"Desafio de Dilma é avançar no modelo de desenvolvimento", afirma o diretor da FUP e dirigente nacional da CTB







Como avalia o resultado do processo eleitoral de 2010?

As eleições no Brasil ocorreram num momento muito importante dentro da realidade mundial. O povo conquistou, através de suas lutas, uma nova quadra internacional, onde o mundo não está mais polarizado por uma única potência, por uma única nação, ou seja, vive uma tendência multipolar. O Brasil integra este movimento e lidera um continente que tem um papel importante para que esta tendência se acelere ainda mais. Por isso, as eleições 2010 tiveram um papel estratégico não só para o Brasil, mas para o nosso continente. O seu resultado favorece e estimula a necessária integração política e econômica da América Latina.

O povo brasileiro, o grande protagonista político desse processo, descortinou mais uma vez seu futuro. Criou as condições para que nosso país alcance um novo padrão civilizacional.

No que pese a expressão dessa conquista, muita disputa política condicionará seus resultados. O novo centro formal de alianças do governo central e a crise capitalista intensificando-se na Europa – um terço de nossas relações comerciais advém desse continente – já tenciona o novo Governo por agendas e proposituras anti-trabalho.

Outro aspecto importante a registrar é o amadurecimento de nosso povo, rompendo preconceitos, primeiro escolhendo um operário para presidente da República, agora uma mulher para realizar a travessia desenvolvimentista que a nação almeja.

Como se deu a participação da CTB neste processo?

As grandes mudanças e a sustentação dessas transformações dependem também da iniciativa dos movimentos sociais e sindicais. Nestas eleições, a CTB, consciente de seu papel, definiu com clareza o seu lado e sua posição apoiando a até então candidata Dilma Rousseff. A Central entendeu a importância de garantir a continuidade de um Governo Popular que mudou não só o cenário político, mas também possibilitou uma reconfiguração social no Brasil.

A CTB que teve um papel destacado na realização da CONCLAT – evento histórico que elaborou um documento propondo um novo projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho – ajudou a posicionar os trabalhadores nessa disputa eleitoral.

No que pese seu novo momento, os movimentos sociais no Brasil, com destaque para CTB, tem clareza ainda dos impasses e desafios estruturais e sociais que o país ainda enfrenta. Da mesma maneira que foram fundamentais para constituição dessa nova realidade, serão imprescindíveis para a conquista de novos e necessários avanços para o país.

Quais as perspectivas para o próximo governo?

O principal desafio do governo Dilma é avançar no modelo de desenvolvimento iniciado por Lula. Para isso, Dilma tem um elemento importante que é o apoio institucional-parlamentar. Tivemos uma mudança da correlação de forças no Congresso Nacional mais favorável ao atual governo.

Mas temos, também, uma novidade, ou incerteza, o PMDB, que tem sido o pêndulo dos últimos resultados eleitorais no Brasil e que agora ocupa a vice-presidência. Diferente de um partido pequeno, o PR, como do ex-vice-presidente José Alencar.

Outro elemento novo é quadra macro econômica internacional. A crise capitalista, que se manifestou intensamente em 2008 e agora atinge mais fortemente a Europa, já vem criando maiores dificuldades e pressões ao governo Dilma Rousseff. Ameaças de cortes no orçamento, rebaixamento na valorização do salário mínimo, elevação taxas de juros, dentre outras ameaças a classe trabalhadora são uma prova disso.

Nesse cenário, como já disse, os movimentos sociais terão ainda mais um papel decisivo para que o êxito do Governo Dilma signifique conquistas políticas, econômicas e sociais para a classe trabalhadora brasileira.

Penso que a relação dos movimentos sociais com o Governo Lula deixou muitos ensinamentos, mais um é imprescindível para que algumas organizações sindicais façam uma auto-crítica: se perderem a independência política diante do Governo, inviabilizarão os avanços necessários para a nossa classe.

E qual sua opinião sobre a Petrobras sob o Governo Dilma?

