Pré-sal, democratização da comunicação e valorização do trabalho são prioridades para 2010

Com a participação de cerca de 300 dirigentes de mais de 15 entidades nacionais, a Assembleia…

CUT

Com a participação de cerca de 300 dirigentes de mais de 15 entidades nacionais, a Assembleia da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), realizada na manhã deste domingo (31) durante o Fórum Social Mundial Temático da Bahia, em Salvador, definiu a mobilização em defesa do pré-sal, a democratização dos meios de comunicação e a valorização do trabalho como bandeiras prioritárias neste ano para o enfrentamento ao retrocesso neoliberal.

Aberto com canto e poesia, ritmados pelo som dos batuques, o encontro fez ecoar pela Ladeira dos Aflitos a determinação de cada uma das 10 mil pessoas que compareceram ao evento: “eterna é a certeza de vencer”. A voz firme e o contentamento, diante da certeza do dever cumprido, fizeram vibrar a música dos batalhadores pela reforma agrária e pela justiça, nos campos e cidades: “Este é o nosso país, esta é a nossa bandeira, é por amor a esta Pátria, Brasil, que a gente segue em fileira”

Representando a Central Única dos Trabalhadores, Rosane Silva sublinhou o significado da elaboração conjunta e da unidade para dar maior consistência aos duros enfrentamentos do próximo período. “É muito importante que o Fórum Social Mundial, além de um espaço de formulação coletiva seja de mobilização em torno de lutas unitárias para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária”, destacou Rosane, defendendo que nas entidades populares brasileiras já existe esta compreensão e amadurecimento, pois existe a rica experiência da CMS. A secretária da Mulher Trabalhadora da CUT destacou a atualização dos índices de propriedade da terra, para impor limites ao latifúndio, e a aprovação da PEC do trabalho escravo como duas propostas cruciais para fazer avançar a reforma agrária. Rosane sublinhou ainda a necessidade da aprovação das Convenções 151 e 158 da OIT – que estabelece a negociação coletiva no serviço público e coíbe a demissão imotivada – para a democratização do Estado e para a valorização dos serviços e servidores.

Membro da direção nacional do MST, João Paulo Rodrigues também frisou a relevância da aprovação de um calendário unificado de lutas como essencial para o enfrentamento com a direita, que insiste na criminalização dos movimentos sociais. João Paulo lembrou que somente na última semana mais 12 integrantes do MST foram presos.

Em nome da Assembléia Mundial dos Movimentos Sociais, José Miguel, da direção da Central dos Trabalhadores de Cuba (CTC) defendeu a estratégia aprovada pela CMS de estabelecer temas comuns para o enfrentamento com a crise da globalização neoliberal. “Precisamos defender nossos países e combater a militarização imperial, lutar pela soberania alimentar, proteger o meio ambiente. A grande mídia e os meios de comunicação são portavozes do imperialismo, das bases militares na Colômbia e no Panamá, contrária à democracia, à soberania e à integração solidária”, denunciou.

Para Lúcia Stumpf, da União Brasileira das Mulheres (UBM), a participação de representantes do MST, CUT, CTB, UNE, UBES e Unegro, entre outras tantas entidades na assembléia da CMS em Salvador, assim como em Porto Alegre, aponta para um crescente amadurecimento sobre a necessidade de somar esforços em barrar espaço ao retrocesso neoliberal e consolidar um projeto de desenvolvimento soberano, inclusivo, que aprofunde as transformações em nosso país.

Abaixo, a íntegra do documento aprovado pela assembléia dos movimentos sociais e o calendário de mobilizações.

ASSEMBLÉIA DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Salvador,  31 de janeiro de 2010.

10 ANOS DO FSM

OUTRO MUNDO É POSSÍVEL E NECESSÁRIO.

Nós, militantes de diversas organizações dos movimentos sociais reunidos no FSMT de Salvador, realizamos a Assembleia dos Movimentos Sociais com o intuito de consolidar uma plataforma de bandeiras unitárias e calendário de lutas.

O Fórum Social Mundial surgiu em 2001 como uma forma de resistência dos povos de todo o planeta contra a avalanche neoliberal dos anos 90. Dessa forma ganhou força e se tornou um grande pólo contra hegemônico ao capital financeiro. Ao longo desses 10 anos passou pelo Brasil, Venezuela, Índia e Quênia, e outros países, levando a esperança de um mundo novo.

Foi dessa maneira que o FSM conseguiu contagiar corações e mentes para a ideia de que é sim possível construir outro mundo com justiça social, democracia, sem destruir o planeta e valorizando as culturas nacionais. O FSM foi fundamental para a construção de uma nova conjuntura que valorize a integração e a solidariedade entre os povos. E é assim que partiremos para novas lutas e para construir o próximo Fórum Social Mundial em Dakar em janeiro de 2011.

