Os trabalhadores da Refinaria de Paulínia (Replan) iniciaram o expediente um pouco mais tarde na manhã desta quinta-feira (11). O Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo promoveu uma atividade diferente na entrada da empresa para comemorar os 20 anos da Greve de 1995, com exposição, apresentação teatral e ato político.
Uma exposição com 37 painéis, contendo textos, fotos, reportagens e manchetes de jornais e boletins sindicais da época, foi instalada na frente da portaria e trouxe à tona muitas lembranças. Os trabalhadores liam os textos, olhavam as imagens e festejavam quando encontravam algum rosto conhecido nas fotos. “Olha, eu tô aqui. Lembro desse dia como se fosse hoje”, emocionou-se o petroleiro Márcio Gonzaga Cardoso, conhecido carinhosamente por Márcio Mancha, apontando uma das ilustrações.
Artistas caracterizados de repórteres corvos, do Jornal Patronal (uma paródia ao Jornal Nacional), abordavam os trabalhadores para saber a opinião deles sobre a possibilidade de ser deflagrada uma greve. Mais adiante, outro grupo de artistas, vestidos com macacões, em alusão aos petroleiros, entregava folhetos aos recém-chegados e convidava o pessoal a participar da assembleia, que seria realizada logo mais na porta da refinaria para votação da paralisação. A greve foi aprovada.
A encenação remeteu os trabalhadores ao ano de 1995, mais precisamente ao dia 3 de maio, quando teve início a greve geral, convocada pela CUT, em contestação à política de privatização do governo FHC e às perdas dos direitos trabalhistas. Passados alguns dias, as outras categorias voltaram ao trabalho e somente os petroleiros permaneceram na batalha contra o governo e o TST (Tribunal Superior do Trabalho), que julgou, por duas vezes, a paralisação abusiva. A greve durou 32 dias e foi a mais longa da história dos petroleiros.
“Quando começamos a greve sabíamos que seria difícil, mas não imaginávamos que o TST iria chegar aonde chegou. Além de classificar a greve como abusiva, disse que nosso acordo, firmado com o ex-presidente Itamar Franco, não tinha valor. Mandou ainda que os trabalhadores voltassem imediatamente ao trabalho e aplicou multa de R$ 100 mil por dia aos sindicatos, inviabilizando nossa capacidade de luta”, lembrou Márcio Mancha, que em 95 era diretor do Sindipetro.
Segundo Silvio Marques, presidente do Sindicato na época, a greve de 95 foi além de uma reivindicação salarial. “Foi a greve da nossa dignidade, daquilo que acreditávamos. Além da questão econômica, nosso embate de luta era contra o projeto neoliberal do governo. Reivindicávamos o pagamento dos acordos estabelecidos, mas rejeitávamos a privatização da Petrobrás”, declarou.
“Se não tivéssemos feito outros movimentos, como em 83, 88 e 95, quando o embate foi mais truculento e o governo deu ordens para o Exército ocupar as refinarias, a Petrobrás hoje não seria mais uma empresa estatal”, afirmou Eliana Frozel Barros, petroleira que participou ativamente da paralisação. “Meu marido também é petroleiro e, no período da greve, levávamos conosco nossas filhas, de 3 e 7 anos, todos os dias, para a frente da refinaria. A participação da família foi muito importante”, destacou ela.
Petroleiros do Sindipetro Norte Fluminense também marcaram presença no evento. Mendonça, mais conhecido como Meio Quilo, relembrou emocionado os dias de luta. “Quando começaram as demissões pontuais, a categoria deu a resposta imediata com a demissão coletiva. Desde a semente plantada em 95, nós petroleiros, não nos curvamos”, disse.
“Sem os trabalhadores lá dentro, a refinaria é uma ferro velho, uma sucata. Precisamos ter essa consciência no momento de enfrentamento do capital/trabalho, de que nós somos mais importantes do que as máquinas”, discursou o petroleiro aposentado Osvaldo Francelino, diretor do Sindicato.
De acordo com o coordenador da Regional Campinas do Unificado, Gustavo Marsaioli, o momento atual é semelhante ao vivido em 95. “Estamos, mais uma vez, lutando, contra os ataques aos direitos do trabalhador e à privatização da Petrobrás, entre outras coisas”, lembrou.
O representante dos trabalhadores no Conselho Administrativo da Petrobrás, Davyd Bacelar, coordenador do Sindipetro Bahia, fez um alerta. “Existe grande possibilidade de a greve de 95 se repetir hoje, não só pela luta de nossos acordos e nossos direitos, mas também para garantirmos nossa soberania nacional e para que a Petrobrás continue sendo essa empresa forte. Todas as categorias, certamente, estarão conosco e dizendo ‘somos todos petroleiros’, como os trabalhadores fizeram em 95”, afirmou.
O evento terminou por volta das 10h, com os artistas cantando e os trabalhadores reforçando o refrão “eu quero é botar meu bloco na rua…”. Ao final da música, uma das atrizes pegou o megafone e gritou: “Viva os petroleiros, viva a luta de todo trabalhador brasileiro”.
Fonte: Sindipetro Unificado-SP