O incêndio de grandes proporções que neste domingo (2) destruiu o acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, e comprometeu toda a sua estrutura é o símbolo do desmonte do Estado Brasileiro sob o desgoverno Temer. O incêndio destruiu coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia, antropologia biológica, arqueologia e etnologia, fósseis de animais, utensílios indígenas, múmias, incluindo o mais antigo fóssil humano já encontrado nas Américas, o crânio de Luzia.
Com o orçamento reduzido a pouco mais de R$ 300 mil, as condições precárias de manutenção do prédio e do acervo do museu, assim como ocorre com vários outros setores do Estado, foram agravadas pela política fiscal de Temer, que congelou por 20 anos os investimentos públicos em áreas estratégicas, como saúde, educação, cultura, ciência e tecnologia. A Proposta de Emenda à Constituição 55/2016, que Temer enviou ao Congresso logo após ter afastado a presidenta Dilma Rousseff, ficou conhecida como a “PEC do teto de gastos”.
É esse contexto de “restrição orçamentária” que, segundo o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, colaborou para a ocorrência da tragedia.
“Num contexto como esse, todas as unidades (da universidade) são afetadas. Para o país, é uma perda imensa. Aqui temos a nossa memória. Grande parte do processo de constituição da história moderna do Brasil passa pelo Museu Nacional. Este incêndio sangra o coração do país.” O museu é vinculado à UFRJ.
Leher também atribuiu as dificuldades no combate a falta de “infraestrutura” para enfrentar uma emergência desse porte. “Reconhecemos o trabalho valoroso do Corpo de Bombeiros, mas a forma de combate ao incêndio não foi da mesma proporção e escala do incêndio. Percebemos claramente que faltou uma logística e uma capacidade de infraestrutura.”
Sem água nos hidrantes, o incêndio avançava enquanto os bombeiros aguardavam a chegada de carros-pipa enviados pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio (Cedae). Bombeiros, professores e técnicos do museu dizem que ainda conseguiram salvar algumas peças do acervo, composto por mais de milhões de obras e documentos. Mas, segundo o diretor de Preservação do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, João Carlos Nara, “o dano é irreparável”.
“Infelizmente a reserva técnica, que esperávamos que seria preservada, também foi atingida. Teremos de esperar o fim do trabalho dos bombeiros para verificar realmente a dimensão de tudo. “É uma edificação muito antiga que foi concebida em um contexto em que não existia o uso de energia, muito menos o uso intensivo de energia como são as edificação acadêmicas, que têm laboratórios, área administrativa, informática”, afirmou Nara.
Ele também afirmou que as instalações do museu contavam com uma brigada de incêndio que realizava “trabalho sistemático” junto ao Corpo de Bombeiros e à Defesa Civil, e que os extintores estavam “em ordem”.
Para a ex-secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura Ivana Bentes, não é possível atribuir à tragédia a um suposto “descaso” da UFRJ. “Não existe política pública para manter e conservar nosso patrimônio. É o mesmo descaso com o patrimônio, a pesquisa, a ciência e tudo que é público. O Museu sobrevive com o mínimo de recursos do Estado.”
Ela lembra que até mesmo o público chegou a contribuir com “vaquinha” para ajudar na manutenção do museu, e disse que tragédias dessa dimensão podem ocorrer em outras instituições que vivem na mesma situação. “São incêndios e tragédias que não são ainda mais frequentes nem sabemos porquê. Na adversidade vivemos e as universidades fazem muito e muitíssimo com muito pouco.”
Segundo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC-RJ), desde 2014, o “Governo Federal não faz os repasses apropriados para a manutenção do Museu”. O órgão também declarou que o incêndio “é um símbolo do descaso do governo atual com a nossa cultura, ciência e patrimônio.”
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[Com informações da Agência Brasil]