Nos últimos meses, a Petrobras retornou aos noticiários de todo o país devido ao seu lucro de mais de R$ 10 bilhões obtido no segundo trimestre de 2018. O alto faturamento da companhia foi comemorado. Porém, pouco foi dito sobre o que motivou este resultado e como essas cifras estão impactando no bolso da população brasileira.
O Brasil de Fato conversou com o coordenador licenciado da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel, sobre a política de preços da Petrobras, a importância da empresa para o país e a consequência que uma privatização pode ocasionar.
A Petrobras registrou no segundo trimestre lucro líquido de mais de R$ 10 bilhões. Esse lucro está sendo apontado como 257% maior do que no primeiro semestre de 2017. O que tem causado este aumento nos lucros da empresa? A população está pagando algum preço pelas cifras tão elevadas da Petrobras?
O lucro da Petrobras, basicamente, quem está pagando é a sociedade brasileira. A gasolina está custando hoje cerca de R$ 5 nas bombas e o botijão de gás R$ 80, sem contar o diesel. É um lucro que tem grande parte do seu percentual relativo aos abusivos preços dos derivados e, outro aspecto que contribuiu para o aumento do lucro da empresa foi a alta do preço do barril do petróleo. Se compararmos com o segundo trimestre de 2017, vemos um aumento de quase 100%. O barril custava 49 dólares e hoje já chegou a bater quase 80 dólares. E, por fim, não menos importante, está a redução no custo da extração da Petrobras e isso graças a excelente lucratividade dos campos do pré-sal que o presidente entreguista da Petrobras (Pedro Parente) desdenhou. O pré-sal é que reduz drasticamente o preço de extração da Petrobras.
Como o aumento internacional do preço do barril do petróleo nos últimos meses tem influenciado a política de preços da Petrobras?
A direção da Petrobras continua insistindo em manter a paridade internacional nos preços aqui de dentro em relação ao que é praticado lá fora. Vejam vocês o porquê deste absurdo. O preço de extração da Petrobras está custando cerca de 40 dólares o barril. E a Petrobras, com essa insanidade de praticar preços internacionais, faz com que o brasileiro pague um derivado no mercado internacional que é de 80 dólares o barril. Essa é uma consequência gravíssima para o país.
“Nós pagamos a segunda gasolina mais cara entre os 20 maiores produtores do mundo”
A Petrobras é uma empresa estratégica para o Brasil. Ela é a que mais investe em pesquisa e desenvolvimento, a que mais contribui com o Produto Interno Bruto (PIB). Porém, nos últimos dois anos, uma orientação política pautada em privatizações e redução do papel da empresa tem estado cada vez mais presente. Qual o impacto que a privatização da Petrobras pode causar no Brasil?
A privatização tem vários aspectos danosos. Primeiro, é aquele no bolso. Nós pagamos a segunda gasolina mais cara entre os 20 maiores produtores do mundo. Segundo, é o fato de perdermos competitividade em nossa engenharia, visto que tudo virá de fora, inclusive o conhecimento. Terceiro, a geração de emprego. Quarto, a questão da precarização de trabalho e, por fim, algo que é fundamental: a soberania do nosso país.
Estamos no período eleitoral. A gestão do país para os próximos 4 anos será decidida em outubro. O eleitor precisa ficar atento a quais questões relacionadas a cadeia do petróleo na hora de escolher um candidato?
As eleições deste ano definirão os rumos do nosso país para os próximos 30 anos e no setor de petróleo principalmente. Nós temos ainda a oportunidade de reverter todo esse desmonte que foi feito na cadeia de petróleo e gás. Um desmonte que foi muito bem orquestrado, no sentido de transferir não só o petróleo que nós produzimos no pré-sal, mas também toda a cadeia produtiva, quer seja a construção de navios e plataformas lá fora, quer seja a importação de máquinas e equipamentos sem o pagamento de impostos, como foi aprovada a MP do Trilhão*. Temos a oportunidade ainda de fazer com que o petróleo seja a redenção para o povo brasileiro com recursos para a saúde e educação e também com geração de emprego e renda.
* Medida Provisória (MP 795/2017) que concede benefícios fiscais a empresas petrolíferas que atuarão em blocos das camadas pré-sal e pós-sal, inclusive por meio de isenções para importação de máquinas e equipamentos.
[Via Brasil de Fato | Edição: Mariana Pitasse]