“Precisamos resgatar nossa combatividade militante”, afirma Boulos, na abertura do Congresso do Sindipetro SP

Foto: Sindipetro SP

Liderança do MTST participou de análise de conjuntura ao lado de José Dirceu, na abertura do Congresso do Sindipetro-SP

[Por Guilherme Weimann, da imprensa do Sindipetro SP]

Já há alguns anos o ex-presidente uruguaio, José ‘Pepe’ Mujica, vem alertando para a necessidade de autocrítica da esquerda. “Conseguimos, até certo ponto, ajudar essa gente a se tornar bons consumidores. Mas não conseguimos transformá-los em cidadãos”, afirmou em 2018 o ex-guerrilheiro, hoje com 86 anos.

Foi essa a mensagem que a liderança do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, resgatou na abertura do Congresso do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP), que aconteceu neste final de semana (09 e 10/04) em Campinas (SP).

“Nós precisamos resgatar nossa combatividade militante. Precisamos criar núcleos em todos os espaços possíveis para combater Bolsonaro. E os petroleiros são importantíssimos nessa batalha”, apontou.

Opinião semelhante foi compartilhada pelo ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu. “Os sindicatos e os partidos precisam se refazer. É preciso repensar o Brasil e o mundo. Apesar de nós termos um programa mínimo para essa eleição, pensar em um projeto de longo prazo é uma tarefa distinta. Para isso, é necessário um avanço no nosso próprio nível de consciência”, opinou.

No auditório da regional de Campinas do Sindipetro-SP, participam cerca de 50 petroleiros – incluindo diretores sindicais do Distrito Federal, Goiás e Mato Grosso do Sul. Representando a Federação Única dos Petroleiros (FUP), Cibele Viera fez um balanço das lutas travadas pela categoria nos últimos anos.

“Nós conseguimos carimbar todas as derrotas que nós fomos tendo ao longo desses anos. Isso parece pouco, mas não é. Além de impedir diversas privatizações, nós conseguimos com isso apontar para a necessidade da retomada de ativos, colocamos isso na agenda eleitoral”, avaliou.

Neoliberalismo em cheque

Um dos pontos abordados com mais profundidade pelos convidados foi a política econômica – nacional e internacional. Boulos chamou a atenção para e inflexão da política monetária norte-americana, com a ascensão de Joe Biden ao Capitólio.

“O plano do Biden, atualmente, está baseado na emissão de moeda. Isso significa que o Banco Central está comprando título do Tesouro e, assim, aumentando a base monetária. Isso desmente o mito de que emitir moeda gera inflação. Numa crise, com a indústria com capacidade ociosa, não é emissão de moeda que gera inflação”, explicou.

O militante sem-teto citou a Teoria Monetária Moderna (MMT, em inglês) como paradigma a ser estudado e incorporado pela esquerda brasileira. Surgida na década de 1970, ganhou força principalmente após a crise financeira de 2008, quando houve a injeção de mais de U$S 30 trilhões do Estado norte-americano em bancos à beira da falência.

Se os mais ricos podem contar com a emissão de dinheiro pelo governo, por que os mais pobres e setores como Saúde e Educação não podem? Essa foi uma das perguntas norteadoras para a Teoria Monetária Moderna ganhar força na plataforma do democrata Bernie Sanders, pré-candidato à presidente dos EUA nas duas últimas eleições, e ser incorporada na política econômica de Biden.

“O Biden emitiu 3,4 trilhões de dólares. Isso é reestruturação do capitalismo, já que o Estado volta a ter papel central”, pontuou Dirceu.

Em relação à realidade brasileira, Boulos afirmou que o país vive hoje “uma inflação de custo e não de demanda”, e a principal causa é a política de preços dos combustíveis adotada pela Petrobrás, que vincula os derivados ao câmbio e às cotações internacionais do barril de petróleo.

“A Petrobrás pública, a serviço do povo, é essencial para um projeto de país que se propõe a realizar as transformações sociais necessárias, diminuir a desigualdade e retomar o crescimento”, finalizou Boulos.