Primeiro de abril de 1964, o retorno

 

Passados 55 anos do golpe militar, que em primeiro de abril de 1964 mergulhou o Brasil em duas longas décadas de ditadura, o país enfrenta novamente os desmandos de um governo  que enaltece torturadores, viola direitos e mente para o povo. Enquanto famílias de desaparecidos ainda lutam por justiça, o capitão-presidente Jair Bolsonaro evoca os quartéis a se levantar em defesa das atrocidades do regime militar.

Assim como hoje, a classe trabalhadora, os sindicatos e as organizações populares foram os principais alvos da ditadura. Na Petrobrás e em outras estatais, trabalhadores foram ameaçados, perseguidos e denunciados por serviços internos de inteligência, que agiam articuladamente com os órgãos de repressão. Os sindicatos sofreram intervenções e os dirigentes foram perseguidos e reprimidos.

Qualquer semelhança com o atual momento e com o que ainda pode estar por vir não é mera coincidência. Vide o Decreto 9.735/19 e a Medida Provisória 873/19, ambos inconstitucionais e editados por Bolsonaro para tentar asfixiar os sindicatos e, assim, impedir a resistência dos trabalhadores.

Os núcleos que apoiaram e deram sustentação à ditadura militar nos anos 60 e 70 são os mesmos que insuflaram o ódio contra o PT e a esquerda, a ponto de eleger um presidente forjado por fake news. Hoje se sabe que o golpe de 1964 foi gestado em conjunto com os Estados Unidos, sob o pretexto de salvar o Brasil do comunismo. O mesmo roteiro que elegeu Bolsonaro.

Na época, o então presidente João Goulart foi acusado de querer implantar no país uma “república sindical”, ao defender reformas sociais e o fortalecimento da Petrobrás. Foi derrubado com o apoio dos empresários, do sistema financeiro e da mídia, que, cinco décadas depois, golpearam a presidenta Dilma Rousseff.

Até agora o Brasil não se recuperou. O desemprego e a miséria só aumentam e os trabalhadores são chamados a pagar a conta de um golpe que mergulhou o país no caos político, social e econômico.  Enquanto isso, Bolsonaro finge que governa, propondo sandices, como as homenagens a 31 de março, uma data tão falsa quanto o seu governo. O golpe se deu em Primeiro de Abril, o dia da mentira, o que levou os militares a inverter a data.

Os capítulos seguintes dessa história nós conhecemos de cor. Os assassinatos, as torturas, os desaparecimentos, a censura, o Estado de Exceção não serão esquecidos, muito menos comemorados. O passado nos mostrou o caminho da resistência. Ditadura nunca mais.

434 mortos e desaparecidos

Em 2012, o governo Dilma Rousseff instalou a Comissão Nacional da Verdade (CNV), que durante dois anos e meio recolheu depoimentos e levantou uma série de dados sobre os crimes da ditadura. As investigações resultaram em um relatório com mais de quatro mil páginas, onde foram listados 434 mortos e desaparecidos, bem como as circunstâncias e autoria dos crimes. A Comissão responsabilizou 377 pessoas pelas mortes, torturas e demais violações aos direitos humanos, entre eles agentes das Forças Armadas, empresários e ex-ditadores.

“Um golpe de classe”

Além de assassinatos e torturas, a ditadura militar violou direitos dos trabalhadores, arrochou os salários, acabou com a estabilidade no emprego e impôs uma lei antigreve. “Os trabalhadores foram o objeto principal do golpe, que foi um golpe de classe. Um golpe contra uma ‘República Sindical´. Não era a questão comunista a principal, mas dar um golpe contra a causa dos trabalhadores. Isso tinha muito a ver com o Estado que eles queriam construir naquele momento. A repressão se abateu, principalmente, sobre a classe trabalhadora”, afirmou a jurista Rosa Cardoso, que coordenou a Comissão da Verdade.

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[FUP]