No dia 27/02 o senador José Serra deu uma entrevista “entreguista” onde ele afirma que a Petrobrás deveria se desfazer de vários de seus negócios. Entre eles, citou a questão dos fertilizantes (chamado por ele de forma simplória como “adubos”) como um negócio que a Petrobras deveria se desfazer.
O senador foi extremamente infeliz em sua rasa e simplista análise, seja na questão dos fertilizantes, como nas demais considerações entreguistas (ver a análise de Fernando Brito no Tijolaço : http://tijolaco.com.br/blog/?
O Brasil é um dos poucos países com capacidade de expansão em relação a plantio e desenvolvimento do solo. O país é destaque no fornecimento de commodities e isto se deve à recente expansão das fronteiras agrícolas que foram direcionadas ao interior do país. Áreas antes consideradas incapazes de uma boa produção agrícola se tornaram as principais regiões produtoras, tudo isso devido ao tratamento adequado do solo, resultado devido ao uso correto de fertilizantes. A produção do setor agrícola contribui significativamente ao valor do produto interno bruto do país. O setor agrícola é um dos setores mais importantes da economia brasileira, devido a suas indiscutíveis contribuições na geração de emprego e renda na economia. Segundo dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o PIB agrícola representa, em 2013, 22,8% do PIB nacional. Embora esse desempenho seja relevante, estudos apontam que o setor apresenta falhas a respeito de custo e oferta de insumos que são, em geral, importados.
Atualmente, o país é dependente da importação de fertilizantes, os países que mais exportam para o Brasil são a Rússia, China, Canadá e Estados Unidos América. De acordo com dados Associação Nacional da difusão de Adubos (ANDA, 2010) o Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo, segundo dados de 2010, consumindo 5,9% do total, ficando atrás de China que consumiu 29,8%, Índia consumo 16,3% e Estados Unidos da América (EUA) 11,8% de consumo.
Na tentativa de reduzir a dependência externa, o Ministério da Agricultura implementou o Plano Nacional de Fertilizantes, o qual visa reduzir até 2016 a dependência das importações de fósforo de 49% para 12% e de nitrogênio de 78% para 33%. Em relação ao potássio, por falta de jazidas viáveis, a dependência deve continuar acima de 80%. O Ministério da Fazenda (2011) relatou quanto ao minério de potássio, a produção ocorre em poucos países, onde reservas economicamente viáveis são encontradas, como no Canadá, Rússia e Bielorrússia. Juntos, esses três países são responsáveis por mais de 60% da produção e cerca de 70% das exportações mundiais do mineral. No mundo, os maiores importadores são: China, responsável por 14% e Índia, responsável por 8% das importações.
Feita esta introdução, é preciso lembrar o senador que em 1.993, no início da sanha privatista de seus pares (FHC era ministro da Fazenda), uma unidade produtora de fertilizantes nitrogenados em Araucária foi privatizada, a Ultrafertil, localizada na cidade de Araucária-PR. Seus compradores, um grupo composto por Bunge e Cargil, pagou um preço absurdamente baixo (tanto quem com o lucro do 1º ano pagou seu investimento) e ficou com esta unidade por 20 anos.
Nestes 20 anos, os proprietários privados, nada investiram na unidade e no aumento de produção de fertilizantes. Ficamos reféns das importações e dos altos custos dos fertilizantes. Os únicos investimentos feitos na área de fertilizantes nitrogenados foram feitos pela Petrobras, através da modernização de suas unidades produtoras da FAFEN-BA e FAFEN-SE. E pela construção da FAFEN-MS (em andamento), na cidade de Três Lagoas-MS.
E mais, o acerto histórico em trazer de volta para sua carteira a antiga Ultrafertil, hoje FAFEN-PR, que desde 2013 tem recebido investimentos em manutenção que nunca tinham sido feitos em 20 anos de iniciativa privada.
Pois bem senador José Serra, antes de falar besteiras, procure se informar!
Fertilizantes são estratégicos para nossa soberania alimentar e para o aumento de nosso PIB.
Gerson Luiz Castellano
Coordenador Geral do Sindiquímica-PR
Diretor de Formação Política e Sindical da FUP