Apesar de o governo Michel Temer comemorar o que chama de fim da recessão, 900 mil brasileiros deixaram de integrar as classes A e B no ano passado, quando considerado o critério de renda. É o que aponta um levantamento do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. Boa parte dos que foram rebaixados passou a integrar a classe C. O movimento é inverso ao que aconteceu nos governos do PT, quando 32 milhões ascenderam das classes D e E à C.
De acordo com o estudo do Bradesco, a classe A – composta por famílias com renda mensal de R$ 11.001 ou mais – perdeu 500 mil pessoas. Esta classe passou a ser formada por 10,3 milhões de indivíduos em 2017, o que representava 4,9% da população.
Já a classe B – composta por aqueles que têm renda familiar total entre R$ 7.278 e R$11.001 –saiu de 11, 4 milhões de integrantes em 2016 para 11 milhões no ano passado.
Os dados indicam ainda que a classe C cresceu 3,6% em 2017, quando era composta por 113,1 milhões de pessoas, um acréscimo de 3,9 milhões de brasileiros em relação ao anterior. Essa classe média – de renda familiar total entre R$1.819 e R$7.278 – representava 54% da população.
A tendência é confirmada pelos cálculos de outro levantamento. De acordo com a Consultoria LCA, 441 mil pessoas deixaram as classes A e B em 2017. Por este estudo, a classe A – limitada pela consultaria àqueles com renda familiar per capita superior a R$ 3.566 – recuou de 13,1 milhões para 12,8 milhões de pessoas, uma baixa de 2,3%.
A classe B – que no levantamento inclui as pessoas com renda familiar per capita entre R$ 1.009 e R$ 3.566 – perdeu 100 mil integrantes, uma queda de 0,2%. Pelas contas da LCA, a Classe C – com renda família per capita de R$ 369 a R$ 1008 – aumentou 1,3%, saindo de 81,7 milhões para 82,8 milhões.
“De modo geral, o declínio dos brasileiros para camadas menos favorecidas refletiu a crise ainda presente no mercado de trabalho no ano passado. Apesar do início de recuperação do emprego, essa melhora se deu por postos de trabalho informais, geralmente de baixa qualidade e menores salários. Ao mesmo tempo, o setor privado seguiu fechando vagas com carteira assinada”, diz reportagem do Valor Econômico sobre o assunto.
O Bradesco destaca que, nos anos anteriores à crise – ainda sob o governo do PT – a ascensão de famílias para a classe C foi um dos grandes fenômenos sociais do país. Segundo o banco, 18,8 milhões de pessoas passaram a integrar a classe C entre 2007 a 2012, impulsionados pelo crescimento econômico, oferta de empregos e crédito mais farto.
Agora, o aumento da classe C se dá pela razão oposta: perda de renda entre as classes mais altas. A rigor, talvez seja exagero classificar como elite econômica essa parcela que desceu um degrau na pirâmide social, já que famílias com renda mensal de R$ 11 mil talvez sejam melhor enquadradas como classe média alta.
De acordo com o Bradesco, o número de brasileiros na classe E passou de 40,3 milhões em 2016 para 38,6 milhões em 2017. Já a LCA estima um incremento de 7,9% dessa classe social. A diferença é explicada pela faixa de renda usada para definir a classe E. No caso do Bradesco, é usado o conceito da renda familiar de até R$ 1.100. Já a LCA usa a renda per capita de R$ 178.
O Bradesco utilizou em seus cálculos a renda de todas as fontes (salários, aposentadoria, aluguéis etc.) da Pnad de 2015. Os dados de 2016 e 2017 foram atualizados pela renda do trabalho Pnad Contínua trimestral. Ambas as pesquisas são do IBGE. As faixas de renda seriam próximas das praticadas pela FGV Social.
No caso da LCA Consultores, as estimativas foram realizadas com base na renda de todas as fontes da Pnad Contínua anual de 2016 e 2017. As faixas de renda selecionadas seguem o chamado Critério Brasil, da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), atualizadas pela inflação. Esse critério gera faixas de renda para as classes a partir de estatísticas como posse de bens duráveis pelas famílias.
[Com informações do Valor Econômico]