Está em curso a pesquisa de ambiência de 2011 do sistema Petrobrás: para “gerentes novatos”, um inconveniente dedo-duro; para “gerentes experientes”, um inofensivo dedo-duro. Para uns trabalhadores, uma esperança de melhora por meio de medidas corretivas; para outros, drasticamente equivocados, a única forma de expressão crítica. Para muitos, um mecanismo de comunicação carente de credibilidade devido a praticamente nenhuma aplicação. Tão proveitoso quanto arrazoar sobre a subjetividade da questão, expressa nas motivações e opiniões demonstradas dia-dia, é verificar objetivamente em que consiste a pesquisa. O que é? A que se propõe? Funciona efetivamente? Em tese, a pesquisa de ambiência é uma ferramenta de comunicação institucional interna, coordenada pelo RH, e que visa auferir da força de trabalho, informações na forma de sentimentos escritos, a fim de realizar adequações administrativas, onde os indicativos apontarem as necessidades. Busca mensurar os níveis de comprometimento e satisfação dos empregados. Ambiciona produzir sensação de gestão aberta, participativa, aquela conversa da “Petrobras construída por você”, e coisa e tal…
Poderia funcionar sim, dentro de seu limitado propósito: conferir maior solidez à produtividade, com consequente maximização do lucro, através da melhoria das condições e relações de trabalho, porém, sem alterar a estrutura de opressão. Dispensar melhor tratamento para obter melhor produção. Pura autopreservação. Afinal, a lógica do capital é essa. A busca incessante pelo lucro, impulsionando a desigualdade e a dominação social. É por isso que todo e qualquer benefício advindo do capital, só encontra explicações em duas possibilidades: ou é “arrancado” pela luta dos trabalhadores, ou é concedido como estratégia de autopreservação. Na verdade, advém quase sempre, por ambas as razões. Nada é concedido pelo capital de bom grado. Nada é desinteressado. Obviamente, a Petrobras age da mesma forma com o trabalhador, opressiva e desumana, representante do capital, por excelência. A opressão na companhia é sistêmica, e o trabalhador não pode se enganar. A dura e degradante relação de trabalho e a política de saúde e segurança que flagela o trabalhador, é maior ou menor grau, por ação ou omissão, referendada por toda a gestão da companhia; e as exceções, que constituem alguns indivíduos e casos pontuais, desaparecem inócuas, absorvidas pelo vil sistema.
Mas, como em todo conglomerado social complexo, o corpo gerencial da Petrobras também tem suas especificidades e paradoxos. Existem os ruins e os piores. E entre os piores estão os gerentes locais das unidades de produção, nas frentes operacionais. Incrivelmente arrogantes e autoritários, utilizam-se dos piores procederes na sua administração cotidiana. Falta de transparência, favorecimentos, perseguições, desrespeito, truculência, assédio, descaso e insensibilidade a problemas alheios, decisões arbitrárias, distorções, omissão, descumprimento de normas da própria companhia, um manancial quase infinito de maldades. Tudo para a manutenção de seus interesses acima de quaisquer outros. Mesmo os interesses da companhia, só são levados em conta, quando se coadunam aos deles. Administram as unidades operacionais como pequenos feudos, semeando discriminação entre os trabalhadores, ao que granjeiam algum sucesso, arregimentando vassalos e lambe-botas. Pensam que são donos de tudo, e que as unidades de produção são quintais de suas casas. O perfil encontra abrigo nas cadeiras de supervisores, coordenadores, geplats, geops e gerentes de ativo, e, praticamente não tem freio. Nas vezes em que vi suas “expectativas opressivas” refreadas, foram pela resistência do trabalhador. A companhia, se é que tenta, não consegue.
Há muito, o movimento sindical vem advertindo a companhia sobre o comportamento inaceitável das gerências. Mas, a capitulação do RH e do SMS ante as “gerências de produção”, só aumenta, e alguns bons procedimentos escritos dentro da companhia, conquistados pelos trabalhadores com luta, não saem do papel, transformam-se em verdadeiro faz-de-conta nas mãos dos gerentecos. Mesmo o fórum de SMS, que a companhia foi forçada recentemente pela organização dos trabalhadores, a estabelecer com a FUP, pode virar uma grande embromação. Basta que os trabalhadores e seus representantes não estejam atentos. E, se a empresa fizer sua obrigação de implementar as propostas que por ventura sejam construídas e pactuadas no fórum, ainda esbarrará na política feudal das gerências locais. É assim com tudo dentro da Petrobras: saúde e segurança, registro dos acidentes, transferências, horas-extras, GDP e etc. E a bola da vez é a pesquisa de ambiência.
Se as respostas dos trabalhadores às indagações contidas na pesquisa motivassem verdadeiras transformações, a Petrobras já teria melhorado há muito. E então, a pesquisa de ambiência, mesmo sendo por concepção um instrumento de autopreservação, poderia ser também uma ferramenta de comunicação, entre a força de trabalho e a companhia, que atendesse a algumas questões. Mas, ao que parece, não se presta nem a isso. Por mais esta razão, o trabalhador não pode duvidar de que grandes melhoras só virão com luta. O resto ou é muito pouco, ou pura balela. O avanço contínuo da “luta do trabalhador” reside no fortalecimento da base, e na aproximação entre categoria e o sindicato. Enfim, trabalhador só pode contar com trabalhador. Já a Petrobras, deve pensar com urgência nos propósitos e na efetividade dessa ferramenta. Talvez, tenha ainda uma última chance de por termo a “fanfarronice autônoma” das gerências locais, antes que a ferramenta vire mais uma das corriqueiras gabolices da empresa. Talvez…
Afinal, como cantarolava um genial e desajustado poeta: “O tempo não para.”