Recap: trabalhadores da Engemon conquistam avanços após greve e mobilização inédita

Segundo diretor do Sindipetro Unificado, greve é mais uma consequência do predatório modelo de contratação adotado pela Petrobrás, que resulta na perda de direitos dos trabalhadores

[Da comunicação do Sindipetro Unificado]

Trabalhadores da empresa Engemon que atuam na Refinaria de Capuava, em Mauá (SP), realizaram uma paralisação marcada por episódios de pressão, tentativas de negociação frustradas e, ao final, uma conquista que ficou registrada na memória coletiva daqueles que fizeram uma luta inédita. O movimento, organizado pelos próprios trabalhadores, foi representado pelo Sintec/SP e teve apoio do Sindipetro Unificado.

A mobilização começou ainda antes de março, quando ocorre o dissídio da categoria. Os trabalhadores tentaram negociar diretamente com a empresa, mas foram orientados a buscar interlocução por meio do Sintec/SP (Sindicato dos Técnicos Industriais do Estado de São Paulo). A primeira proposta apresentada pelo grupo foi rejeitada, e a contraproposta da empresa ficou muito abaixo do reivindicado. Diante do impasse, os trabalhadores começaram a organizar ações coletivas e optaram pela deflagração da greve, decisão tomada em assembleia, com respaldo do sindicato da categoria.

As paralisações, que alternaram atrasos durante uma semana e a suspensão das atividades por um dia, demonstraram a disposição de luta do grupo na defesa de seus direitos, mas sempre buscando o diálogo com a empresa. “Somos todos profissionais qualificados, atendemos às exigências contratuais e queremos um pouco de atenção e respeito por parte da empresa”, afirmou uma das lideranças da mobilização, anonimamente, por temer represálias, acrescentando que o objetivo era tornar visível a insatisfação coletiva com as condições de trabalho, sem a intenção de prejudicar a contratante e a contratada.

As principais pautas envolviam reajuste salarial, igualdade nos valores de vale-alimentação e vale-refeição, além de um plano de saúde mais adequado às necessidades dos trabalhadores. “Não achamos justo estar ganhando VA e VR desiguais e um plano de saúde que não nos atende”, relatou uma liderança do movimento.

A mobilização contou inicialmente com cerca de setenta participantes. Uma das lideranças do movimento exaltou essa participação expressiva, especialmente considerando que muitos dos envolvidos atuam na fiscalização de serviços e em funções administrativas, segmentos que tradicionalmente têm menor presença em mobilizações. “É muito difícil ter todo esse pessoal do nosso lado. Somos administrativos e fiscais de campo, não temos a força da parte de execução para sermos ouvidos”, explicou uma das lideranças.

Durante a greve, relatos de assédio moral e ameaças de demissão se intensificaram. De acordo com os trabalhadores, houve inclusive menção a uma lista com nomes de grevistas que seriam dispensados. O clima de tensão aumentou e gerou receio entre os participantes. “Ficamos preocupados. Mas ao mesmo tempo, optamos por buscar esta vitória, algo que confortasse, pois já que não chegamos no valor que queríamos, que melhorasse a situação do trabalhador que ganhava um VA de R$ 400 com dois, três filhos em casa”.

Cabe ressaltar que boa parte dos trabalhadores da Engemon lotados na Recap já atua na unidade há bastante tempo, trata-se de pessoal especializado, conhecedor da unidade, ambientado com a rotina da refinaria de Capuava e que pode fazer muita falta na Parada Geral de 2026. “Eu e a maioria aqui nunca participou de uma greve. Mas sabemos do nosso valor profissional. Se acontecer minha demissão, terei que procurar outro emprego. Foi a decisão que nós tomamos”, relatou funcionário da Engemon.

Renato Felippe, diretor do Sindipetro Unificado, destacou que “o sindicato esteve à disposição para auxiliar os trabalhadores da Engemon naquilo que estivesse dentro dos limites de sua competência sindical, mas esse apoio não se encerra aqui, pois agora vem a fase do pós-greve. Infelizmente, já recebemos relatos de perseguição velada aos manifestantes.” O diretor também destacou os relatos de assédio por parte de chefias de crachá-verde: “Já alertamos a Direção da unidade a esse respeito, isso não pode acontecer mais e o ocorrido precisa ser apurado”, completou. “O Sindipetro Unificado esteve conosco todos os dias. Foi um apoio muito importante”, disse uma das lideranças do grupo, que também agradeceu a atuação da advogada do Sintec/SP, Sílvia Bodnariuc. “A advogada nos apoiou desde o início. Sem ela, não conseguiríamos avançar com as comunicações formais e o processo legal”, completou.

Ao final do movimento, com a adesão diminuída após pressões internas e externas, os trabalhadores aguardaram a audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho, onde um acordo foi firmado. Apesar de não terem conquistado todas as reivindicações econômicas, o destaque foi a preocupação com as pessoas. “Não era só por dinheiro. Lutamos por um convênio médico que atenda de verdade e pelo direito de mães apresentarem atestados para cuidar dos filhos doentes”, afirmou um integrante da mobilização. “Foi uma luta pela vida das pessoas”, completou.

Ainda assim, muitos relatam tristeza e frustração, especialmente ao perceberem que, para a empresa, não são vistos como profissionais qualificados, mas apenas como “postos” a serem ocupados. “Começamos em 70, terminamos em apenas 20. Mas conquistamos pelos mais de 130 trabalhadores. Isso é o que importa. Mostramos que temos força e que somos capazes de lutar por nossos direitos”, concluiu uma das lideranças do movimento.

“A mobilização de companheiros de nível técnico foge do usual, mas não se trata de fato isolado, é apenas o avanço do progressivo desmonte promovido pelo predatório modelo de contratação adotado pela Petrobrás. Cada qual tem a sua parcela de culpa: a Petrobrás por sempre priorizar o menor custo na contratação, mesmo que isso resulte na queda de qualidade dos serviços prestados, e as contratadas por aceitarem ser signatárias de um contrato draconiano que dificulta a realização dos serviços contratados. Nessa luta de gigantes, quem sofre é o trabalhador, que tem seus direitos rebaixados ou suprimidos para garantir o lucro do empregador. Portanto, a greve não é bagunça, é sim a reação extrema e legítima à um processo injusto que não contempla os interesses dos trabalhadores”, conclui Renato Felippe.