E agora, Petrobras?
O gerente da BW Offshore, responsável pela FPSO Cidade de São Mateus, onde em fevereiro deste ano uma explosão matou nove trabalhadores, feriu 26 e deixou outros 39 traumatizados, foi indiciado pela Polícia Federal por homicídio doloso e lesão corporal grave, que podem lhe render até 20 anos de prisão. A decisão é resultado da investigação do acidente, que constatou que o gerente sabia da possibilidade de explosão na plataforma e, mesmo assim, permitiu a continuidade da operação, sem que nada fosse feito para garantir a segurança dos trabalhadores. O inquérito foi enviado ao Ministério Público Federal na quinta-feira (17), para que o órgão se posicione se vai ou não oferecer a denúncia.
Segundo a Polícia Federal, um detector portátil, encontrado na roupa de uma das vítimas, alertou sobre o grau de explosividade da casa de bombas da FPSO, onde ocorreu o vazamento de gás. A investigação revelou que, próximo ao momento do acidente, o detector já havia sinalizado 100% do limite máximo de risco, o que foi registrado por rádio e chegou ao conhecimento do gerente da plataforma que, mesmo assim, continuou enviando trabalhadores para o local da explosão.
Na quinta-feira (17), a ANP divulgou o seu relatório sobre o acidente e responsabilizou também a Petrobrás pelas mortes no navio plataforma. A estatal, apesar de ser a contratante da BW e operadora do campo onde a empresa prestava serviços, descumpriu 28 itens do Sistema de Gerenciamento de Segurança Operacional. O relatório da ANP revelou que “decisões gerenciais tomadas pela Petrobrás e BW Offshore, ao longo do ciclo de vida do FPSO Cidade de São Mateus, introduziram riscos (…) que criaram as condições necessárias para a ocorrência deste acidente maior”, como destaca a página 13 do documento.
A investigação constatou ainda que a principal causa da explosão foi a estocagem inadequada de condensado, que não estava prevista no contrato assinado entre a Petrobrás e a BW. Entre outras falhas de gestão apontadas pela ANP como causas do acidente estão degradação do sistema de cargas, equipes de trabalhadores despreparadas, operações equivocadas, equipamentos impróprios, exposição dos trabalhadores ao risco, além da adoção de materiais inadequados em uma atmosfera explosiva. Tudo isso sob as barbas da Petrobrás, que permitiu que a FPSO se transformasse em uma bomba relógio, com 74 trabalhadores a bordo. Até quando os gestores da empresa continuarão impunes, enquanto crimes como o da FPSO continuam ocorrendo sem que nada seja feito?
Fonte: FUP