Reunião da Executiva Nacional da CUT debate FMI e as instituições multilaterais

A Executiva Nacional da CUT, reunida no centro da capital paulista nos dias 5 e 6 de maio…

CUT

A Executiva Nacional da CUT, reunida no centro da capital paulista nos dias 5 e 6 de maio, contou em seu primeiro dia com participação de Fátima Mello, secretária executiva da FASE/REBRIP, convidada para contribuir no debate sobre conjuntura internacional e nacional, com o tema FMI e as instituições multilaterias.

Fátima Mello iniciou sua fala propondo uma reflexão sobre algumas questões: As instituições que existem hoje são adequadas ou não? Qual o papel destas instituições neste momento de crise? A partir dessas questões, Fátima fez uma recuperação histórica das instituições multilaterais – Banco Mundial, FMI, OMC, que segundo ela, fazem parte de um ciclo hegemônico anterior e que há décadas passam por uma "crise de identidade".

Sobre a atual crise econômica, Fátima afirma que se trata de uma crise do capitalismo e que está atrelada aos ciclos hegemônicos que se formam de tempos em tempos. A secretária recorre à queda do muro de Berlim em 1989 como um fato histórico que marca o encerramento de um ciclo, iniciado ao final da 2ª guerra mundial quando surgem as instituições que conhecemos. Segundo Fátima, em 1989 este sistema desmonta e estas instituições entram em crise.

Fátima lembra que um ciclo de recomposição de hegemonia teve início com o Consenso de Washington. "Esta hegemonia é quebrada em 1999 pelo movimento sindical, que questiona o Consenso de Washington e com isso, quebra as teses do neoliberalismo. Na última década, conseguimos fazer isso na América Latina. Porém, as instituições continuam ‘capengando’ tentando se adequar ao sistema mundial atual. Portanto, esta crise faz parte do processo de disputa de um novo ciclo hegemônico. As instituições são do ciclo anterior, por isso estão sempre em crise", diz.

Segundo a secretária, o G20 é uma novidade nesse processo, pois coloca os países emergentes na disputa deste rearranjo de forças e o Brasil faz parte disso. Entretanto, o centro do sistema tentando returbinar as instituições do ciclo antigo é uma preocupação. Por outro lado, a OMC, criada em 1995 num momento em que o neoliberalismo estava totalmente hegemônico, hoje tem suas teses – privatizantes – questionadas. "A crise abre a possibilidade de pensarmos como ativar circuitos na região, ou seja, pensar a produção, a distribuição e o consumo na nossa região. É hora de pensarmos numa relocalização de poder, ou seja, pensar em instituições regionais, onde as correlações forças são menores do que com China, EUA etc., destaca.

A respeito das várias interpretações que vem sendo feitas sobre o enfrentamento à crise, Fátima fala da importância dos debates sobre a necessidade de maior intervenção do Estado, mas alerta que é preciso ir além, incorporando temas como sustentabilidade, questões sócio-ambientais, climáticas entre outras. Fátima Mello alerta que a desigualdade de acesso é ponto central e cita como exemplo a Energia. "Há uma parcela da população que consome um exagero de energia e outro que nunca viu luz elétrica. A questão da desigualdade de acesso é crucial", diz.

Artur Henrique, presidente nacional da CUT fala da dificuldade deste debate com alguns setores ao tentar construir uma linha de atuação. "Como é possível convencer uma pessoa que nunca teve energia elétrica e de repente passa a ter, que ela só vai poder usar esta energia para acender lâmpadas (caso do programa Luz para Todos do Governo Federal), sendo que ela quer ter geladeira e outros eletrodomésticos!

Segundo Artur, o tema energia tem sido muito debatido no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES). "O que se gasta com educação no Brasil é irrisório e isso poderia ser revertido em educação ambiental, visando a redução dos gastos em energia. Por que a globo não dedica alguns minutos de seu intervalo comercial com educação e cidadania, pergunta Artur.

"Precisamos fazer um esforço para construirmos uma pauta única para o enfrentamento da crise, sem exageros, para que possamos ter mais poder de mobilização e que possa ter uma intervenção internacional. Reafirmar a pauta do trabalho decente, a luta por trabalho e salário, por sistema de seguridade decente", ressalta Artur.

"O movimento sindical está num momento histórico único que é o de abrir diálogo com outros setores tendo o trabalho como o centro deste debate. A CUT e o movimento sindical precisa ser capaz de puxar este diálogo, em busca da unidade para a retomada do processo de desenvolvimento", ressalta.

A CUT produzirá uma resolução sobre o tema instituições multilaterais como subsídios para um debate mais aprofundado a ser realizado em breve. O objetivo é focar o papel das instituições frente à crise com proposta de um novo modelo de desenvolvimento, com novos parâmetros de produção e consumo.