Privatização de refinarias pode levar a apagões no abastecimento, alerta INEEP

“A Petrobras está se retirando completamente da distribuição do gás natural, e isso nos coloca diante de uma série de incertezas num momento em que o gás ganha importância em função da crise hídrica e da necessidade de diversificar a matriz energética”. O alerta foi feito na última quarta-feira (04/08) pelo pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Henrique Jäger, destacando ainda para o fato de que a privatização das refinarias da estatal no Norte e Nordeste do país poderá provocar “apagões” regionais no fornecimento de combustíveis.

Jäger falou no Pauta Brasil, programa produzido e veiculado pela Fundação Perseu Abramo, em palestra sobre “Gás natural e refinarias: a Petrobras está sendo retalhada”, do qual também participou Alexandre Finamori, diretor do Sindipetro-MG, e que foi mediado por Artur Araújo, da Fundação. O histórico da Petrobras, seu papel no desenvolvimento do Brasil, o impacto provocado pela Lava Jato na empresa e na economia do país, a atual política de preços e a privatização foram os principais temas tratados ao longo do programa.

Jäger comentou sobre o projeto de privatização do atual governo federal para as unidades da Petrobras: “O projeto é de desconstrução da integração do país. A Petrobras foi fundamental no crescimento do Brasil. O que se está fazendo agora é desconstruir. É quase uma volta ao debate da década de 1950 entre desenvolvimentistas e entreguistas que achavam que o país não tinha de ter projeto de desenvolvimento e que tinha de ser um agroexportador”.

“O presidente Jair Bolsonaro, quando flerta com o passado da ditadura militar, flerta também com a colonização do Brasil”, disse, por sua vez, Finamori, referindo-se ao fato de a Petrobras estar reduzindo suas atividades no refino, se voltando para a exportação de óleo cru e levando o país a importar derivados de maior valor agregado.

 A importância do gás natural e do refino

Ao longo da palestra, Jäger lembrou que a partir de 2017, a Petrobras privatizou duas empresas transportadoras de gás natural – a TAG e a NTS -, e que anunciou recentemente a venda de sua participação na distribuição de gás para a Compass, controlada pela Cosan. Segundo ele, são movimentos que ocorrem em momento em que o país não pode manter a dependência das hidrelétricas como no passado, em que desponta como grande produtor de gás natural por conta do pré-sal, e em que o aumento da produção de energia por meio das meio das térmicas poderia ser incentivada.

As incertezas surgem também, segundo ele, diante da privatização fatiada das unidades de refino no país, num processo que rompe com a lógica de integração das refinarias e que leva aos monopólios privados e regionais. “Nós vamos ter apagões regionais, principalmente no Norte e Nordeste”, comentou o pesquisador do Ineep, diante de previsões de que haverá déficit de diesel e de gasolina, caso não se amplie a capacidade do parque de refino e sem articulação entre as refinarias do país, que se complementam.

Finamori comentou: “Não temos uma regulamentação clara para o refino. Assim, há a possibilidade de os compradores produzirem de acordo com os seus interesses. Se não tiver interligação das refinarias, em uma lógica de Estado, pode haver falta de derivado em alguma região”.

Assista na íntegra participação do Ineep:

[Do site do INEEP | Foto: Agência Petrobras]