Presidente de confederação da categoria considera que possibilidade de cortes na fábrica da montadora em São José dos Campos fere acordo com governo federal; sindicato local cobra que ministro ouça os dois lados
A posição do ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante reunião com executivos da General Motors (GM) hoje (31) frustrou representantes dos metalúrgicos, que esperavam uma defesa mais enfática do emprego e uma mensagem à empresa de que o acordo feito com o governo federal em troca de incentivos tributários deve ser respeitado. Nas últimas semanas, a GM tem colocado em dúvida parte dos empregos na unidade de São José dos Campos, no interior paulista.
“Tenho uma posição diferente”, disse o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM/CUT), Paulo Cayres. “Precisa sentar na mesa e encontrar alternativas.” Para ele, não é aceitável que a GM ameace cortar postos de trabalho após a concessão, em maio, de um pacote de isenções de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Na época, o governo federal queria estimular o setor, que vinha apresentando queda nas vendas, o que previa como contrapartida à manutenção dos empregos.
Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em junho foram vendidos 353 mil veículos, 73 mil a mais em relação a maio. Para o ministro da Fazenda, o importante é que no geral o setor criou empregos, e o caso específico de São José dos Campos é, na visão dele, uma questão interna da empresa. “Foi cumprido o compromisso de não demissão e até de aumento de empregos. O total de emprego, na Anfavea como um todo, era 144,9 mil em maio e 146,9 mil, em junho. O que nos interessa é que a GM tenha saldo positivo e esteja contratando, e isso está sendo cumprido”, disse, após encontrar-se com o diretor de Assuntos Institucionais da GM no Brasil, Luiz Moan Yabiku Junior, que também é vice-presidente da associação empresarial.
Para Paulo Cayres, a visão do ministro é equivocada. “Isso está ferindo o acordo da redução do IPI. Os carros que são vendidos em São José também fazem parte dessa redução. Precisa procurar alternativas para esses trabalhadores, realocar. Mas colocar simplesmente na rua não pode.” Na última semana, a GM anunciou a concessão de licença remunerada para os 7.200 funcionários da unidade de São José dos Campos, o que aumentou o temor de que uma seção de montagem seja fechada, desempregando 2 mil trabalhadores.
Hoje pela manhã, em uma tentativa de cobrar do governo uma postura rigorosa nas negociações, a linha de produção da fábrica no interior paulista foi parada. Em nota emitida após o encontro, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos lamentou as afirmações de Mantega e pediu que seja chamado a participar das conversas. “O ministro faz essas afirmações sem o mínimo cuidado de ouvir a outra parte, o sindicato dos trabalhadores. Dessa forma, o ministro diminui a si próprio, assumindo o papel de mero porta-voz da GM”, indica o comunicado. O sindicato é filiado à CSP-Conlutas.
Apresentando cálculos do Dieese, a diretoria do sindicato afirma que a GM fechou 1.189 postos de trabalho no país nos últimos 12 meses. Seriam 1.044 cortes em São José e 349 em São Caetano, no ABC paulista, ante abertura de 204 vagas em Gravataí (SC). “Há meses o sindicato vem apresentando à GM várias propostas para evitar as demissões, sem que esta demonstre a mínima disposição de negociar. Há tempos estamos alertando o governo federal para as demissões que vêm ocorrendo na montadora, mas até agora o ministro Mantega não se dignou a receber a representação dos trabalhadores para ouvir nosso ponto de vista. Deveria fazê-lo antes de se manifestar da forma que o fez no dia de hoje”, conclui o comunicado, que diz que a entidade ainda não recebeu resposta sobre o pedido de audiência apresentado na semana passada ao governo federal.