.
Pedro Gilberto Cavalcante Filho é economista e doutorando em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP) e pesquisador do Ceppetro.