Perspectivas do desabastecimento do GLP no Sul e no Nordeste

Na última quarta-feira (20/06), uma notícia, pouco divulgada no cenário nacional, mas que chamou a atenção no Nordeste, foi o desabastecimento de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) no Rio Grande do Norte. Segundo o noticiário do Tribunal do Norte, com informações Singás/RN, “95% dos revendedores estão sem gás”. De acordo com o Singás/RN, desde a greve dos caminhoneiros, “a quantidade de gás que chega é insuficiente para as revendedoras”. Outros estados no Nordeste, como Paraíba e Pernambuco, também tem sofrido com a ausência de GLP: 

Excluindo a região Centro-Oeste, onde não há estrutura própria de produção de GLP, a região Nordeste e Sul conta com um conjunto de refinarias capazes de atender o mercado consumidor dessas regiões. Considerando as o mercado consumidor e as quatro maiores refinarias de ambas as regiões (Sul e Nordeste), a REFAP, a REPAR, a RNEST e a RLAM, nota-se uma progressiva queda da produção de GLP, por um lado, e um crescimento do consumo no terceiro trimestre de cada ano.

GRÁFICO –  Produção e consumo de GLP no Nordeste e Sul do país

Fonte: ANP

Como mostra o gráfico acima (ver as barras vermelhas), no terceiro trimestre de cada ano, o consumo de GLP sempre apresenta um crescimento entre 5% e 10% em relação ao trimestre anterior. Para o suprimento dessa demanda, a suposição seria de que a Petrobras ampliaria sua produção de GLP. No entanto, para essas regiões, observa-se o fenômeno oposto, ou seja, independente das flutuações da demanda, a Petrobras tem reduzido progressivamente a produção de GLP.

A produção que era 1,1 milhão no 1tri-2016, já chegou a 945 mil no 3tri-2017 e agora, no 1tri-2018, a 862 mil barris equivalentes de petróleo (bep) por mês. Com isso, a diferença entre a produção e o consumo que foi de 833 mil bep de GLP no 1tri-2016, ja bateu 1,2 milhão no 3tri-2017. E essa diferença somente não aumentou em 2018 porque a demanda por GLP caiu e não por um aumento da produção.

Portanto, pode-se supor que, mantendo a curva de produção com uma trajetória declinante, a diferença entre a demanda e a produção de GLP nessas regiões deve aumentar ainda mais no próximo trimestre, superando a casa dos 1,2 milhão de bep observada no 3tri-2017. Ou seja, a atual situação de desabastecimento observada em estados como Rio Grande do Norte, Recife, Paraiba e Santa Catarina tendem a se agravar no curto prazo, caso a Petrobras não retome a sua produção nessas localidades.

Ausência do GLP também atinge o Mato Grosso do Sul

Desde o fim de maio, o Sindigás de Mato Grosso do Sul (MS) atenta para o desabastecimento de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), ou gás de cozinha. O desabastecimento, antes devido à greve dos caminhoneiros, agora se torna uma crise de falta de matéria-prima utilizada na sua produção e provocada pela Petrobras, segundo distribuidoras da região. A Petrobras, porém, negou a falta de GLP e afirmou que as distribuidoras ainda têm estoque.

No MS, a demanda por GLP é principalmente atendida pelas revendas da estatal no Rio de Janeiro e em São Paulo. As revendas, por sua vez, são atendidas pelas refinarias presentes também no Sul do país. Como divulgado pelo INEEP, esta última região conta com um conjunto de refinarias capazes de atender o mercado consumidor tanta dessa região como das regiões subjacentes. Atualmente, foi encontrado em análise do instituto uma progressiva queda da produção de GLP, por um lado, e um crescimento em certos períodos do ano, mais especificamente o terceiro trimestre.

O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Natural Liquefeito (Sindigás) divulgou em um documento o balanço regional de oferta e demanda do produto no Brasil. A constatação a que se chegou foi que “quando se analisa regionalmente o balanço de oferta e demanda, temos duas regiões as quais merecem atenção especial, quais sejam, Nordeste e Sul. Ambas a regiões seguirão deficitárias podendo requerer investimentos em infraestrutura para recebimento de GLP de outras regiões ou mesmo de importação”.

Como o terceiro trimestre se aproxima, assim como a necessidade de importação de GLP devido à queda da produção da Petrobras diante do aumento do consumo, não é de se espantar que a crise continue mesmo depois do fim da paralização dos caminhoneiros. Não será, portanto, só o MS que irá sofrer: sofrerão Nordeste, Sul, e quiçá a região Sudeste.

A diminuição da produção da Petrobras abre um espaço adicional para as importadoras, uma vez que não há uma produção interna privada capaz de suprir essa fatia de mercado atualmente. Se, entre 2010 e 2015, as importações significaram cerca de 26% das vendas de GLP no Brasil, em 2017, esse percentual já era de 37%. Com a redução cada vez maior da produção da Petrobras, o volume de importações de GLP pode crescer ainda mais neste ano. Ou seja, caminha-se para uma dependência das importações no mercado de GLP.

Via Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocomabustíveis Zé Eduardo Dutra (INEEP)