Não é de hoje que os sindicatos e a FUP têm denunciado a insegurança nas refinarias e cobrado da Petrobrás providências em relação à situação caótica em que se encontram diversas unidades. Apesar da ampliação e modernização do parque de refino, a empresa não aumentou, como deveria, os efetivos próprios, principalmente, os técnicos de segurança. Para piorar, algumas refinarias estão tentando retirar esses profissionais do turno, aumentando, ainda mais os riscos, ao deixarem as áreas operacionais descobertas. Na Reduc (Duque de Caxias), alguns técnicos de segurança já foram transferidos para o horário administrativo. Na Regap (Minas Gerais), que tem protagonizado uma série de acidentes, a gerência está tentando fazer o mesmo. A FUP e seus sindicatos têm se mobilizado para impedir essa e outras manobras das gerências que colocam em risco a vida dos trabalhadores, o patrimônio das refinarias, as comunidades vizinhas e o meio ambiente. O caso Chevron deveria servir de lição para a Petrobrás.
Inquérito na Replan
No início de março, o Ministério Público do Trabalho instaurou um inquérito para apurar as denúncias do Sindipetro Unificado-SP e dos trabalhadores da Replan (Paulínia/SP) sobre os riscos devido ao reduzido efetivo da Brigada de Incêndio. Além de permitir que essa equipe atue com número insuficiente de trabalhadores treinados para lidarem com situações de emergência, a Replan não cumpre o seu procedimento interno, nem o ACT, que determinam que a Brigada seja composta por técnicos de segurança.
Redução de custos e de efetivos
Por conta dos resultados negativos acumulados pelo Abastecimento, a Petrobrás tem se utilizado de uma política equivocada de redução de custos, com impactos diretos na segurança, como cortes de treinamento, redução de efetivos, terceirização das equipes de Higiene Ocupacional e até mesmo de algumas brigadas de incêndio. Um dos principais problemas relatados pelos sindicatos é a redução do número mínimo nos turnos, cuja justificativa é atribuída aos cortes de orçamento.
Na Recap (Mauá/SP), os trabalhadores denunciam cenário caótico, com dobras de turno em excesso, em função da redução de efetivos, principalmente nas novas unidades da refinaria, como a H2S, que sofreu incêndio e vazamento recentemente. Na Repar (Paraná), a gerência tentou partir uma caldeira com apenas quatro grupos de turno, desrespeitando a jornada de trabalho garantida pelo ACT. A manobra só não foi adiante devido a uma incisiva intervenção do Sindipetro-PR/SC, que fez a gerência recuar e manter os cinco grupos de turno.
Nesta semana, a FUP voltou a cobrar da Petrobrás a conclusão das negociações de efetivos na Repar e o início imediato dos estudos na Regap, conforme acordado com os trabalhadores no Acordo Coletivo.
Comissão Nacional de Benzeno comprova riscos na Rlam
No último dia 21, a Comissão Nacional Permanente do Benzeno (CNPBz) realizou uma visita técnica à Rlam, na Bahia, onde há vários casos de contaminação por benzeno. A Comissão constatou uma série de irregularidades e ficou estarrecida com o sucateamento dos equipamentos e a grave situação de risco dos trabalhadores.
Ficou claro o descaso, a negligência e a omissão dos gestores com a saúde e segurança dos petroleiros, o que demonstra que o Acordo Nacional do Benzeno não é cumprido na refinaria. A CNPBz confirmou as denúncias e relatos dos representantes dos trabalhadores na última reunião da Comissão e cobrou que a Rlam apresente em até 45 dias um plano de ação para resolver cada um dos 32 pontos emergenciais levantados pelo Grupo de Trabalhadores do Benzeno (GTB).
Entre as principais denúncias feitas pelo GTB e comprovadas pelos integrantes da Comissão estão coleta de amostras em sistemas abertos com emanação de vapores orgânicos e benzeno para a atmosfera; drenagem de equipamentos com produtos contendo benzeno diretamente para o chão, diques e canaletas abertas; vazamento de benzeno em válvulas, flanges, amostradores e selos de bombas; grande vazamento de hexano em um adsorvedor; falta de controle médico e de avaliação da higiene em relação aos empregados terceirizados; não registro de avaliações em emergências ambientais; não reconhecimento dos casos de benzenismo na refinaria; terceirização de todo efetivo da higiene ocupacional para uma presumível manipulação dos resultados das avaliações ambientais; dentre outros.
A Rlam teve dois grandes vazamentos de benzeno recentemente, que contaminaram trabalhadores, um deles diagnosticado com leucemia. O GTB tem vários relatos de contaminação na Rlam e tornou a frisar que a exposição ao benzeno é um dos principais fatores de doenças ocupacionais na unidade.