Mesmo com a declaração do governo federal de que não retomará as negociações com os professores federais, em greve há 82 dias, pelo menos 15 universidades já decidiram em assembleia manter a paralisação, que conta com 60 das 62 instituições de ensino e com 34 dos 38 institutos federais de educação.
“Vamos recorrer a caminhos superiores. Estamos solicitando agora uma audiência com a ministra do planejamento [Miriam Belchior] e com o ministro da Educação [Aloizio Mercadante], já que no nível de secretários a negociação não evolui mais”, afirmou o vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Luiz Henrique Schuch.
A declaração diz respeito ao secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, que encerrou as negociações com os professores em 25 de julho, com uma segunda proposta de reajustes entre 25% e 40%, até 2015. Os docentes avaliaram que ela não assegura a progressão na carreira nem garante ganhos reais.
A Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes) foi o único dos três órgãos que representam os docentes que aceitou a proposta e assinou o acordo com o governo federal, na última sexta-feira (3). Ela reúne oito universidades federais, mais professores de 21 instituições, espalhados em 77 campi. O Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe), que congrega cerca de 300 campi dos Institutos Federais de Educação Técnica, e o Andes, que representa 51 universidades federais, recusaram a proposta.
As universidades filiadas ao órgão devem realizar assembleias até a meia-noite de hoje (7) para definirem os rumos do movimento. Até agora 15 instituições de ensino já realizaram as reuniões e todas decidiram por continuar a greve.
São elas a Universidade Rural do Semi-Árido e as universidades federais de Minas Gerais, Piauí, Paraíba, Amazonas, Roraima, Amapá, Uberlândia, Espírito Santo, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio Grande do Sul – sendo que as seis últimas são filiadas ao Proifes. A instituição entende, de acordo com sua assessoria de imprensa, que se trata de grupos ligados ao comando de greve, que não representam a maioria dos sindicatos.
O presidente da Proifes, Nilton Brandão, admite que a proposta do governo não contempla a reivindicação salarial dos servidores, mas atenderia a algumas exigências da federação. “Conseguimos garantir a progressão para o titulado e avaliamos que a carreira agora está melhor do que antes. Quanto aos salários, não avançamos significativamente.”
O vice-presidente do Andes discorda. “Entendemos que o governo forjou uma finalização com um pseudo-acordo com uma entidade que é parceira dele”, avalia Schuch. “Amanhã estaremos em massa no Congresso pedindo que parlamentares reivindiquem individualmente e nas comissões em que atuam que não se encerre a negociação de um movimento legitimo de uma categoria de trabalhadores.”
Além disso, os professores esperam fortalecer o diálogo com os reitores, para que eles usem sua autonomia e influência política para apoiar o movimento. Na manhã de hoje, representantes dos docentes se reuniram com o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Almeida Guimarães, pedindo que a entidade reconheça a greve e flexibilize prazos para estudantes que pretendem concorrer a bolsas de estudo.
“Ou o governo dialoga, e isso é um movimento dos dois lados, ou a greve segue forte enfrentando essa posição, até que haja um retrocesso”, afirma Schuch. Apenas a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade Federal de Itajubá (Unifei) não aderiram ao movimento.