Uma rápida olhada na repercussão sobre a decisão do Banco Central em cortar a taxa básica dos juros em 0,5%, nesta quarta-feira (31), mostra quem são os verdadeiros responsáveis pela desigualdade social no Brasil.
Uma enorme quantidade de “economistas” altamente remunerados encastelados nas redações dos jornais, rádio e televisão, no Itaú, Bradesco, HSBC, Banco Votorantim, Citibank e Morgan Stanley nos encheram de análises do tipo: “é uma ruptura que reduz a transparência (sic) e aumenta a dificuldade de se prever os próximos passos”, ou ainda, “diminuir juros agora é passar uma noção de fraqueza” e “essa decisão é um ataque à autonomia do Banco Central”.
Isso é, no mínimo, indecente. Quando eles pressionam pelo aumento da taxa de juros, é legítimo, é transparente. Afinal, estão lutando pelos seus interesses, estão aumentando seus lucros com a especulação financeira. Gerar emprego e renda – a não ser a sua própria – não é problema deles.
Desde abril de 2011, quando a Selic estava em 8,75%, eles começaram a pressionar, usando as concessões públicas de rádio e televisão e seus capachos em alguns jornais. Fizeram várias “previsões” do quanto a taxa de juros deveria aumentar às vésperas de cada reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária) . De lá para cá foram oito aumentos: saiu de 8,75% e foi para 12,5% em julho de 2011.
Para que os trabalhadores e a sociedade possam analisar o que isso significa, basta dizer que cada ponto percentual de aumento na taxa afeta o orçamento dos brasileiros em cerca de R$ 19 bilhões a mais – a população é que paga, através de impostos, para que o Governo retire do orçamento da saúde, da educação, dos investimentos e pague para eles na forma de juros sobre a dívida.
Durante esse período, portanto, eles GANHARAM mais de R$ 71 BILHÕES DE REAIS com esses aumentos e você não viu eles falarem em transparência, fraqueza do Banco Central etc.
Eles sabem que a redução de meio ponto percentual, decidida esta semana, ainda foi pequena diante das taxas internacionais e, pior, foi compensada pela decisão do Governo em poupar o excedente de arrecadação, ampliando o superávit, que deve chegar a R$ 10 bilhões até o final do ano. O corte de 0,5% equivale a R$ 9,5 bilhões, quase o mesmo valor da expectativa de sobra de arrecadação. Ou seja, ficou “elas por elas”.
Isso tudo sem falar no crime cometido pelos bancos que cobram taxas de juros absurdas no cartão de crédito e no cheque especial, além daquelas tarifas cobradas pelos bancos que, só com isso, pagam a folha de pagamento dos milhares de trabalhadores.
É urgente a convocação de uma CONFERÊNCIA DO SETOR FINANCEIRO para que toda a sociedade participe do debate sobre a democratização do Conselho Monetário Nacional, da regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, do papel e da responsabilidade social dos bancos e fundos de pensão neste País.