*Por Divanilton Pereira
Em junho do ano passado, ao analisar o plano de negócios revisado pela então nova presidenta da Petrobras, SenhoraGraça Foster, registrei em artigo (www.fup.org.br/2012/noticias/opinião/2219498-divanilton-pereira), nossas preocupações quanto aos novos métodos e caminhos a serem implementados no sistema Petrobras.
Já naquele período, na política mais geral, Graça Foster – sem querer fazer maiores especulações – cometeu um desastre tático. Todas as vezes que se coloca no centro das decisões e elaborações apenas o foco pela gestão técnica em detrimento da política, a resultante não poderia ser diferente: Ela colocou a Petrobras na mira e conseguiu armaraté a então sem discurso oposição direitista do Brasil.
Não à toa, o PSDB realizou um seminário em Brasília no dia 12 último,visando debater e elaborar projetos para “salvar” a Petrobras. Aécio Neves proclamou ao término: “precisamos reestatizar” essa empresa. Sem comentários.
Lembro que o primeiro programa eleitoral que foi ao ar do então candidato Lula em 2002 foi gravado em frente àsede central da Petrobras no Rio de Janeiro. De lá, defendeu que a empresa fosse fortalecida e impulsionada para alavancar as inúmeras cadeias produtivas que a petrolífera gera. Defendia ele, por exemplo, a construção das plataformas no Brasil.
Foi dado ali o rumo estratégico dessa nova empresa: Ela deve ser um instrumental da soberania nacional e um meio para a consecução do novo projeto do desenvolvimento brasileiro. Posteriormente, o povo elegeu esse programa.
“EFICÁCIA” PARA QUEM E PARA ONDE?
Atualmente, sob a aparência da eficiência, se revisa algumas dessas perspectivas desse mesmo programa. A gestão Graça Foster ao afirmar que os primeiros anos seriam para “arrumar a casa” gerou, sobre alguns, a falsa ideia de que a empresa estaria sobre escombros, e que se faria necessário uma varredura em busca da eficiência, da meritocracia e do tecnicismo. São valores que estão sendo tomados isoladamente e induz a organização à instabilidade e a cenários incertos e duvidosos. Um prato cheio para os especuladores financeiros e para disputa política nacional.
O que apenas especulei no ano passado, revela-se hoje. Através do discurso do caixa “vazio”, fortaleceu, via revisão do último plano de negócios, uma política exportadora de óleo cru, reposicionando para revisões os projetos que são capazes de gerar o necessário valor agregado à economia nacional. Sob tais velhas premissas “reexaminam-se” e com isso retardam-se importantes projetos na área do refino, como os no Nordeste e o do COMPERJ. Além disso, recentemente, transferiu para a Ásia a contratação de importantes aquisições, em detrimento do “ineficiente” parque brasileiro.
UMA DIRETRIZ POLÍTICA DEVE RETOMAR O COMANDO
Face a esses fatos e tendências que se apresentam, orientando-se pela unidade e luta, precisamos interferir nesse processo para que a Petrobras não se restrinja a produzir lucros fabulosos aos acionistas privados – apesar de um direito – mas que a nova gestão também a intensifique como indutora da economia nacional e fortaleça os seusprojetos que visam diminuir as desigualdades regionais do país.
Não interessa o país ser um exportador de óleo cru. Essa diretriz foi derrotada nas urnas e até pela nova regulação do setor aprovada no congresso nacional.
O TRABALHO TAMBÉM SOB NOVO “AJUSTE”
No tocante aos direitos da força de trabalho, estes estão expostos como causa do “crescente e elevado custeio” em várias passagens no revisado planejamento. Dessa errônea conclusão surge o PROCOP – Programa de Otimização de Custos Operacionais – um programa contencioso e focado numa revisão agressora ao ambiente laboral que visa “economizar” potencialmente R$ 32 bilhões até 2016.
Integrada a essa diretriz, executam o PROEF – Programa de Eficiência Operacional – que prevê uma mobilidade profissional interna que institucionaliza a desmobilização dos ativos dos campos maduros, sobretudo na região Nordeste, já anteriormente afetada pela queda nos seus investimentos.
Além disso, de uma forma preconceituosa e sorrateira, afastam gestores que tiveram origem no movimento sindical. Jogando sob estes a pecha da desqualificação. Esse é o mesmo discurso que Lula enfrentou, e agora reaparece contra o novo presidente da Venezuela Nicolás Maduro. Uma estratégia a serviço do conservadorismo reacionário.
UMA PAUTA ESTRATÉGICA PARA AS TRABALHADORAS E OS TRABALHADORES
Essa circunstância política que passa a Petrobras, de uma forma geral, não está suficientemente clara para a nação, como também, até entre as trabalhadoras e os trabalhadores petroleiros.
Entre nós, são raras as agendas sindicais que contém essa pauta. Estamos que meio imersos numa agenda específica e pela dignidade remuneratória. É imprescindível, mas limitar-se a ela, continuará nos aprisionando nesse economicismo exclusivo, desgastando o sindicalismo e as frações de nossa classe.
Enquanto isso, outros disputam e até prevalecem dando rumos inapropriados aos objetivos estratégicos para a Petrobras.
Por um passo adiante.
Mãos à obra.
*Divanilton Pereira
Potiguar e Técnico de Petróleo. Membro do Comitê Central do PCdoB,da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
Observação: Dedico essa opinião, na passagem de aniversário dos meus 28 anos nos quadros da Petrobras completados hoje, 14.03.2013, a uma geração que comigo também ingressou.