Replan pune trabalhadores na tentativa de pressionar e enfraquecer movimento de greve

 

No dia 23 de setembro, o operador e membro da Cipa Rogério Pieroni anexou, no quadro de comunicados do setor de Transferência e Estocagem da Replan, onde trabalha, cópias de três reportagens publicadas em jornais sobre a venda de ativos da Petrobrás e o aumento salarial dos diretores da companhia. Pieroni achou as notícias interessantes e decidiu divulgá-las aos colegas de trabalho. Só não imaginou que sua atitude lhe renderia uma punição.

Outros petroleiros também foram surpreendidos com advertências nos últimos 40 dias. Coincidentemente, o “presta atenção” começou a pipocar na Replan após a aprovação em assembleias, pela maioria dos trabalhadores, da greve nacional da categoria. “Pode ser uma estratégia da empresa para pressionar os trabalhadores e tentar enfraquecer nosso movimento”, afirma o coordenador da Regional Campinas do Unificado, Gustavo Marsaioli. 

Além de Pieroni, chegou ao Sindicato a informação de que a empresa repreendeu, entre setembro e outubro, mais quatro operadores. O diretor do Sindicato Jorge Borges Nascimento, da Mecânica, foi punido por causa de “atrasos frequentes”. Marcos São José, da UT, recebeu advertência por ter realizado o exame médico periódico anual após o prazo estipulado. Antonio Eduardo Fernandes, da TE, também diretor do Unificado, levou três chamadas: duas por não ter feito uma amostra de soda e o check list e, a terceira, por conta da sua liberação para participar de reunião da diretoria sindical não ter sido avisada com 24 horas de antecedência.

 Suspensão

A mais grave das ocorrências, entretanto, foi a atribuída ao operador da Mecânica Walter de Paula Lacorte Júnior. Ele recebeu suspensão de 15 dias por “ter desrespeitado a chefia com o uso de palavras de baixo calão”. Lacorte conta que discordou da orientação determinada pelo interino do supervisor para a realização de um serviço. “Eu contestei porque a mudança proposta por ele iria atrasar a entrega do serviço, como realmente aconteceu”, comentou Lacorte.
O argumento, entretanto, foi ignorado e o petroleiro se irritou. “Em 10 anos na Replan é a primeira vez que falo grosserias a um supervisor. Na verdade, o interino já vinha pegando no meu pé há um tempo. Eu acabei perdendo a cabeça porque ele me desrespeita todo dia, mudando o que eu faço. Isso é perseguição política por causa da posição que tenho no setor”, desabafou.

 Político partidária

No caso de Pieroni, que trabalha na refinaria há 23 anos e faz parte da Cipa, a advertência chama a atenção porque, segundo ele, o pessoal do setor de TE sempre colocou brincadeiras e reportagens no mural e nunca houve problema. Dessa vez, entretanto, ele foi convocado para uma reunião com o supervisor, CTO e gerente setorial e acusado de publicar matérias político partidárias, infringindo o Código de Conduta da Petrobrás. “Eu contestei que as notícias tivessem caráter político ou partidário, mas o CTO e o gerente insistiram que tinha”, contou. Pieroni recebeu uma advertência, que foi registrada no GD.

Segundo o petroleiro, o gerente disse que ele faltou com o respeito quando mexeu no quadro do TE e que deveria ter assinado as notícias e não se manter no anonimato. Além disso, declarou que essa advertência era a atitude mais leve que ele poderia ter tomado diante da conduta do trabalhador. “Eu discordei da punição e avisei que vou contestá-la por escrito”, declarou.

Pieroni relata que já havia sofrido ameaça de punição tempos atrás. “Na minha gestão anterior da Cipa, o supervisor já havia me alertado que eu seria advertido caso deixasse meu serviço para fazer atividades da Comissão. Essa não é a primeira vez que tentam me prejudicar”, afirmou.

 Atrasado

O operador Jorge, que atua como dirigente sindical, ainda está indignado com a advertência que recebeu neste mês de outubro. Ele conta que faz faculdade à noite e cursa algumas matérias durante o dia. Há um ano e meio, quando teria que começar a fazer as disciplinas no horário diurno, Jorge conversou com o gerente para compensar as horas, mas não teve acordo. Ele combinou, então, com a supervisão que chegaria atrasado alguns dias e descontaria essas horas do seu salário. Ele explica que atrasa cerca de cinco horas por mês. “Todas as horas atrasadas são devidamente descontadas”, justifica.

No entanto, no dia 13, Jorge recebeu um DIP, alegando que “seus atrasos de forma sistemática e não justificados vêm provocando impactos negativos às atividades do setor”. “Não faz o menor sentido essa advertência, até porque o nosso Acordo de Trabalho estabelece que a companhia facilite o estudo e, na empresa, existem vários casos de trabalhador que estuda à noite e cursa matérias em outros horários, que são tratados diretamente com a gerência local, sem transtornos”, comentou.

Jorge conta que, em nenhum momento, alguém da chefia conversou com ele sobre os atrasos. “Ninguém falou comigo sobre o problema, simplesmente fui convocado para dar ciência ao DIP e não assinei porque não concordo com as alegações da empresa”, disse.
O diretor do Unificado resumiu de forma clara e direta o que está ocorrendo hoje, na Replam. “Há um ponto em comum nessas ocorrências. Todos os trabalhadores punidos são líderes do setor e ligados, de alguma forma, ao Sindicato. O que está acontecendo é puro politicismo”, afirmou.

 

Fonte: Sindipetro Unificado de São Paulo