A Petrobras sob o governo Lula voltou a ser um dos principais instrumentos da indução econômica nacional. Foi resgatada enquanto símbolo da soberania nacional. No entanto, ainda permanece diversas contradições no foco de sua gestão , nas relações trabalhistas, com destaque para o seu descontrolado nível e modelo de contratação dos serviços contratados.

A Petrobras com o advento do pré-sal torna mais complexa sua transição para uma grande empresa internacional de energia. O novo marco regulatório posiciona a empresa com enormes responsabilidades e desafios em nome do interesse nacional.

Nesse cenário a Petrobras no governo Dilma tende a ter a mesma continuidade estratégica, mas penso que teremos muito enfrentamento político para superarmos os gargalos gerenciais que ainda permanecem na condução da empresa. Caberá ao movimento sindical também a tarefa de enfrentá-los e garantir os interesses coletivos dos petroleiros.

Outra contradição que já vem repercutindo sobre as áreas consideradas maduras – com destaque para o nordeste brasileiro – é a concentração de investimentos para os grandes centros potenciais ou produtores. Penso que esse deva ser o foco maior de nosso enfrentamento estratégico com o governo e a empresa. Reconhecemos o complexo processo de financiamento do pré-sal, mas não podemos admitir que se transforme em justificativa para desmobilizar os demais ativos.

Como avalia a experiência na campanha como candidato a Deputado Federal?

Foi uma experiência nova, apesar de ter sempre uma participação ativa em todos os processos eleitorais. Foi uma candidatura definida quase as vésperas da convenção eleitoral do nosso partido, o PCdoB. Dentre outras nossas limitações, isso também condicionou o resultado alcançado.

Foi uma oportunidade de apresentar-me ao Estado como filho do trabalho e obcecado pelo desenvolvimento. A luz de um diagnóstico das carências estruturais do Rio Grande do Norte, sobretudo de sua infra-estrutura, que condiciona seu padrão de crescimento, apresentamos nossas propostas classistas para que o nosso estado se integre ao novo ciclo da realidade econômica regional e nacional.

Ter ocupado os mais variados espaços e ter relacionados com boa parte da diversidade social do povo potiguar, foi um grande aprendizado, um grande acúmulo. Busquei fazer a minha parte nessa tarefa que recebi.

Aproveito para agradecer a todas e todos que acreditaram e defenderam nosso projeto.

Recentemente, você representou a CTB nacional durante encontro de ONGs na China. Como foi a reunião?

O evento revela o esforço do governo chinês em estabelecer intercâmbio buscando o aperfeiçoamento de sua democracia, apresentando as organizações convidadas a relação e a constituição das ONGs naquele país.

Respeitando as particularidades das nações, seus estágios de desenvolvimento, suas culturas e suas histórias, o intercâmbio local e internacional, também se apresentam como meios importantes para o avanço civilizacional sustentável. A diversidade da humanidade e os seus desafios contemporâneos exigem realizações como essa que participamos.

O encontro mostrou-se, a partir de seus propósitos programáticos, em fina sintonia com as demandas da nova realidade mundial.

Quais os destaques?

Em função de o evento ter uma caracterização focada nas ONGs, isso repercute sobre o conteúdo abordado e debatido. Desta forma, o roteiro e o conteúdo preparado pelas organizações chinesas permitiram um conhecimento da modelagem das ONGs na China, que impressiona pela sua múltipla diversidade de objetivos. Expressa o nível de organização da sociedade chinesa.

Tivemos atividades em que conhecemos um pouco mais a cultura e as tradições do povo chinês. As visitas às cidades e províncias como de atividades econômicas especiais, revelam a força das tradições do povo chinês e a capacidade de planejamento do sistema.

Outro destaque foi o seminário sobre Direitos Humanos na China, nele os presentes apresentaram suas definições conceituais e as realidades em seus países.

Qual avaliação da participação da CTB neste encontro?

Éramos uma delegação composta por 09 membros (um norte-americano, 02 indianos, 02 russas, 02 ingleses e uma vietnamita, além de mim pela CTB/Brasil). Em um encontro como esse e num país como a China, nós aprendemos mais do que repassamos. Mesmo assim, considero satisfatória nossa participação por ter levado a experiência política e organizacional da classe trabalhadora brasileira, sobretudo do período mais recente.