Presidente destituído no Paraguai convoca a manter resistência contra governo ilegítimo

Vermelho

O presidente paraguaio destituído na última sexta-feira (22), Fernando Lugo, afirmou nesta terça-feira (26), em entrevista à rede Telesur, que a partir da semana que vem percorrerá todo o Paraguai para esclarecer o que ocorreu durante o processo de julgamento político. Segundo ele, atualmente, há dois governos no país: um legítimo, eleito pelo povo, e um ilegítimo, responsável pelo golpe de Estado parlamentar.

O presidente deposto se referiu a um possível regresso à Presidência da República como algo difícil de acontecer. “Vejo como muito difícil que ocorra, porque já houve um acordo prévio entre os setores do poder, no entanto, nada é impossível. A resistência se mantém e nesta terça continuam as manifestações em diferentes estados no país”, afirmou.

À Telesur, Lugo disse que “seria um erro muito grande frear os processos pacíficos de resistência, porque por essa razão foi que aceitei esse julgamento político, para evitar a violência e o sangue. Esses jovens e adultos que hoje se manifestam ganharam espaço na sociedade paraguaia”.

Nesse sentido, ele informou que, na semana que vem, percorrerá “toda a geografia nacional para explicar detalhadamente o que se passou na última sexta na política paraguaia”.

Perguntado sobre quem estaria atrás do processo que levou ao impeachment, Lugo foi enfático. “Esses líderes dos quatro partidos tradicionais, que são partidos conservadores, partidos que respondem a uma classe privilegiada. Nós procuramos representar as pessoas que não se sentiam representadas. Esses partidos fizeram esse acordo porque as políticas públicas estavam dando uma grande popularidade a esse governo [no caso, o governo Lugo]”.

Para ele, esses partidos “quiseram cortar as asas de um processo que tinha que continuar em 2013, baseado nas políticas públicas e sociais que tinham sido empreendidas para beneficiar os cidadãos”.

Ele se referiu aos movimentos sociais que se constituíram no Paraguai, após o ocorrido na semana passade, e os qualificou de “um novo despertar cidadão e político importante para consolidar a democracia”.

“Somente uma democracia participativa e com protagonismo é que pode garantir a continuidade de um processo democrático no país”, acrescentou.

Até o momento, a Igreja Católica foi um dos únicos atores a legitimar o governo de Federico Franco. Para Lugo, um ex-bispo, o Vaticano “se equivocou ao opinar em processos políticos”, principalmente um “juízo político injusto, irracional e sem motivo”.

Por outro lado, o ex-presidente exaltou o apoio recebido pela maioria dos líderes sul-americanos. “Na Rio+20 eu falei com o Mujica e com a Dilma. Também conversei com o Evo e com o Chávez. Eles conhecem o processo do Paraguai, sabem que as eleições de 2008 legitimaram Lugo à frente do país”, disse.