Resultado da Petrobrás no 2° trimestre de 2023 reflete mercado global e mudanças implementadas por nova gestão

Por Mahatma Ramos dos Santos[1]

A Petrobras divulgou na última quinta-feira (03/08) os resultados operacionais e financeiros do segundo trimestre de 2023 (2T23). O lucro líquido da companhia foi de R$ 28,7 bilhões e o pagamento de dividendos alcançou R$ 14,9 bilhões neste trimestre. Os destaques do período foram as mudanças na estratégia comercial de diesel e gasolina, aprovadas pela Diretoria Executiva da estatal em 16 de maio, e a implementação da nova Política de Remuneração dos Acionistas, instituída por seu Conselho Administrativo no último dia 31 de julho.

O principal vetor do resultado apurado pela Petrobras no 2T23 foi sua capacidade de geração de caixa, mesmo em cenário adverso. O período foi marcado pela redução de seus indicadores de produção de óleo e gás natural e queda na cotação internacional do petróleo (31%) e dos derivados de petróleo no mercado interno (28%), em especial, diesel (31%) e gasolina (24%), na comparação com mesmo trimestre do ano passado (2T22). O aumento do uso do fator de utilização de seu parque de refino, que alcançou 93% no 2T23 e a manutenção dos preços da gasolina e diesel acima da referência do PPI (calculada pela ANP) no mercado interno ao longo de abril e meados de maio, contribuíram positivamente para o resultado da companhia.

No segundo trimestre de 2023 , o lucro líquido da companhia foi de R$ 28,7 bilhões, valor 47% inferior que no mesmo trimestre do ano anterior (R$ 54,3 bilhões). Essa queda é explicada, em grande parte, por dois fatores. O primeiro, de caráter estrutural, é a deterioração de seus indicadores produtivos, decorrente de uma redução sistemática do volume de investimentos e venda de ativos estratégicos da companhia nos últimos anos. O segundo, de caráter conjuntural, a queda de 31,1% na cotação do petróleo (brent) no mercado internacional e de 28,6% no preço dos derivados no mercado interno, na comparação entre o 2T23 e o 2T22.

A receita total de vendas da Petrobras acompanhou a queda nos preços e registrou baixa de 33,4% na comparação anual, caindo de R$ 170,9 bilhões, no 2T22, para R$ 113,8      bilhões, no 2T23. A redução só não foi maior em virtude do aumento de 14 pontos percentuais (p.p.) do fator de utilização (FUT) do atual parque de refino da estatal, na comparação com mesmo trimestre do ano anterior, que alcançou maior nível desde o 3T15, com 93% de utilização. Esse desempenho reforça a estratégia da empresa de recuperar sua capacidade produtiva e market share.

Já a receita total com derivados no mercado interno caiu 29,1%, de R$ 127,2 bilhões no 2T22 para R$ 90,1 bilhões no 2T23. As quedas de 31% nos preços do diesel, derivado mais comercializado pela estatal, de 24% no preço da gasolina e de 30% no óleo combustível e outros 32% no GLP (gás de botijão) no mercado interno explicam a perda de receitas. Essa variação negativa nos preços refletem o mercado internacional e os sucessivos cortes aplicados nos preços desses derivados ao longo do primeiro semestre de 2023, cinco no caso do diesel e outros quatro na gasolina. O mercado nacional continua como principal fonte de renda da Petrobras e, no 2T23, representou 79% da receita total da companhia.

No mercado externo, a queda de 45% no saldo líquido de exportações/importações, que saiu de R$ 43,7 bilhões no 2T22 para R$ 23,6 bilhões no 2T23, também esteve associada à diminuição no preço do brent e ao menor volume de exportações de petróleo cru (queda de 47,7%) e de óleo combustível bunker (redução de 41,4%), na comparação com 2T22. Neste trimestre, os principais destinos das exportações de petróleo da Petrobras foi o mercado chinês e europeu. Já as exportações de derivados se concentraram, assim como nos últimos 12 meses, nos mercados de Cingapura e EUA.

No período em análise, a Petrobras ampliou o seu nível de endividamento. A dívida bruta subiu 8,2% em comparação ao 2T22, saindo de US$ 53,6 bilhões para US$ 57,9 bilhões, em virtude, sobretudo, do aumento de arrendamentos de FPSOs no período. Com isso, a companhia alcançou uma relação dívida líquida/EBITDA de 0,74 no presente trimestre.

Os investimentos da companhia totalizaram US$ 3,2 bilhões no 2T23, montante 5,5% superior valor investido no 2T22, de R$ 3,0 bilhões. Esse é o maior montante trimestral investido pela estatal, ao menos, desde o 1T18. Na comparação entre o primeiro semestre de 2023 e o mesmo período do ano anterior, os investimentos registaram salto significativo de 41,3%.

Em comunicado ao mercado, ontem (03/08), a Petrobras anunciou, em alinhamento a sua nova política de remuneração aos acionistas, aprovada no último dia 31/07, a distribuição de R$ 14,9 bilhões na forma de dividendos (R$ 1,149 por ação ordinária e preferencial), valor 39% inferior ao valor pago no 1T23 (R$ 24,7 bilhões) e inferior em  83% ao pago em 2T22 (R$ 87,8 bilhões). É o menor valor desde distribuído desde o 4T20 (R$ 10,3 bilhões) e já indica uma mudança no perfil da gestão da companhia, que passa a ampliar o volume de investimentos operacionais estratégicos e reverter a desastrosa política de pagamento de megadividendos, como observado em anos anteriores.

O resultado operacional e financeiro da Petrobras no segundo trimestre de 2023, em síntese, refletiu os impactos negativos de fatores conjunturais, como a queda da cotação do petróleo no mercado internacional, assim como apontou para mudanças na gestão comercial e operacional da estatal, agora com menor ênfase na distribuição de dividendos no curto prazo e voltada a manutenção da lucratividade estatal, recuperação de sua capacidade operacional, em especial de seu atual parque de refino, e significativo aumento dos investimentos produtivos.

De toda forma, ainda é preciso avançar na revisão da estratégia de negócios herdada das gestões anteriores, observando o interesse público e a ordem econômica constitucional, que podem ser assegurados com garantia do desenvolvimento e soberania nacional, redução das desigualdades e busca permanente por autonomia tecnológica do país e da Petrobras, em direção à transição energética e justa.

[1] Diretor Técnico do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), doutorando em Sociologia na UFRJ.