Por Tadeu Porto (@tadeuporto), colunista do Blog O Cafezinho, diretor do Sindipetro-NF
Reinaldo Azevedo se pegou, na noite do dia 09 de Junho de 2016, chateado com a Federação Única dos Petroleiros, pois não conseguiu entender o porquê de uma greve de 24 horas contra o Golpe de Temer com forte inclinação a entrega dos bilhões de reserva de petróleo no Pré-sal.
Como eu sou bonzinho, e estou de bom humor pelo andamento da greve dos petroleiros e petroleiras, vou explicar a ele e tentar estancar essa angústia que deve estar sentindo no peito por não entender que a classe trabalhadora, numa democracia, também tem direito de se manifestar, inclusive por uma greve que é regulamentada pela Lei nº 7.783/89.
Vamos considerar, a priori, que Reinaldo não entende nada de petróleo. Penso ser plausível tal conclusão interpretando alguns textos dele, por exemplo:
1) o novo presidente da Petrobrás não se “entrega a chicanas partidárias” (Parente acumulou uma vaga no CA da Petrobrás e nos ministérios da casa civil e do “apagão” do FHC, mas ele não participa dessas “chicanas”, aparentemente. Estava lá por coincidência mesmo);
2) Que a extração de barril de pré-sal esteve, em janeiro desse ano, U$62,00 (bizarrice que já comentei aqui);
3) Que o projeto do Serra, possível fruto de um lobby que Wikiweaksrevelou (também já comentei a preocupação das empresas com os fornecedores AMERICANOS) é bom para o país.
Bom, a democracia permite que cidadãos escrevam o que quiser, entendendo ou não sobre o assunto, desde que não cometa algum crime em suas palavras. E confesso que me peguei surpreso por RA ofender a FUP [eu até enxergo certa calúnia na coluna dele, mas prefiro responder na dialética de textos] que é uma instituição republicana, democrática e reconhecida pela legislação brasileira.
E por que isso me é estranho?
Oras, pois os olhos republicanos de Azevedo parecem ter uma flexibilidade especial quando se trata das instituições brasileiras. Por exemplo, aquele texto emblemático “ódio a Cunha é ódio a democracia” foi de uma fofura incrível, parecia a Agnes do filme “Meu Malvado Favorito”. Vamos relembrar o texto escrito para a Folha:
“Como sou um fanático da democracia representativa e um discípulo de Montesquieu, eu o aplaudo [Cunha]” (…)
“Sim, eu sei que Cunha é um dos investigados da Operação Lava Jato. Caso venha a ser colhido por algo que eventualmente tenha feito (ou que não tenha) – e torço para que seja inocente –, será uma pena”
Reinaldo até considerou que Cunha pode ser “colhido por algo” que eventualmente não tenha feito… É muita doçura!
Além disso, atentem para algo igualmente interessante: sobre a federação que representa a categoria petroleira, dentro da lei, não tem nada de “fanático da democracia representativa”. Ademais, não pesa contra a FUP sequer investigações, nem na lava-jato e nem em lugar nenhum, portanto, numa busca de coerência entre as palavras do Reinaldo – sei que pode ser inútil mas não perco a fé na humanidade – não consigo entender a lógica de proteger Eduardo Cunha sob a armadura de presidente do legislativo e atacar, sem pudor ou conhecimento, uma das maiores federações de trabalhadores e trabalhadoras brasileiras.
A FUP luta, hoje, por aquilo que ela acredita ser melhor para o país: um projeto nacionalista para o aproveitamento do petróleo como um todo no Brasil. Ou seja, que a exploração, a produção, o refino e os devidos tratamentos movimentem a cadeia produtiva nacional, não só gerando emprego a petroleiros e petroleiras, mas também a metalúrgicxs do setor naval, engenheirxs e pesquisadorxs de inovação tecnológica, petroquímicos, empregadxs da construção civil e afins. Até outro dia, com a ideia de Petrobrax que Pedro Parente votou enquanto ministro, a cadeia produtiva do petróleo brasileiro deixava lucros e empregos no exterior.
E para não ficar só nas críticas ao blogueiro da Veja, respondo, aqui, os questionamentos que ele colocou em sua coluna:
Em primeiro lugar, lutamos, e muito, nos governos do PT. Como exemplos, cito a segunda maior greve da nossa história, que pautou o preço internacional do barril de petróleo e foi num momento de fragilidade da Dilma em Novembro de 2015 (a Forbes destacou que nossa greve foi por razões não corporativas) e a primeira interdição de uma plataforma – marco da luta por saúde e segurança – nas vésperas da eleição de 2010.
Em segundo lugar, temos total noção do que é (neo)liberalismo. Possuímos, inclusive, experiência material com essas políticas que buscam o lucro sem considerar variáveis expressivas, como a qualidade de vida do trabalhador e da trabalhadora, a ponto de mandar uma plataforma inteira para o fundo do mar (a P36 que produzia 80mil barris por dia, pode fazer as contas do quanto de dinheiro ela deixou de fazer) e matou onze petroleiros que tentaram combater o incêndio no local. Sem contar na redução drástica do quadro de funcionários, da perda de conquistas históricas e, sem esquecer, da corrupção que não é investigada e deixa até o réu confesso Cerveró estarrecido.
Por fim, destaco que a Petrobrás só está no abismo para entreguistas, que talvez seja um rótulo o qual Reinaldo se identifica, que não enxergam que a geopolítica do petróleo reproduz um cenário extremamente adverso para as petroleiras de todo o mundo e, assim como na crise de 60 quando sete viraram quatro irmãs, só as mais fortes sobreviverão.
Basta saber se Azevedo é brasileiro o suficiente para enxergar que a Petrobrás (que já foi considerada, no segundo mandato do Lula, uma nova “sete irmã”) é competente para sair dessa crise como foi para descobrir a maior reserva de petróleo da história recente. Ou se ele é só mais um que, desde Getúlio, tenta entregar nossa riqueza a nomes internacionais.
E, convenhamos, eu nem estou pedindo muito, Reinaldo…
Só espero que seu republicanismo democrata trate os petroleiros e petroleiras com a sutileza e educação que você entrevistou o então presidente da câmara, o conservador que gosta de Pink Floyd, Eduardo Cunha. Não custa nada, não é verdade?
Fonte: Blog O Cafezinho