A nova presidente da UNE, Lúcia Stumpf, fala sobre os desafios que a nova gestão terá pela frente. Ela destaca as últimas ações da entidade, como a passeata no Rio de Janeiro, que empossou a diretoria eleita, e as recentes reuniões nos ministérios da Educação e Saúde. Lúcia também diz que um dos sonhos da gestão é reconstruir a sede da UNE e da UBES na Praia do Flamengo, 132. Na semana passada, o arquiteto Oscar Niemeyer recebeu os estudantes em seu escritório e entregou o novo projeto. "Os traços de Niemeyer pretendem apagar de vez os resquícios da ditadura", ressalta Lúcia.
Como está sendo este início de gestão?
Em pouco mais de um mês desta nova gestão, podemos afirmar que já foram muitas as nossas conquistas. Uma das mais gratificantes veio das mãos do arquiteto Oscar Niemeyer, que nos entregou o projeto para a nova sede das entidades estudantis no Rio de Janeiro. A reconstrução do prédio é uma conquista não apenas dos estudantes, mas de todo o povo brasileiro. É dever do Estado brasileiro reparar os danos causados aos estudantes pelo regime militar, que incendiou e demoliu o espaço da Praia do Flamengo, 132. Os traços de Niemeyer pretendem apagar de vez os resquícios da ditadura. Também avançamos na construção de uma jornada de mobilizações que tomará as ruas do país no fim do mês de agosto.
Quais os principais desafios da UNE nos próximos anos?
Nosso desafio é fazer uma gestão à altura da história de 70 anos de vida da UNE, continuando a ser a força motriz capaz de impulsionar as transformações necessárias a nosso país, com o vigor característico da juventude. Para isso, fomos a Brasília no começo da semana reivindicar junto ao Ministério da Educação mais recursos para o Plano Nacional de Assistência Estudantil e exigir a regulamentação do ensino superior privado. No Ministério da Saúde, iniciamos uma importante parceria: a "caravana da saúde", que vai percorrer instituições brasileiras discutindo junto aos universitários temas relacionados à saúde, como o alcoolismo, a legalização do aborto e a descriminalização das drogas.
Que paralelo você traça entre o atual momento de luta da UNE e as grandes campanhas do passado?
São bandeiras que se renovam, mas trazem as marcas do tempo de quem esteve sempre presente em importantes lutas ao longo da história. É impossível relembrar nossos 70 anos sem traçar o paralelo com a história política do século vinte no Brasil. O Movimento Estudantil protagonizou grandes momentos de transformação da sociedade, como a luta contra a ditadura, e não será diferente neste novo período.
A UNE é uma das entidades organizadoras do plebiscito que discutirá a anulação do leilão da Companhia Vale do Rio Doce. Qual a sua avaliação e expectativa em relação a essa consulta popular?
A campanha "O Petróleo é nosso", organizada pela UNE na década de 1950 e que resultou na criação da Petrobrás, nos inspira a realizar agora, com a mesma disposição, a luta pela reestatização da Companhia Vale do Rio Doce. Estamos participando da campanha "A Vale é nossa" e na organização do Plebiscito Popular, marcado para os dias 1º a 7 de setembro. O objetivo é devolver ao país este patrimônio nacional vendido a um preço muito abaixo da realidade num processo envolto por denúncias de irregularidades.
Ou seja, são as lutas do passado repercutindo no presente…
Essa valorização do nosso passado é para nós fonte de energia. Como diz Paulinho da Viola: "quando penso no futuro, não esqueço o meu passado". E é com a cabeça no futuro que a diretoria eleita no congresso de Brasília iniciou a sua gestão de maneira vertiginosa: uma manifestação pediu a cabeça do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A sua condução econômica conservadora da instituição impede o desenvolvimento nacional com soberania e distribuição de renda, sem falar nos costumeiros contingenciamentos e cortes das verbas de educação. Além disso, os 8 mil estudantes presentes, representantes de 1.880 universidades, decidiram por uma maior ousadia e radicalidade da UNE.
Como a atual gestão da UNE enfrentará este desafio?
A posse no Rio de Janeiro mostrou a cara da nova gestão. A solenidade foi realizada em meio a uma passeata que percorreu as ruas cariocas e culminou simbolicamente no terreno da Praia do Flamengo, 132. Participaram ex-presidentes da UNE de diversas épocas, lideranças políticas e dos movimentos sociais, além do ministro da Saúde, José Gomes Temporão. As manifestações de rua vão se intensificar daqui para frente.
Qual é o atual calendário de luta da UNE?
Para a próxima semana, os estudantes estão convocando uma semana de passeatas, ocupações e mobilizações em defesa da educação. Em diversas cidades, o movimento estudantil sairá às ruas exigindo mais a ampliação do investimento público na educação para no mínimo 7% do PIB; rubrica orçamentária especifica para Assistência Estudantil, com recursos na faixa de R$ 200 milhões. Reivindicamos também a regulamentação imediata do ensino privado, com a aprovação do projeto de lei 6489/06, conhecido como PL da UNE, engavetado no Congresso Nacional. O objetivo é combater o aumento abusivo de mensalidades e a transformação da educação em mercadoria, criando um conjunto de leis que acabe com as liberdades dos tubarões de ensino que mandam nas Universidades privadas.
Com tem sido a resposta dos estudantes às manifestações de rua?
Sabemos do imenso desafio de dialogar e convocar às ruas cinco milhões de estudantes com perfil tão diversificado. Mas para responder aos anseios da juventude, a UNE tem ampliado a sua pauta de atuação, levando para dentro do movimento estudantil questões sobre o meio ambiente, a luta contra o machismo, o racimo e a homofobia e a valorização dos Centros Universitários de Cultura e Arte. Nossa entidade está em plena forma e pronta para viver mais 70 anos. Olhamos para frente e sonhamos alto com a certeza de que ainda estão presentes os ideais que impulsionaram a vida de Honestino Guimarães, Alexandre Vannucchi Leme, Edson Luis, Helenira Rezende e muitos outros que doaram a vida por acreditar na transformação do Brasil e do mundo.
Fonte: artigo publicado pelo EstudanteNet www.une.org.br