Desde que a Petrobrás anunciou os resultados positivos do primeiro trimestre – decorrentes, principalmente, dos investimentos que recebeu no passado e das mudanças no cenário macroeconômico, como o aumento do preço do barril de petróleo e a desvalorização cambial – a velha mídia vem enaltecendo a gestão privatista da companhia. Não podia ser diferente, dada a conivência que a imprensa brasileira tem com o projeto de desmonte da Petrobrás. O jornal Estado de São Paulo, por exemplo, defende expressamente as medidas da atual administração “voltada para objetivos típicos do mundo empresarial, em busca de eficiência, de geração de caixa, de saúde financeira e de lucros para seus acionistas”, como afirmou no editorial de domingo (15/05).
A Petrobrás que a mídia aplaude está sendo dilapidada em praça pública por uma gestão que só se preocupa em saciar a fome do mercado e dos acionistas, às custas do desenvolvimento nacional e da soberania. As opções imediatistas de Pedro Parente para reduzir em tempo recorde o endividamento da empresa, vendendo ativos sem necessidade e cortando investimentos estratégicos, ao contrário do que pregam as aves de rapina, não são indicadores que apontam para a “recuperação” da Petrobrás.
A melhoria nos resultados financeiros da empresa é decorrente da expansão das receitas, oriundas da onda anterior de ampliação de investimentos e das mudanças macroeconômicas que não estão sob governabilidade dos gestores, como o aumento do preço do barril de petróleo e a desvalorização cambial. Soma-se a isso a interrupção dos impairments, superestimação proposital das perdas contábeis que afetaram de forma expressiva os resultados financeiros dos últimos anos, criando a falsa ideia de que a Petrobrás estava imersa em uma crise financeira estrutural.
“Essa estratégia, na verdade, foi o instrumento contábil que deu legitimidade à desenfreada venda de ativos como a única alternativa possível para resolver os problemas financeiros. Uma falácia contábil”, destaca estudo recente do Grupo da FUP de Estudos Estratégicos e Propostas para o Setor de Petróleo e Energia (GEEP).
“A ampliação de investimentos feita pela Petrobrás no período anterior foi tão acertada que seus frutos podem ser colhidos ainda hoje, daí a importância do fortalecimento da natureza pública e estratégica da estatal contra as defesas do Estado mínimo e de empresa enxuta, como vem sendo feito pela grande imprensa”, alerta William Nozaki, um dos economistas do GEEP.
A visão imediatista e focada no mercado financeiro com que Pedro Parente vem conduzindo os negócios da Petrobrás está comprometendo a empresa a médio e a longo prazos, com perdas de receitas futuras, decorrentes dos desinvestimentos e vendas de ativos, e redução do papel da companhia no projeto de desenvolvimento econômico e industrial do país.
A Petrobrás já está se tornando uma empresa voltada para a exportação de petróleo, em detrimento da função estratégica que sempre teve na economia nacional. Os ganhos imediatos obtidos com o aumento das exportações e a melhora nos preços internacionais do petróleo tendem a ter um efeito colateral. A empresa aumentou em 72% suas exportações, enviando para fora do país cerca de 782 mil barris de óleo por dia, o que já equivale a um terço da sua produção. Um volume que está acima até mesmo de alguns países da OPEP.
“Com isso, a produção brasileira começa a afetar, marginalmente, o preço mundial do petróleo. O que poderia parecer um acerto empresarial de curto prazo, pode significar um erro setorial e estratégico de longo prazo, já que a ampliação da oferta brasileira pode contribuir para a desaceleração do aumento internacional do preço do barril. Caminhamos na contramão dos esforços geoeconômicos e geopolíticos da Rússia e de alguns países da própria OPEP”, alertam os economistas que assessoram a FUP.
Isso significa que os resultados da Petrobrás passam a depender cada vez mais das variações da taxa de câmbio e dos preços internacionais do petróleo. Uma mudança drástica no perfil da empresa, cuja exposição às flutuações internacionais poderá causar impactos graves sobre o mercado interno, afetando os consumidores, comprometendo o abastecimento do país e ampliando os riscos da “doença holandesa”.
Nunca foi tão necessário resgatar o papel estratégico da Petrobrás de empresa pública, protagonista de políticas de desenvolvimento industrial, setorial e tecnológicas. Só assim garantiremos que os recursos gerados pelo petróleo sejam de fato investidos em benefício do nosso país e não dos grupos econômicos que financiaram o golpe, sob a batuta da mídia.
Federação Única dos Petroleiros