Com o declínio do neoliberalismo e a crise do capitalismo os valores representados por esse sistema passam a ser questionados pela sociedade. Assim, o capitalismo predatório que destrói o meio ambiente causando graves desequilíbrios climáticos, que desrespeita os povos de todo o mundo e suas soberanias, que explora o trabalhador e desestrutura o mundo do trabalho, que exclui o jovem, discrimina o homossexual, oprime a mulher, marginaliza o negro, mercantiliza a cultura é agora visto com ressalvas.

A crise financeira mundial é uma crise do sistema capitalista. Ela expôs as contradições intrínsecas a esse modelo e quebrou as certezas e a hegemonia do mercado como um deus regulador das relações comerciais e sociais. Essa crise abriu a possibilidade de se rediscutir o ordenamento mundial, os rumos da sociedade, o papel do Estado e um novo modelo de desenvolvimento. Porém, sabemos que esse momento pelo qual passamos é de profundas adversidades para a classe trabalhadora de todo  o mundo em  função das crises financeira e climática em  curso. A consequência das crises é o aumento da desigualdade e por esse motivo reafirmamos o nosso desafio com as lutas e com a solidariedade de classe.

Nosso continente, a América Latina, atrai os olhos de todo o planeta diante de sua onda transformadora . Por outro lado, a hegemonia mundial ainda é capitalista e as elites não entregarão o continente que sempre foi tido como o quintal do imperialismo de mão beijada. Não é à toa a promoção do golpe contra Chávez em 2002, em Honduras em 2009, a tentativa de golpe contra Lula em 2005 ou mesmo a desestabilização de Fernando Lugo que está em curso no Paraguai.

Ao mesmo tempo, as elites se utilizam e fortalecem novos instrumentos de dominação. Sua principal arma hoje é a grande mídia e os monopólios de comunicação. Esses organismos  funcionam como verdadeiros porta-vozes das elites conservadoras e golpistas. Por isso ganham força os movimentos de cultura livre e as rádios e jornais comunitários que conseguem driblar o monopólio midiático.

O povo estadunidense elegeu Barack Obama em um grande movimento de massas carregando consigo as esperanças de superar a era Bush. Entretanto, mesmo com Obama o imperialismo continua sendo imperialismo. Os EUA crescem seu olho diante das grandes riquezas naturais do nosso continente, como a recente descoberta do Pré-sal. No mesmo momento em que os EUA reativam a quarta frota marítima também instalam mais bases militares na Colômbia e no Panamá , além de insistir no retrógrado bloqueio a Cuba.

Atentos a esses movimentos do imperialismo, os movimentos sociais reunidos no Fórum Social Mundial Temático em Salvador reafirmam seu compromisso com a luta por justiça social, democracia, soberania, pela integração solidária da América Latina e de todos os povos do mundo, pelo fortalecimento da integração dos povos, pela autodeterminação dos povos e contra todas as formas de opressão.

No Brasil, muitos avanços foram conquistados pelo povo durante os 7 anos do Governo Lula. O Estado foi fortalecido alcançando maior ritmo de desenvolvimento, a distribuição de renda e o progresso social avançaram com a valorização do salário mínimo e políticas sociais como o Bolsa Família, a integração solidária do continente foi estimulada. Porém, muito mais há para ser feito. As Reformas estruturais capazes de enraizar as conquistas democráticas não foram realizadas e a grave desigualdade social perpetrada por mais de 5 séculos em nosso pais está longe de ser resolvida. Por isso, devemos lutar pelo aprofundamento das conquistas nesse período de embate político que se aproxima.

Reafirmamos a luta contra os monocultivos predatórios, os desmatamentos, o uso de agrotóxicos que gera a poluição dos rios e do ar. Seguiremos na luta contra o latifúndio e em defesa da biodiversidade e dos recursos naturais como forma de preservação do meio ambiente, dos ecossistemas, da fauna e flora integradas com o homem.

Nos unimos no combate ao machismo, ao racismo e à homofobia. Lutamos por uma sociedade justa e igualitária, livre de qualquer forma de opressão, onde as mulheres tenham seus direitos respeitados e não sofram abusos e violências, os negros não sofram preconceito e saiam da condição histórica de pobreza que lhes é reservada desde os tempos da escravidão, os homossexuais tenham acesso a direitos civis e não sofram discriminação.

Sabemos que essas conquistas virão da luta do povo organizado. Por isso, convocamos todos os militantes a fazer um grande mutirão de debates envolvendo estados, municípios e segmentos sociais no intuito de construir um projeto de desenvolvimento soberano, democrático e com distribuição de renda para o Brasil. Só assim seremos capazes de aprofundar as mudanças que  estamos construindo e derrotar a direita conservadora e reacionária do nosso país nas eleições que se avizinham.

