Por Gustavo Marsaioli, diretor do Sindipetro Unificado-SP e coordenador da Regional Campinas
Dia desses encontrei com um companheiro petroleiro, em Campinas. Ele me perguntou se a Petrobrás tinha risco de falir e comentou que não aguentava mais ouvir parentes e amigos acusarem a empresa de corrupta, falida e ineficiente. “Poxa, nós continuamos fazendo o nosso trabalho como sempre fizemos”, indagou.
O fato é que nós convivemos, diariamente, com a comunicação interna da empresa nos falando sobre os recordes de produção rotineiramente superados e a alta eficiência de nossas unidades em padrões internacionais. Isso se confronta com o silêncio da comunicação corporativa frente as avalanches de denúncias da grande mídia.
Mas vamos analisar alguns pontos:
A linha mais conservadora e a direita pregam a privatização como solução para a corrupção e o aumento da eficiência da empresa. Ora, a corrupção se deu justamente entre o público e o privado. O privado que, aliás, bancou Paulo Roberto da Costa desde os meados dos anos 90, garantindo a ele cargos de alta gerência e passando intocado pelos governos FHC e PT, bancado pelo PP de Maluf e o PMDB de Jader Barbalho, ambos da base aliada, que, dessa forma, exigem seus Paulo Roberto da “Costa” (pra lá de quente) na Petrobrás e por todos os cantos.
Legalmente, as empresas envolvidas na Lava Jato doaram R$ 50 milhões para 243 deputados e senadores (segundo matéria da Folha de S. Paulo, de 20/11/14), tendo assim sua interlocução garantida com o governo. E elas podem fazer isso. Por ser empresas privadas fazem o que querem com seu dinheiro, claro, dentro dos limites de campanha, que, como sabemos, não são respeitados sistematicamente.
Assim, os donos dessas empresas, que já exercem seu voto individual, ampliam seu poder de escolha na campanha – como se suas propriedades lhe dessem peso de “n” vezes a seu voto, vendendo candidatos na TV como se vende “a margarina da família feliz”.
Se a idoneidade da Petrobrás é questionada, por que o mesmo não acontece à Camargo Correa, Mendes Junior, OAS, Engevix, Iesa, Galvão e Queiroz Galvão? Por que nem ao menos são citados seus proprietários, comparados ao apedrejamento de Graça Foster?
A Petrobrás é a última empresa estatal no ramo industrial que restou após o tsunami liberal dos anos 90 e uma das mais estratégicas. Através do controle do preço dos derivados, o Estado pode controlar a inflação. Imagine quanto o Estado enfraqueceu ao deixar de controlar o preço do aço e de seus derivados ao perder a Vale do Rio Doce, a Cosipa e a CSN, entre tantas outras empresas de diversos ramos.
Privatizar a Petrobrás é tirar o poder do Estado e entregá-lo ao mercado de ações e é reduzir ainda mais o poder de escolha do voto. Qualquer governo que viesse após isso teria que barganhar muito mais com os proprietários privados, regulando economia somente através de câmbio, juros e metas inflacionárias. Isso se a proposta de “autonomia do BC” não fosse uma realidade, ou seja, os donos das empreiteiras sitiaram o estado democrático de direito com os “rabos presos” do financiamento de campanha.
Não só os desvios da Petrobrás devem ser punidos, mas as verbas privadas de campanha também têm que ser proibidas (esse é um dos motivos pelo qual defendemos a reforma política). Assim, essas empresas teriam menor poder sobre a determinação de cargos em qualquer esfera de governo.
Questionar a corrupção é certo. A esquizofrenia, entretanto, está nos questionamentos da viabilidade/necessidade de se construir uma refinaria, como a Abreu e Lima, comprar Pasadena, explorar o Pré-Sal sob controle da Petrobrás ou participar de um empreendimento, como o Porto Mariel, em Cuba, construído pela Odebrecht.
A UFN3 é um exemplo disso tudo. A unidade será a maior fábrica de fertilizantes nitrogenados da América Latina, que reduzirá nossa dependência de fertilizantes importados, colaborando no equilíbrio da balança comercial e reduzindo os custos de produção de alimentos. Isso significa, na prática, o Estado controlando a economia de verdade e não somente apresentando propostas unilaterais, como as de redução do seguro desemprego.
Apoiamos a eleição de Dilma por uma plataforma e ali foi vencida uma batalha. Só que a guerra continua. O governo está em disputa, assim como a Petrobrás. No ano em que comemoramos duas décadas da greve vitoriosa de 95, a história, ao que tudo indica, nos exigirá respostas à mesma altura para aqueles que já utilizaram das mesmas táticas e, graças à luta dos trabalhadores, não tiveram êxito.
Não nos calaremos, nem diante da corrupção, nem da tentativa de golpe ao maior patrimônio do povo brasileiro.