Cerca de 20 mil operários que trabalham na construção da Usina Hidrelétrica de Jirau, em Porto Velho (RO) iniciaram uma greve na manhã desta segunda-feira (12) por melhores condições.
A mobilização começou na última sexta-feira (9), quando funcionários da Enesa Engenharia, contratada pelo Consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR) para montagem dos geradores na obra, resolveram suspender as atividades por conta das precárias condições no canteiro administrado pela empresa.
“A estrutura do alojamento não dá conta da quantidade de operários. Falta desde banheiro até área de lazer, algo muito grave se levarmos em conta que os trabalhadores estão em uma área remota dentro da floresta amazônica”, comentou Cláudio Gomes, presidente da Confederação dos Trabalhadores na Indústria da Construção e Madeira (Conticom).
O dirigente comenta ainda que acordos como o reajuste do vale alimentação não foram cumpridos.
Na manhã desta segunda, a paralisação tomou conta de todo o local e acabou por antecipar as reivindicações da campanha salarial. A categoria, cuja data-base é em maio, cobra o reajuste de 20% dos salários, o aumento do vale-alimentação para R$ 510 e o pagamento de 100% de todas as horas extras. Atualmente, o valor equivale a 70% nos dias normais e 100% em domingos e feriados.
Segundo Enelcio Pereira, diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Rondônia, o rumo da mobilização deve ser definido em uma assembleia marcada para às 7 horas desta terça (13).
Pacto para todas
O dirigente afirmou ainda que o canal de diálogo conquistado pelos operários não se extendeu à Enesa. “Desde os problemas no ano pasado, conseguimos estabelecer uma conversa com a Camargo para apontar os problemas que consideramos relevantes. Isso impediu que novas revoltas acontecessem. Mas, esse mesmo processo não acontece com a Enesa”, criticou.
Em maio do ano passado, as péssimas condições em Jirau e na construção da hidrelétrica de Santo Antônio, também em Rondônia, culminaram em conflitos e em uma greve histórica que durou 28 dias.
Por conta da pressão da CUT, no último dia 1.º, após intensas negociações, trabalhadores, governo e empresários assinaram o Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Indústria da Construção. O documento facultativo estabelece padrões mínimos para questões como salário, moradia, segurança e saúde no trabalho, jornada, higiene e alimentação.
O problema é que grandes empresas como a Camargo Correa, uma das que compõem o grupo ESBR, aderiram, mas menores, como a Enesa, ainda não. “Esse será um dos principais pontos da nossa pauta. Vamos pedir a adesão ao pacto da Enesa e de todas as outras contratadas para acabar com a precarização. Além de isso também permitir a eleição de representantes por local de trabalho, conforme prevê o acordo”, comentou Gomes.
Vale lembrar que o consórcio é comandado pela multinacional francesa Suez e, além da própria Camargo, conta com a Eletrosul e a Chesf como sócias minoritárias. De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), são previstos R$ 8,7 bilhões na construção de Jirau. Desse montante, R$ 7,2 bilhões, 63% do custo total, são compostos por recursos públicos provenientes do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).