Ação solidária do Sindipetro-PE/PB na Zona Oeste do Recife vem ajudando centendas de famílias, fornecendo botijões de gás para o preparo das refeições que alimentam a população em situação de risco
[Da imprensa do Sindipetro-PE/PB |Fotos: Sindipetro e Paloma Luna\MTST]
Na quinta-feira (20), a direção do Sindicato dos Petroleiros de Pernambuco e Paraíba participou da inauguração da Cozinha Solidária do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), no terreno localizado na Vila Santa Luzia, no bairro da Torre (Zona Oeste do Recife). A unidade é a 9ª e mais recente montada pelo MTST, que pretende instalar 26 iniciativas do gênero em todo o Brasil (ainda no primeiro semestre deste ano), com a meta de produzir e distribuir 32 mil refeições por mês. Na capital pernambucana, o Sindipetro será uma das organizações a apoiar o projeto e irá fornecer mensalmente 15 botijões de gás de cozinha para auxiliar no preparo dos alimentos.
A ocupação foi instalada no antigo Núcleo de Triagem de Recicláveis (pertencente à Prefeitura do Recife) e ocorreu na noite da última segunda-feira (17), com o objetivo de construir uma cozinha solidária para o combate à fome de forma gratuita. O terreno em questão estava abandonado há mais de dez anos, deixando de cumprir qualquer função social – ferindo o artigo 182 da Constituição Federal de 1988 e as atribuições de uso do espaço urbano preconizadas pela Lei Municipal Nº 18.770/2020 que institui o novo plano diretor da cidade do Recife.
Esta foi a primeira Cozinha Solidária montada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto no estado de Pernambuco. Em operação desde a terça-feira (18), a Cozinha Solidária distribuiu, nos três primeiros dias, mais de 600 refeições, sendo elas almoço e jantar, segundo informações da assessoria de comunicação do movimento. Ao todo, 60 pessoas têm atuado no local, em parceria com o Coletivo Pão e Tinta, Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Comércio Informal do Recife (SINTRACI), Federação Única dos Petroleiros (FUP), Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Estado de Pernambuco (FETAPE), além das ONGs FASE e CEPAS.
Tal iniciativa ocorre em um momento crucial para a população brasileira, quando seis em cada 10 famílias enfrentam algum grau de insegurança alimentar, que é a falta de disponibilidade e/ou acesso aos alimentos. Segundo estudo Coordenado pelo Grupo de Pesquisa Food For Justice (Alimento para Justiça) – da Universidade Livre de Berlim, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade de Brasília (UnB) – 59,4% dos domicílios do país apresentaram algum grau de insegurança alimentar entre os meses de agosto e dezembro de 2020. Em dados mais gerais, este número corresponde a aproximadamente 125,9 milhões de pessoas. Dentro deste grupo, 44% reduziram significativamente o consumo de carne e 41% de frutas.
De acordo com Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), nos últimos meses de 2020, mais de 19 milhões de brasileiros e brasileiras já enfrentavam a fome.
Como indica o estudo do Food For Justice, entre as regiões brasileiras, é no Nordeste onde a situação é mais alarmante. Aqui, 73,1% dos domicílios registraram situação de insegurança alimentar. A região Norte aparece logo abaixo, com 67,7%, seguida pelo Centro-Oeste (54,6%), Sudeste (53,5%) e por fim, pelos estados do Sul (51,6%).
“A fome e a insegurança alimentar estão, cada vez mais, se tornando o drama de muitas famílias no Brasil, e com a pandemia ficou ainda pior”, diz Diego Liberalino, Secretário Adjunto de Comunicação do Sindipetro PEPB. “Nesse cenário a solidariedade tem sido cada vez mais necessária. A Cozinha Solidária de Santa Luzia, em Recife, assim como muitas iniciativas em todo país, tem garantido comida no prato daqueles que têm fome”.
“Além da solidariedade e do combate à fome”, continua o dirigente sindical, “o sindicato aproveita essas iniciativas para denunciar o abuso nos preços dos combustíveis, principalmente do gás de cozinha; é possível ter combustível a preço justo”, conclui.
De fato, os aumentos no valor do gás liquefeito de petróleo (GLP) em muito contribuíram para o crescimento da insegurança alimentar. Desde 2020, o produto sofreu 16 aumentos sob a gestão de Roberto Castello Branco na Petrobrás, em decorrência da política de Paridade de Preços de Importação (PPI), que atrela os combustíveis e derivados brasileiros ao mercado internacional, deixando-os à mercê das variações cambiais e do barril de petróleo (que é avaliado em dólar).
Com a desvalorização do Real e a alta nos preços dos combustíveis, os alimentos que chegam às gôndolas dos supermercados acabam também sendo impactados, uma vez que a principal modal de transporte de mercadorias e produtos agrícolas no país se dá através da malha rodoviária. Assim, as variações nos preços do Diesel acabam impactando toda a cadeia logística nacional e quem mais sente esse impacto final é a população.
“Estamos à disposição para apoiar causas como essa”, diz Rogério Almeida, Coordenador Geral do Sindipetro, “que visam ajudar à população mais carente neste momento crítico que a gente vive”. A fim de contribuir com os trabalhos sociais desenvolvidos pela Cozinha Solidária do MTST, o sindicato irá fornecer 15 botijões de gás por mês, o que irá possibilitar o preparo dos alimentos de maneira segura no espaço.