Há três semanas, fogo deixou dois feridos e destruiu 24 casas na comunidade Vila Paula, no bairro San Martin, em Campinas (SP)
[Da imprensa do Sindipetro Unificado SP | Texto: Guilherme Weimer | Foto: Luciano Claudino/Código 19]
No último sábado (17), trabalhadores da Refinaria de Paulínia (Replan) e integrantes do Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro-SP) doaram 25 botijões de gás de cozinha, com casco, para famílias desalojadas por incêndio ocorrido há três semanas, no dia 28 de setembro, em Campinas (SP).
Foram 24 casas destruídas na comunidade Vila Paula, pertencente ao bairro campineiro San Martin. Duas pessoas ficaram feridas, de acordo com o Corpo de Bombeiros. Além disso, 130 pessoas ficaram desalojadas e foram acolhidas na Escola Estadual Maria de Lourdes Bordini e em duas igrejas na região.
Desde então, as vítimas têm recebido todos os tipos de doações, como alimentos, água, roupas e móveis. Um projeto de financiamento coletivo também foi criado com o objetivo de arrecadar R$ 200 mil para a reconstrução das casas e a compra dos móveis e objetivos queimados – foram doados R$ R$ 22.827,90 até o fechamento desta reportagem.
A solidariedade está sendo responsável pela reconstrução de todas as casas. De acordo com o morador Paulo César Santos, as famílias esperam iniciar o retorno à comunidade ainda nesta semana. “Já foi reconstruída uma parte dos barracos queimados. Nós tivemos uma perda muito grande, mas também tivemos muitas doações de toda a região. Já estão dizendo que viramos a ‘Vila Fênix’, por conseguirmos ressurgir das cinzas, literalmente”, afirma.
Também como uma forma de solidariedade, os petroleiros, junto com o Sindipetro-SP, decidiram levar aos moradores da Vila Paula a “Campanha Gás a Preço Justo”. Desde o final do ano passado, a iniciativa tem doado ou subsidiado botijões em todo o país, como uma forma de discutir com a população sobre os motivos que tem elevado constantemente os preços do gás de cozinha e de outros derivados de petróleo nos últimos anos.
A comunidade é uma ocupação que existe desde 2015 e conta, atualmente, com aproximadamente 150 famílias, que totalizam cerca de 800 pessoas. O terreno onde estão localizados os barracos de madeira pertence à Prefeitura de Campinas.
Despejo na favela é fogo
No último mês, dois incêndios também atingiram uma outra comunidade na região. No total, 25 pessoas ficaram desalojadas em uma área de ocupação no Jardim Boa Esperança, em Hortolândia (SP).
Infelizmente, essa é uma situação recorrente nas favelas brasileiras. E, justamente por isso, já levantou diversas suspeitas em relação as suas causas que, em diversas circunstâncias, não podem ser enquadradas como “acidentes”.
Devido às constantes ocorrências de incêndios em favelas paulistas, vereadores de São Paulo criaram, em 2011, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que foi encerrada sem dados conclusivos em 2012. Uma reportagem do UOL denunciou na época que os seis integrantes da CPI receberam doações de empresas do ramo da construção, no total de R$ 700 mil.
Apesar da evidente falta de neutralidade, a comissão verificou o número de 1.643 incêndios ocorridos em favelas da capital paulistana entre 2009 e 2012.
Além do elevado índice, um levantamento realizado pela Pública em parceria com o Guardian Cities revelou que as comunidades afetadas estão localizadas em áreas 75% mais valorizadas do que a média.
A pesquisa analisou relatório da Defesa Civil, com informações de 80 incêndios, ocorridos entre 2008 e 2012 na cidade de São Paulo. O valor venal médio dessas áreas atingidas era de R$ 291 na época, enquanto o cálculo feito em outras 460 favelas foi de R$ 167, uma diferença de 75%.
Essas informações, apesar de inconclusivas, sugerem que incêndios cometidos em favelas ou comunidades pobres podem ser provocados por atos criminosos, devido à especulação imobiliária. Despejo nas favelas, muitas vezes, é feito com fogo.