Esse grito que expressa nosso anseio liberdade e mais direitos não poderia ser dado em lugar melhor. Estamos na Bahia, terra de todos os santos e de bravos lutadores, valorosos intelectuais e líricos poetas e artistas como a banda tambores das raças  que abriu a Assembleia entoando versos que afirmam que:

Zumbi não morreu, está presente entre nós. Palmares referência que sustenta nossa voz. Liberdade, igualdade, revolta dos búzios, levante malês, herança ancestral que alimenta a união é a força pra vencer!

De Salvador conclamamos o povo brasileiro a lutar por um Brasil livre, independente, democrático e justo socialmente.

Para isso, o conjunto dos movimentos sociais brasileiros convoca a Assembleia Nacional dos Movimentos Sociais para o dia 31 de maio em São Paulo e definem as seguintes bandeiras de luta:

SOBERANIA NACIONAL

– Defesa do Pré-sal 100% para o povo brasileiro;

– Pela retirada das bases estrangeiras da América Latina e Caribe;

– Defesa da autodeterminação dos povos;

– Pela retirada imediata das tropas dos EUA do Afeganistão e do Iraque;

– Pela criação do Estado Palestino;

– Contra os Golpes de Estado a exemplo de Honduras;

– Contra a presença da 4ª Frota na América Latina;

– Pela integração solidária da América Latina;

– Contra a volta do neoliberalismo

– Pelo fortalecimento do MERCOSUL, UNASUL e da ALBA;

– Pela democratização e o fortalecimento das forças armadas;

– Pela defesa da Amazônia e da nossa biodiversidade como patrimônio nacional.

DESENVOLVIMENTO

– Por uma política nacional de desenvolvimento ambientalmente sustentável, que preserve o meio ambiente e a biodiversidade, e que resguarde a soberania sobre a Amazônia brasileira. 

– Por um Projeto popular de Desenvolvimento nacional com distribuição de renda e valorização do trabalho;

– Pelo fortalecimento da indústria nacional;

– Contra o latifúndio e os monocultivos que depredam o meio ambiente

– Em defesa da Reforma Agrária.

– Redução da jornada de trabalho sem redução de salários;

– Por políticas Públicas para a Juventude;

– Defesa de formas de organização econômica baseadas na cooperação, autogestão e culturas locais;

– Pela alteração da Lei Geral do Cooperativismo e da conquista de um Sistema de Finanças Solidárias e Programa de Desenvolvimento da Economia Solidária (PRONADES), do Direito ao Trabalho Associado e Autogestionário, e de um Sistema de Comércio Justo e Solidário;

– Por um desenvolvimento local sustentável.

– Por Políticas Públicas de Igualdade Racial;

 DEMOCRACIA

– Contra os monopólios midiáticos e pela democratização dos meios de comunicação.

– Contra a criminalização dos movimentos sociais;

– Em defesa da Cultura livre

– Pela ampliação da participação do povo nas decisões através de plebiscitos e referendum;

– Contra o golpe em Honduras;

– Contra a desestabilização dos governos democráticos e populares da América Latina;

– Pelo fim das patentes de remédios

– Contra a intolerância religiosa, em defesa do Estado laico.

MAIS DIREITOS AO POVO

– Educação pública, gratuita e de qualidade para todos e todas, com a universalização do acesso, promoção da qualidade e incentivo à permanência, seja na educação infantil, no ensino fundamental, médio e superior. Por uma campanha efetiva de erradicação do analfabetismo. Adoção de medidas que democratizem o acesso ao ensino superior público;

– Defesa da saúde pública garantindo acesso da população a atendimento de qualidade. Tratamento preventivo às doenças, atendimento digno às pessoas nas instituições públicas;

– Pela garantia e ampliação dos direitos sexuais reprodutivos;

– Contra a exploração sexual das mulheres;

– Pelo fim do fator previdenciário e por reajuste digno para os aposentados.

SOLIDARIEDADE

– Solidariedade ao povo haitiano diante do recente desastre ocorrido em virtude de uma seqüência de terremotos.

– Solidariedade ao povo cubano – pela liberdade dos 5 prisioneiros políticos do Império.

– Solidariedade aos povos oprimidos do mundo.

– Solidariedade aos presos políticos do MST

CALENDÁRIO DE MOBILIZAÇÕES

 08- 18 MARÇO – JORNADA DE COMEMORAÇÃO DOS 100 ANOS DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER;

MARÇO – JORNADA DE LUTAS EM DEFESA DA EDUCAÇÃO DA UNE E UBES

ABRIL –Jornada de mobilizações em defesa da Reforma agrária e contra a criminalização dos movimentos sociais.

1 MAIO– DIA DO TRABALHADOR

31 MAIO – ASSEMBLÉIA NACIONAL DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

1 DE JUNHO – CONFERENCIA NACIONAL DA CLASSE TRABALHADORA

SETEMBRO -Plebiscito pelo limite máximo da propriedade