Petroleiras querem comissões paritárias para casos de assédio

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A criação de comissões paritárias, formadas por trabalhadores e representantes da empresa, para tratar de denúncias referentes a assédio moral e sexual foi uma das principais propostas apresentadas no 3º Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras, que terminou ontem (14.05), em Campinas. As petroleiras definiram algumas prioridades, que serão encaminhadas para discussão no Confup deste ano.

Os casos de assedio às mulheres, segundo as petroleiras, são frequentes no Sistema Petrobrás e ocorrem, principalmente, nas plataformas. “Nossas companheiras, técnicas de operação e manutenção, que trabalham nas plataformas, sofrem muito assédio moral e sexual”, afirmou a petroleira do Sindipetro-NF, Conceição Maria.

O grande problema é que as denúncias são investigadas hoje por comissões formadas exclusivamente por representantes da empresa. E muitas vezes o responsável pelo assédio é integrante da comissão. Para que a apuração ocorra de forma transparente e justa, as petroleiras propõem que metade dos membros das comissões seja formada por trabalhadores.

Outra reivindicação do coletivo de mulheres é não sejam descontadas as horas de ausência quando o trabalhador ou trabalhadora tiver que acompanhar parentes e cônjuges em tratamento médico. Outra prioridade, apontada pelas petroleiras, é a ampliação da licença paternidade, de 10 para 30 dias.

Experiência positiva

Com relação ao encontro, a coordenadora do Unificado, Cibele Vieira, afirmou ter ficado muito satisfeita com os resultados e, principalmente, com a inovação. “O diferencial desse encontro foi ter levado o coletivo de mulheres para a base, para falar com os trabalhadores da Replan. Nosso intuito, com essa ação, foi mostrar que o coletivo não é fictício, ele existe de verdade e é atuante. Também esperamos, com isso, conseguir iniciar um processo de aproximação com as mulheres da refinaria”, destacou.

Para a coordenadora do Coletivo de Mulheres da FUP, Anacélie Azevedo, a experiência foi válida. “Foi muito positivo iniciarmos o Encontro Nacional de Mulheres Petroleiras de forma itinerante e, principalmente, poder falar aos trabalhadores, na frente da refinaria, sobre a condição das mulheres e nossa luta. Valeu!”, concluiu.

Turbante retrata a história de luta da africana

A Oficina de Turbantes agitou a manhã do último dia do Encontro de Mulheres. A petroleira Conceição Maria fez uma palestra sobre “A Invisibilidade da Mulher Negra Brasileira” e contou um pouco da condição e do tratamento recebido pelas negras africanas quando chegaram ao Brasil, na era da colonização, até os dias atuais. “Quando os africanos chegavam ao Brasil para o trabalho escravo só os homens eram cadastrados. Além disso, as mulheres eram abusadas sexualmente pelos marinheiros, durante a viagem. E depois passaram a ser abusadas pelo senhor do engenho”, relatou.

Ela contou ainda que o turbante, tecido usado na cabeça pelas africanas, tem um forte simbolismo e retrata a força, história de luta, resistência e identidade desse povo. “Os africanos não eram só descendentes de escravos. Muitos eram reis, rainhas e guerreiros, que foram tirados de seus continente e escravizados”, afirmou.

Segundo ela, a amarração na cabeça é uma marca forte das africanas. “O povo africano contempla a cabeça e considera que é o centro da inteligência. Por isso, as mulheres usam tranças e adornos para enfeitar essa parte tão importante do corpo”, destacou.

Terminada a aula de história, que entreteve toda a plateia, a petroleira Rosângela Maria, do Sindipetro-BA, ensinou as mulheres a usar o turbante e a fazer a amarração do tecido na cabeça. A aula empolgou até mesmo os diretores do Unificado, Auzélio Alves e Marcelo Garlipp, que acompanharam atentamente as explicações. “Acho muito bonita essa cultura e o turbante, além de enfeitar a mulher, tem um significado muito especial. Tenho três mulheres em casa e vou ensiná-las a usar o turbante”, comentou Auzélio.

As mulheres adoraram a oficina e todas elas terminaram a aula ainda mais bonitas, de cabeça enfeitada com diferentes amarrações de tecidos coloridos.

Mulheres do MAB bordam a resistência

No encerramento do Encontro de Petroleiras, a coordenadora do Unificado, Cibele Vieira, leu a carta escrita pelas mulheres do MAB (Movimento Atingido por Barragens), que relata as dificuldades vividas por essas pessoas que moram às margens de rios ou em locais onde já se constrói (ou se planeja construir) barragem.

Elas contam que as famílias são obrigadas a sair de suas casas e, muitas delas, não recebem indenização ou são reassentadas. Segundo a carta, “no Brasil, milhares de pessoas já foram atingidas por barragens e 70% não foram contempladas com nenhuma forma de reparação”.

Para denunciar essa situação e fortalecer a organização do movimento, as mulheres do MAB estão usando uma técnica chamada arpillera (um tipo de bordado sobre juta criado no Chile e que ganhou dimensão política durante a ditadura militar no país), para retratar cenas do cotidiano e denunciar a repressão, assim como fizeram as mulheres chilenas.

“O MAB partiu dessa experiência histórica para realizar inúmeras oficinas, envolvendo centenas de mulheres que estão bordando as diversas formas de violências que sofremos. A partir desse relato, o movimento vai produzir o documentário ‘Arpilleras: bordando a resistência’. A ideia do filme é costurar uma arpillera coletiva de norte a sul, na qual uma mulher de cada região do Brasil vai narrar o impacto das barragens em suas vidas”, relata a carta.

As mulheres do MAB informam que o documentário está aberto para financiamento coletivo no Catarse e pedem a ajuda dos sindicatos e da população em geral na realização desse projeto.
As contribuições podem ser feitas pelos sites:

www.catarse.me/arpilleras

www.facebook.com/arpilleras

www.arpilleras.wix.com/ofilme

Fonte: Sindipetro Unificado de São Paulo