Repar volta a operar acima da capacidade permitida pela ANP

 

Sete meses após o acidente que paralisou toda a produção durante 22 dias, no final de novembro do ano passado, a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária (Grande Curitiba), voltou a produzir acima da sua capacidade, no mesmo patamar dos meses anteriores ao problema na unidade de destilação, quando vinha batendo recordes de refino.

Em junho, último dado disponível, a média de processamento diário foi de 208,5 mil barris de petróleo, acima da capacidade máxima de 207,5 mil barris autorizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Via assessoria de imprensa, a Petrobras nega que a Repar tenha operado com carga superior à autorizada pela ANP.

Na última quarta-feira, a refinaria registrou um novo incidente. Uma falha em uma bomba reserva do sistema de lubrificação da unidade de craqueamento catalítico (uma das etapas do refino) fez com que toda a produção tivesse de ser direcionada para o sistema de alívio da refinaria. A quantidade incomum de chamas e fumaça que saía das tochas da Repar assustou os moradores do entorno da refinaria, que chegaram a acionar o Corpo de Bombeiros.

“Desta vez, o sistema de alívio funcionou bem, mas a produção não parou durante a falha. Queimou muito dinheiro ali”, diz o presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro), Mário Dal Zot. Segundo a Petrobras, a unidade parou parcialmente.

O episódio chamou a atenção, mais uma vez, sobre o limite razoável para uma operação segura em uma planta do tamanho da Repar – algo estimado entre 85% e 90% do potencial, segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. Em quatro dos seis primeiros meses deste ano, a refinaria produziu acima da capacidade autorizada.

Para o consultor na área de refino Carlos Alberto Luna Freire de Matos, o problema não é operar no limite ou até mesmo acima da capacidade, mas estender a campanha da refinaria, ou seja, o tempo em que ela fica operando sem pausa para manutenção. “Isso põe em risco toda a operação”, diz.

Segundo Matos, diante de um cenário de déficit de combustíveis, a tendência é a de que os dirigentes das refinarias peçam para a área técnica esticar o espaço entre essas paradas para manutenção, prática que aumenta as chances de acidentes. A última parada técnica programada da Repar aconteceu em agosto de 2010 e durou mais de um mês. Em média, essas pausas maiores para inspeção e manutenção dos equipamentos acontecem a cada quatro anos.

A Petrobras não divulga o plano de paradas das refinarias. Segundo a empresa, trata-se de informação estratégica para a companhia, já que os eventos de manutenção afetam diretamente a capacidade produtiva da empresa e, consequentemente, a forma de atendimento do mercado. “Hoje, custa caro demais parar a produção para fazer manutenção preventiva, o que é um problema. É como um carro. Para rodar em segurança, é preciso fazer revisões periódicas”, afirma o advogado Cláudio Pinho, consultor na área de petróleo e gás.

Com parque de refino no limite, Petrobras bate novo recorde

Com o aumento das importações de petróleo para abastecer a crescente demanda interna nos últimos anos, todo o parque de refino da Petrobras, composto por 12 refinarias, passou a operar no limite da capacidade. Em junho deste ano, a média mensal atingiu um novo recorde de 2,18 milhões de barris de petróleo por dia, superior ao anterior de 2,15 milhão de barris diários, obtido em março deste ano.

Para especialistas, o respiro na capacidade no parque de refino depende de obras que estão com o cronograma atrasado. Ao todo, quatro grandes projetos estão em andamento: as refinarias Premium I e II, no Maranhão e no Ceará, respectivamente; o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj); e a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Com esses projetos, a capacidade do parque de refino aumentaria em 1,3 milhão de barris por dia.

Atraso

Sem a entrada em operação de novas refinarias nas últimas três décadas, a capacidade do parque de refino brasileiro ficou defasada. A última planta de refino inaugurada no país, em 1980, foi a Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos (SP). “Até 2010, teríamos de ter capacidade para processar 400 mil barris a mais, mas entramos em 2014 com a mesma capacidade de anos atrás. Já deveríamos ter pelo menos mais duas refinarias em operação”, afirma Carlos Alberto Luna Freire de Matos, consultor na área de refino. Segundo ele, ainda vamos viver um período crítico na área de refino por mais alguns anos.

 

Para o advogado Cláudio Pinho, consultor na área de petróleo e gás, a sobrecarga das refinarias é resultado da falta de planejamento. “Não temos política futura de combustíveis. O represamento dos preços acabou estimulando o consumo de gasolina e aumentando as importações. Além disso, não construo uma refinaria da noite para o dia, ou seja, o déficit do setor de refino já tem anos de atraso”, afirma.

Fonte: Jornal Gazeta do Povo