Quem lucra e quem paga a conta do desmonte da Petrobrás?

 

O anúncio dos resultados da Petrobrás no segundo trimestre de 2019 está sendo festejado pelos gestores da empresa, pelo governo e pelo mercado. Não poderia ser diferente.  Os R$ 18,8 bilhões que a Petrobrás “lucrou” foram obtidos às custas da entrega do patrimônio público, projeto principal da equipe econômica do governo Bolsonaro.

Não por acaso, no mesmo dia do fechamento do balanço da empresa, o ministro do mercado, Paulo Guedes, voltou a repetir que seu objetivo é “vender todas as estatais federais”.

Segundo o INEEP, somente neste segundo trimestre do ano, a Petrobrás aumentou os seus desinvestimentos em US$ 12,7 bilhões, a partir da venda da Transportadora Associada de Gás (TAG), de campos de petróleo e de ativos no exterior, como a Refinaria de Pasadena e o complexo de distribuição de derivados no Paraguai.

Os números do balanço da Petrobrás comprovam a relação direta entre os resultados operacionais e financeiros da empresa e a política de privatização e desinvestimentos, cujo foco é única e exclusivamente gerar lucros para os acionistas e para o sistema financeiro.

Sem investimentos, a produção de petróleo segue estagnada. Entre os segundos trimestres de 2018 e 2019, a produção de óleo e gás caiu 1%, passando de 2,66 milhões de barris por dia para 2,63 milhões de boe/dia.

Para piorar, a gestão da Petrobras tornou a reduzir o plano de investimentos, que caiu de US$ 16 bilhões para US$ 11 bilhões. Segundo o INEEP, a empresa está postergando as atividades de perfuração, o que irá “retardar a exploração e produção de poços com alto potencial de receita” e deixar a companhia “cada vez mais refém dos movimentos internacionais do barril do petróleo e da produção do pré-sal que, diga-se de passagem, ainda não tem sido capaz de alavancar a produção nacional em função da postergação de novos investimentos e do abandono dos campos maduros”.

As refinarias também continuam produzindo com baixa carga. A produção de derivados caiu 4,1% entre o segundo trimestre de 2018 e o segundo trimestre de 2019, passando de 1,841 milhões de barris processados por dia para 1,765 milhões de barris.

Além de servir como álibi para tentar justificar a venda das refinarias, a redução proposital da carga do parque de refino beneficia as importadoras de derivados, que despejam no mercado brasileiro combustíveis trazidos de fora, se aproveitando da política de preços internacionais que é praticada aqui pela Petrobrás. E quem paga a conta dessa equação é o consumidor.

Outra consideração que precisa ser feita em relação aos resultados da Petrobrás é que a empresa continua se beneficiando de fatores externos, como o dólar e o preço do barril do petróleo. Entre o primeiro e o segundo trimestre de 2019, o BRENT aumentou 9%, passando de US$ 63,20 para US$ 68,82, e o dólar subiu 4%, variando de R$3,77 para R$ 3,92.

Ao reduzir o tamanho econômico e a importância política da Petrobrás, a gestão Bolsonaro intensifica a desnacionalização do setor de óleo e gás, colocando para escanteio a indústria nacional, que já está nas cordas em função do desmonte promovido pela Lava Jato. Prejuízo para a sociedade e lucro para os acionistas e investidores estrangeiros.

Quem paga essa conta são milhões de brasileiros desempregados, jovens e adultos sem perspectivas de um futuro digno.

Quem paga a conta são as famílias que foram obrigadas a voltar a cozinhar com lenha ou carvão por causa do preço exorbitante do botijão de gás.

Quem arca com essa conta são os caminhoneiros que continuarão pagando caro pelo diesel importado dos Estados Unidos.

Quem paga a conta é a classe média, que continuará consumindo uma das gasolinas mais caras do planeta.

Quem paga a conta são as crianças e as próximas gerações de brasileiros, que correm o risco de viver em um país sem soberania energética, rico em petróleo, mas dependente e refém das nações estrangeiras.

Enquanto isso, os mercadores festejam os bilhões que lucram com o maior desmonte de uma empresa petrolífera já visto no mundo. Um recorde, de fato.

[FUP]