A FUP e seus sindicatos lamentam profundamente o falecimento do dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Joaquin Piñero, o nosso Kima, que partiu na noite desta quinta-feira (11), após uma dura batalha contra o câncer. Sempre presente nas campanhas e mobilizações dos petroleiros em defesa da Petrobrás, do pré-sal e da democracia, Joaquim coordenava a edição do Rio de Janeiro do jornal popular Brasil de Fato, com o qual a FUP realizou diversas parcerias e edições especiais sobre a importância da soberania energética.
As reuniões com ele eram sempre marcadas por alegria e muita disposição de luta. Apesar de não ser carioca, tinha uma relação muito intensa com o povo e a cultura do Rio de Janeiro, onde autou nos últimos anos e ajudou a estruturar o Armazem do Campo, na Lapa. Joaquin era violeiro, poeta e apaixonado por samba. Deixa esposa e duas filhas e um imenso legado de luta que servirá de referência e inspiração para seguirmos adiante, defendendo a Petrobrás, a soberania nacional, a democracia e a reforma agrária.
Os petroleiros e petroleiras se solidarizam com os familiares de Joaquin, sua esposa e as filhas, que tanta felicidade lhe trouxe.
Joquim era um dos imprescindíveis
“Há aqueles que lutam um dia e por isso são muito bons. Há aqueles que lutam muitos dias e por isso são muito bons. Há aqueles que lutam anos e são melhores ainda. Porém, há aqueles que lutam toda a vida. Esses são os imprescindíveis” – Bertolt Brecht
Joaquin, cujo nome de batismo era Valquimar Reis, tinha 52 anos, dos quais mais de 20 dedicados às lutas pela reforma agrária no MST, onde iniciou a militância em 1999, na condução do acampamento Nova Canudos, em São Paulo, primeira experiência de acampamento com trabalhadores urbanos desempregados. Atuou com determinação no trabalho de base nos bairros da periferia da região de Piracicaba, levando muitas famílias para a luta popular e, com isso, conseguiram conquistar a terra, construir a própria casa e produzir alimentos.
Nascido em Ji-Paraná, no estado de Rondônia, migrou para o estado de São Paulo nos anos 90 em busca de oportunidades de estudo e trabalho. Nas atividades do MST, era o animador, tocador de violão e puxador das mais bravas palavras de ordem. Disciplina, coerência e compromisso com a luta popular ganhavam uma leveza com o sorriso largo, as gargalhadas altas, o humor farto e a alegria das cantorias ao violão, que animavam os momentos de festa.
Sofreu na pele a repressão do Estado com a prisão política de um ano, um mês e 11 dias entre 1999/2000, perseguido por causa de um protesto em Boituva, no interior de São Paulo, contra o preço dos pedágios e as políticas de privatização do governo FHC.
Preso com mais cinco companheiros do Movimento, Kima não deixou a militância mesmo atrás das grades. Por ter curso superior incompleto em ciência da computação, foi convidado para dar aulas. Todos os seus 45 alunos foram aprovados em exames supletivos.
Nas mãos dos presos passaram livros de Che Guevara, Fidel Castro, Lênin, Caio Prado Júnior e Florestan Fernandes. Também fez trabalho de base, convidando as famílias dos presos para lutarem por terra e trabalho junto ao MST. Nessa época Kima denunciava a lógica perversa do sistema prisional e do encarceramento de pretos e pobres. Foi da prisão que produziu a poesia “A Grade”, lida em encontros dos movimentos populares como testemunho e protesto pela liberdade dos presos políticos do MST e da luta popular.
Depois que saiu da prisão, atuou na construção do plebiscito contra a Alca, na coordenação do Fórum Social Mundial, na criação da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). Em 2002, passou a atuar no Rio de Janeiro, no período de consolidação do escritório político do MST. Assim, se transformou em uma referência nacional, mantendo interlocução com partidos, sindicatos, movimentos populares, com o mundo da cultura e das ideias.
Pela injustiça imposta aos que lutam, conheceu a clandestinidade e se tornou Joaquin Piñero, dirigente internacionalista. Em 2005, foi para a Venezuela, onde contribuiu com a construção da primeira brigada do MST e com a Revolução Bolivariana, convivendo com o presidente Hugo Chávez.
Assim, passou a trabalhar pela causa internacionalista, pela solidariedade e a luta pela libertação dos povos oprimidos do mundo. Ao retornar ao Brasil, em 2007, passou a atuar na construção da secretaria da Alba Movimientos, a partir de São Paulo, tendo papel fundamental no lançamento da articulação das lutas populares da América Latina, em ato com a presença de Hugo Chávez, Evo Morales, da Bolívia, Fernando Lugo, do Paraguai, e Rafael Correa, do Equador.
Em 2012, Kima voltou ao Rio de Janeiro. Ocupando a coordenação do escritório do MST, conduziu projetos importantes, como a construção do jornal tablóide Brasil de Fato, lançado em 2013, e o Armazém do Campo – RJ, a loja de produtos da reforma agrária, inaugurada em 2017.
Fez o curso de Serviço Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). No último período, se dedicava à construção das ações produtivas e de cooperação em agroecologia no município de Maricá (RJ) e ao lote no assentamento Irmã Dorothy, município de Quatis, no interior do Rio de Janeiro.
A trajetória do Kima se confunde com a história de duas décadas do MST, que perde um de seus melhores comandantes. Kima soube combinar a dedicação ao estudo com a capacidade de dirigir, a disposição ao internacionalismo com o profundo sentimento de cuidado humano, condição indispensável aos que amam o povo e suas revoluções.
Joaquim, presente!
Hoje e sempre!
[Com informações do MST]